22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CRITÉRIO 223 CRITICISMO<br />

seja, <strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong> nos valores e nos modos<br />

<strong>de</strong> vida. A crença <strong>de</strong> que essa uniformida<strong>de</strong><br />

existiu e <strong>de</strong> que <strong>de</strong>verá inevitavelmenbte retornar<br />

é o pressuposto do sucesso alcançado<br />

pela noção <strong>de</strong> C, como se vê num dos textos<br />

em que ela foi analisada com mais brilhantismo,<br />

O esquema das crises (1933), <strong>de</strong> Ortega<br />

y Gasset. Mas o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> uma época orgânica,<br />

em que não haja incerteza nem luta, é, por sua<br />

vez, um mito consolador que serve <strong>de</strong> escape<br />

para as gerações que per<strong>de</strong>ram o sentido <strong>de</strong><br />

segurança, visto que nenhuma época chamada<br />

orgânica, nem mesmo a Ida<strong>de</strong> Média, foi isenta<br />

<strong>de</strong> conflitos políticos e sociais insolúveis, <strong>de</strong><br />

lutas i<strong>de</strong>ológicas, <strong>de</strong> antagonismos filosóficos<br />

e religiosos, que testemunham a fundamental<br />

incerteza ou ambigüida<strong>de</strong> dos valores da época.<br />

Quando, <strong>de</strong> resto, o diagnóstico da C. é<br />

acompanhado pelo anúncio cio inevitável advento<br />

<strong>de</strong> uma época orgânica qualquer, essa<br />

noção revela claramente seu caráter <strong>de</strong> mito<br />

pragmático, i<strong>de</strong>ológico ou político.<br />

CRITÉRIO (gr. Kputípiov; lat. Criterium; in.<br />

Criterion; fr. Critère, ai. Kriterium; it. Critério).<br />

Uma regra para <strong>de</strong>cidir o que é verda<strong>de</strong>iro ou<br />

falso, o que se <strong>de</strong>ve fazer ou não, etc. O problema<br />

<strong>de</strong> um C. capaz <strong>de</strong> dirigir o homem<br />

apresentou-se só no período pós-aristotélico da<br />

<strong>filosofia</strong> grega, quando a <strong>filosofia</strong> assumiu caráter<br />

predominantemente prático. Assim, para<br />

Epicuro a sensação era o C. da verda<strong>de</strong> e o prazer<br />

sensível, o C. do bem (DIÓG. L, X, 31). Para<br />

os estóicos, a representação cataléptica era o C.<br />

da verda<strong>de</strong> (Ibid., VII, 54) e o viver segundo a<br />

natureza era o C. da conduta (Ibid., VII, 87).<br />

Por sua vez, os cépticos, negando a valida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sses C. estabeleceram como seu próprio<br />

C. a a<strong>de</strong>são aos fenômenos e a vida segundo<br />

os costumes, as leis e as instituições tradicionais,<br />

bem como segundo suas próprias afeições<br />

(SEXTO EMPÍRICO, Pirr. hyp., 21-24). Está<br />

claro que toda <strong>filosofia</strong>, ainda quando não elabora<br />

uma doutrina específica a respeito, ten<strong>de</strong><br />

sempre a apresentar ao homem um critério para<br />

dirigir suas opções, especialmente as que têm<br />

importância <strong>de</strong>cisiva em sua vida. Kant usou,<br />

em vez <strong>de</strong> C, a palavra cânon (v.).<br />

CRÍTICA (in. Critique, fr. Critique, ai. Kritik,<br />

it. Critica). Termo introduzido por Kant para<br />

<strong>de</strong>signar o processo através do qual a razão<br />

empreen<strong>de</strong> o conhecimento <strong>de</strong> si: "o tribunal<br />

que garanta a razão em suas pretensões legítimas,<br />

mas con<strong>de</strong>ne as que não têm fundamento".<br />

A C. não é, pois, "a C. dos livros e dos sis-<br />

temas filosóficos, mas a C. da faculda<strong>de</strong> da razão,<br />

em geral, com respeito a todos os conhecimentos<br />

aos quais ela po<strong>de</strong> aspirar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

da experiência"; portanto, também<br />

é "a <strong>de</strong>cisão sobre a possibilida<strong>de</strong> ou impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma metafísica em geral e a <strong>de</strong>terminação<br />

tanto <strong>de</strong> suas fontes quanto <strong>de</strong> seu âmbito<br />

e <strong>de</strong> seus limites" (Crít. R. Pura, Pref. à Xed.).<br />

A tarefa da C, portanto, é ao mesmo tempo<br />

negativa e positiva: negativa enquanto restringe<br />

o uso da razão; positiva porcjue, nesses<br />

limites, a C. garante à razão o uso legítimo <strong>de</strong><br />

seus direitos (Ibid., Pref. à 2- ed.). A C. assim<br />

entendida afigurava-se a Kant como uma das<br />

tarefas <strong>de</strong> sua época ou, como diz ele habitualmente,<br />

da "Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna"; <strong>de</strong> fato, constituía a<br />

aspiração fundamental do Iluminismo, que,<br />

<strong>de</strong>cidido a submeter todas as coisas à C. da razão,<br />

nào se recusava a submeter a própria<br />

razão à C, para <strong>de</strong>terminar seus limites e eliminar<br />

<strong>de</strong> seu âmbito os problemas fictícios (v.<br />

ILUMINISMO). Po<strong>de</strong>-se dizer que quem abriu esse<br />

caminho ao Iluminismo foi um <strong>de</strong> seus maiores<br />

inspiradores, Locke; este, segundo palavras<br />

contidas na Epístola ao leitor, a qual antece<strong>de</strong><br />

o Ensaio sobre o entendimento humano, concebeu<br />

o Ensaio com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "examinar<br />

as capacida<strong>de</strong>s próprias do homem e verificar<br />

quais objetos seu intelecto é capaz ou não <strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar". O Iluminismo adotou esse ponto<br />

<strong>de</strong> vista (v. COISA-F.M-SI). O título que Kant pensara<br />

dar à Crítica da Razão Pura, ou seja, Os limites<br />

da sensibilida<strong>de</strong> e da razão (carta a Marcos<br />

Herz, <strong>de</strong> 7-VI-1771) exprime bem o significado<br />

que ficou ligado à palavra "C". Contra esse significado,<br />

Hegel objetou que "querer conhecer<br />

antes <strong>de</strong> conhecer é absurdo, tanto quanto o é<br />

o pru<strong>de</strong>nte propósito <strong>de</strong> quem quer apren<strong>de</strong>r a<br />

nadar antes <strong>de</strong> se arriscar a entrar na água"<br />

(Ene, § 10). Mas essa objeção é infundada, pois<br />

a C. kantiana não age no vazio nem prece<strong>de</strong> o<br />

conhecimento, mas atua sobre os conhecimentos<br />

<strong>de</strong> que o homem efetivamente dispõe, com<br />

o fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar as condições <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong>.<br />

Não se trata, portanto, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a nadar<br />

fora da água, mas <strong>de</strong> analisar os movimentos<br />

do nado para <strong>de</strong>terminar as possibilida<strong>de</strong>s<br />

efetivas que ele oferece, comparando-as às<br />

outras, fictícias, que levariam ao afogamento.<br />

CRÍTICA, HISTÓRIA. V. ARQUEOLÓGICA,<br />

HISTÓRIA.<br />

CRÍTICA, PSICOLOGIA. V. PSICOLOGIA, B.<br />

CRITICISMO (in. Criticism, fr. Criticisme,<br />

ai. Kritízísmus; it. Criticismó). Doutrina <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!