22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

IDÉIA 526 IDÉIA<br />

verda<strong>de</strong>iro no que se refere ao bem, assim<br />

como a todas as outras coisas, <strong>de</strong> tal modo que,<br />

se o bem não tivesse a essência necessária do<br />

bem, não teria ser e não seria uno. O mesmo<br />

po<strong>de</strong> ser dito sobre todas as outras coisas, que<br />

são o que são com base em sua essência necessária<br />

ou não são nada; portanto, se a sua<br />

essência não é, nada <strong>de</strong>las é" (Ibid., VII, 6,<br />

1031 b 6). Em outros termos, o status ontológico<br />

das I., se é que possuem algum, é o <strong>de</strong><br />

todas as outras coisas: são reais porque são<br />

substâncias, não porque são unida<strong>de</strong>s ou valores.<br />

Portanto, as I., como formas ou espécies,<br />

são certamente reais, segundo Aristóteles,<br />

mas são reais apenas na medida em que as formas<br />

ou espécies são a substância das coisas<br />

compostas (v. FORMA). A teoria da substância<br />

(v.) possibilitou a Aristóteles retirar das duas<br />

<strong>de</strong>terminações, unida<strong>de</strong> e valor, o primado<br />

ontológico que Platão lhes atribuíra nas primeiras<br />

fases <strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong>. A teoria das I. não<br />

tem mais valida<strong>de</strong> para Aristóteles, no sentido<br />

<strong>de</strong> as idéias não constituírem substâncias privilegiadas<br />

e muito menos exemplares ou mo<strong>de</strong>los<br />

das coisas. Contudo, atribui à palavra I. o<br />

mesmo significado que Platão lhe <strong>de</strong>ra: unida<strong>de</strong><br />

que é ao mesmo tempo perfeição ou valor.<br />

Em seguida, ao longo <strong>de</strong> sua história, acabam<br />

prevalecendo as <strong>de</strong>terminações míticas ou<br />

popularescas que esse termo recebera na <strong>filosofia</strong><br />

platônica: mo<strong>de</strong>lo, arquétipo, perfeição,<br />

etc. Na Escolástica judaica e neoplatônica, as I.<br />

são consi<strong>de</strong>radas objetos da Inteligência divina<br />

e i<strong>de</strong>ntificadas com essa Inteligência. Fílon já as<br />

consi<strong>de</strong>rava como "potências incorpóreas", das<br />

quais Deus se serve para formar a matéria (De<br />

sacrif, II, 126). E Plotino as i<strong>de</strong>ntificava com a<br />

própria Inteligência, mais precisamente com a<br />

inteligência "em estado <strong>de</strong> repouso, unida<strong>de</strong> e<br />

calma, que é distinta mas não separada da Inteligência<br />

que contempla e pensa" (Enn., III, 9,<br />

1). Neste sentido a I. é o objeto "interno" da<br />

inteligência divina, e como a inteligência não<br />

se distingue do ser e do ato do ser, a I., a forma<br />

do ser e o ato do ser são a mesma coisa (Ibid.,<br />

V, 9, 8). Essa doutrina tornou-se lugar-comum<br />

da Patrística e da Escolástica. S. Agostinho reproduziu-a<br />

ao afirmar que o Logos ou Filho<br />

tem em si as I., ou seja, as formas ou razões<br />

imutáveis das coisas, que são eternas, assim<br />

como ele mesmo é eterno, em conformida<strong>de</strong><br />

com tais razões ou formas, são formadas todas<br />

as coisas que nascem e morrem (De diversis<br />

quaest., 83, q. 46). A partir <strong>de</strong> S. Agostinho,<br />

inúmeras vezes os escolásticos repetem essa<br />

doutrina quase nos mesmos termos. Anselmo<br />

consi<strong>de</strong>ra a I. como uma espécie <strong>de</strong> "palavra<br />

interior": Deus exprime-se nas I. como o artífice<br />

em seu conceito, mas essa expressão não é<br />

uma palavra externa, um enunciado; é a coisa<br />

para a qual se volta a acuida<strong>de</strong> da mente criadora<br />

(Monol, 10). S. Tomás dizia: "O termo<br />

grego i<strong>de</strong>a diz-se em latim forma-, por idéia enten<strong>de</strong>m-se<br />

as formas <strong>de</strong> algumas coisas, existentes<br />

fora das próprias coisas. Essa forma<br />

po<strong>de</strong> servir para duas coisas: ou como exemplar<br />

daquilo cuja forma é, ou como princípio<br />

<strong>de</strong> conhecimento e, neste segundo sentido, diz<br />

que a forma das coisas cognoscíveis está no<br />

cognoscente" (S. Th., I, q. 15, a. 1). Ockham,<br />

que nega o caráter universal das I., não nega,<br />

todavia, que as I. existem em Deus, como "as<br />

coisas produziveis por Deus" (In Sent., I, d, 35,<br />

q. 5). O emprego <strong>de</strong>sse conceito continuou<br />

mesmo fora da tradição platônica (NICOLAU DE<br />

CUSA, De coniecturis, II, 14; FICINO, em Parmenid.,<br />

23) O Renascimento repete-o sem variantes:<br />

p. ex., Bacon (Nov. org., I, 23). E quando<br />

o segundo significado <strong>de</strong>sse termo já havia<br />

sido introduzido por Descares e difundido por<br />

cartesianos e empiristas, Kant restituiu-lhe seu<br />

significado platônico, enten<strong>de</strong>ndo por I. uma<br />

perfeição não real, "que supera a possibilida<strong>de</strong><br />

da experiência". "As I." — diz Kant — "são<br />

conceitos racionais dos quais não po<strong>de</strong> existir<br />

na experiência nenhum objeto a<strong>de</strong>quado. Não<br />

são intuições (como espaço e tempo) nem sentimentos<br />

(que pertencem à sensibilida<strong>de</strong>),<br />

mas conceitos <strong>de</strong> perfeições, dos quais é sempre<br />

possível aproximar-se, mas que nunca se<br />

alcança completamente" (Antr, § 4.3). As três I.<br />

que Kant enumera como "objetos necessários<br />

da razão" (alma, mundo e Deus) são <strong>de</strong>sprovidas<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> exatamente porque estão<br />

além da experiência possível; no entanto, são<br />

regras para esten<strong>de</strong>r e unificar a experiência.<br />

Assim, para Kant, a I. conserva <strong>de</strong> alguma<br />

forma o caráter regulativo que Platão lhes atribuíra.<br />

Em todo caso, Kant julga "intolerável<br />

ouvir chamar <strong>de</strong> I. algo como, p. ex., a representação<br />

da cor vermelha" (Çrít. R. Pura, Dialética,<br />

seç. I). No i<strong>de</strong>alismo pós-romântico a<br />

noção <strong>de</strong> I. recuperou todo o alcance metafísico<br />

e teológico que já tivera no neoplatonismo<br />

tradicional. Schelling consi<strong>de</strong>ra as I.,<br />

por um lado, como as <strong>de</strong>terminações da razão<br />

<strong>de</strong> Deus e, por outro, como as formas da objetivação<br />

corpórea: em outros termos, são o pon-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!