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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MISTIFICAÇÃO 673 MITO<br />

por Bergson, não se diferencia do panteísmo<br />

comum (v.).<br />

MISTIFICAÇÃO (in. Mystificatkm, fr. Mystificathm;<br />

ai. Mystificatkm; it. Mistificazione).<br />

Interpretação <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> modo obscuro,<br />

falaz ou ten<strong>de</strong>ncioso. Marx, p. ex., dizia: "A<br />

M. que a dialética sofre nas mãos <strong>de</strong> Hegel não<br />

exclui em absoluto que ele tenha sido o primeiro<br />

ii expor cie maneira ampla c consciente<br />

as formas gerais do movimento da dialética"<br />

(Correspondência Marx-Engels; trad. it.. V, p.<br />

28). Segundo Marx, a dialética <strong>de</strong> Hegel era<br />

"mistificacla" porque interpretada do ponto<br />

<strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>alista, e não materialista. De maneira<br />

análoga, chama-se <strong>de</strong> M. o conceito <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> segundo o qual ela coinci<strong>de</strong> com necessida<strong>de</strong>,<br />

o que, implicitamente, nega a liberda<strong>de</strong>,<br />

etc.<br />

MITO (gr. |Uúeoç: lat. Mytbus; in. Mytb; fr.<br />

Mythe-, ai. Mythos). Além da acepção geral <strong>de</strong><br />

"narrativa", na qual essa palavra é usada, p. ex.,<br />

na Poética (I, 1451 b 24) <strong>de</strong> Aristóteles, do ponto<br />

cie vista histórico é possível distinguir três<br />

significados do termo: l' J M. como forma atenuada<br />

<strong>de</strong> intelectualida<strong>de</strong>; 2 U M. como forma<br />

autônoma <strong>de</strong> pensamento ou <strong>de</strong> vicia; 3 Q M.<br />

como instrumento <strong>de</strong> estudo social.<br />

l y Na Antigüida<strong>de</strong> clássica, o M. é consi<strong>de</strong>rado<br />

um produto inferior ou <strong>de</strong>formado da ativida<strong>de</strong><br />

intelectual. A ele era atribuída, no máximo,<br />

"verossimilhança", enquanto a "verda<strong>de</strong>"<br />

pertencia aos produtos genuínos do intelecto.<br />

Esse foi o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Platão e <strong>de</strong> Aristóteles.<br />

Platão contrapõe o M. à verda<strong>de</strong> ou à narrativa<br />

verda<strong>de</strong>ira ( Górg., 523 a), mas ao mesmo<br />

tempo atribui-lhe verossimilhança, o que. em<br />

certos campos, é a única valida<strong>de</strong> a que o discurso<br />

humano po<strong>de</strong> aspirar (Tini., 29 d) e, em<br />

outros, expressa o que <strong>de</strong> melhor e mais verda<strong>de</strong>iro<br />

se po<strong>de</strong> encontrar (Górg., 527 a). Também<br />

para Platão o M. constitui a "via humana<br />

mais curta" para a persuasão; em conjunto, seu<br />

domínio é representado pela zona que fica<br />

além do círculo estrito do pensamento racional,<br />

na qual só é lícito aventurar-se com suposições<br />

verossímeis. Substancialmente, Aristóteles assume<br />

a mesma atitu<strong>de</strong> em relação ao M: este às<br />

vezes é oposto ã verda<strong>de</strong> (Hist. An., VIII, 12,<br />

597 a 7), mas outras vezes é a forma aproximaliva<br />

e imperfeita que a verda<strong>de</strong> assume, quando,<br />

p. ex., explica-se "a razão <strong>de</strong> uma coisa em<br />

forma <strong>de</strong> M." Ubid, VI, 35, 580 a 18). A esse<br />

conceito <strong>de</strong> M. como verda<strong>de</strong> imperfeita ou diminuída<br />

freqüentemente se une a atribuição <strong>de</strong><br />

valida<strong>de</strong> moral ou religiosa ao M. O que o M.<br />

diz — supõe-se — não é <strong>de</strong>monstrável nem<br />

claramente concebível, mas sempre é claro o<br />

seu significado moral ou religioso, ou seja o<br />

que ele ensina sobre a conduta do homem em<br />

relação aos outros homens ou em relação à divinda<strong>de</strong>.<br />

Assim, a respeito dos M. morais expostos<br />

em Górgias, Platão diz: "Talvez estas<br />

coisas pareçam Aí. c/e mulheres velhas c as<br />

consi<strong>de</strong>rareis com <strong>de</strong>sprezo. E não seria <strong>de</strong>scabido<br />

<strong>de</strong>sprezá-las se, com a investigação, pudéssemos<br />

encontrar outras coisas melhores e<br />

mais verda<strong>de</strong>iras. Mas vós também, tu. Pólos e<br />

Górgias, que sois os gregos mais sábios <strong>de</strong> nossos<br />

dias, não conseguis <strong>de</strong>monstrar que convém<br />

viver outra vida que não esta" (Górg., 527<br />

a-b). Analogamente, atribui-se significado religioso<br />

ao M sempre que, com esse nome, são<br />

<strong>de</strong>signadas <strong>de</strong>terminadas crenças, como p. ex.<br />

quando se diz "M. cosmogônico", "M. soteriológico",<br />

ou "M. escatológico", etc. Na linguagem<br />

comum prevalece essa acepção do significado<br />

em sua forma extrema, ou seja, como <strong>de</strong> crença<br />

dotada <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> mínima e <strong>de</strong> pouca verossimilhança;<br />

nesse sentido, chama-se <strong>de</strong> mítico o<br />

que é inatingível ou contrário aos critérios do<br />

bom senso comum, como p. ex. "perfeição<br />

mítica".<br />

A essa esfera <strong>de</strong> interpretação do M. pertencem<br />

as chamadas teorias naturalistas, que prevaleceram<br />

no séc. XIX na Alemanha. Segundo<br />

elas, o M. é produto da mesma atitu<strong>de</strong> teórica<br />

ou contemplativa que dará origem à ciência;<br />

consiste em tomar <strong>de</strong>terminado fenômeno natural<br />

como chave para a explicação <strong>de</strong> todos<br />

os outros fenômenos. Os fenômenos astronômicos,<br />

os meteorológicos e outros foram<br />

invocados com esse fim. Mais recentemente,<br />

outra escola sociológica viu no M. sobretudo a<br />

lembrança dos acontecimentos passados. Km<br />

ambos os casos essas "explicações naturalistas"<br />

do M. nada mais fazem que reduzi-lo a uma<br />

forma imperfeita <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> intelectual.<br />

2- para a segunda concepção <strong>de</strong> M., este é<br />

uma forma autônoma <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong><br />

vida. Nesse sentido, a valida<strong>de</strong> e a função do<br />

M. não são secundárias e subordinadas em relação<br />

ao conhecimento racional, mas originárias<br />

e primárias, situando-se num plano diferente<br />

do plano do intelecto, mas dotado <strong>de</strong><br />

igual dignida<strong>de</strong>. Foi Viço o primeiro a expressar<br />

esse conceito <strong>de</strong> M.: "As fábulas, ao nascerem,<br />

eram narrações verda<strong>de</strong>iras e graves<br />

(don<strong>de</strong> ter a fábula sido <strong>de</strong>finida como vera

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