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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MATERIALISMO 650 MATERIALISMO<br />

siste em julgar que a noção <strong>de</strong> matéria, ou seja,<br />

<strong>de</strong> corpo e <strong>de</strong> movimento, é o único instrumento<br />

disponível para a explicação dos fenômenos.<br />

Hobbes afirmava <strong>de</strong> fato que o conhecimento<br />

<strong>de</strong> uma coisa é sempre conhecimento<br />

<strong>de</strong> sua gênese, e que a gênese é movimento.<br />

Portanto, todo conhecimento é conhecimento<br />

do movimento, e movimento implica corpo.<br />

Por isso, chamou De coipore( 1655) o seu tratado<br />

<strong>de</strong> <strong>filosofia</strong> primeira. Desse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

a explicação materialista também é a única<br />

possível para as coisas que dizem respeito ao<br />

espírito e às coisas espirituais. Assim, Hobbes<br />

objetava a Descartes: "O que diremos se o raciocínio<br />

não passar <strong>de</strong> um conjunto e uma conexão<br />

<strong>de</strong> nomes por meio da palavra 'é? Segue-se<br />

<strong>de</strong>ssa tese que, por meio da razão, não<br />

po<strong>de</strong>mos concluir nada que diga respeito à natureza<br />

das coisas, mas somente algo que diga<br />

respeito a seus apelativos; vale dizer: com ela<br />

vemos apenas se os nomes das coisas se agrupam<br />

bem ou mal, segundo as convenções que<br />

estabelecemos arbitrariamente para os seus significados.<br />

Se assim for, como po<strong>de</strong> perfeitamente<br />

ser, o raciocínio <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá dos nomes,<br />

os nomes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão da imaginação e a imaginação<br />

talvez (isto segundo a minha opinião)<br />

<strong>de</strong>penda do movimento dos órgãos do corpo,<br />

e assim o espírito nada mais será que um movimento<br />

em certas partes do corpo orgânico"<br />

(III, Ohjeclions, 4). Portanto, segundo Hobbes,<br />

o corpo é o único objeto possível do saber humano,<br />

e a <strong>filosofia</strong> divi<strong>de</strong>-se em duas partes, a<br />

<strong>filosofia</strong> natural e a <strong>filosofia</strong> civil, segundo<br />

estu<strong>de</strong> o corpo natural (a natureza) ou o corpo<br />

artificial (a socieda<strong>de</strong>) (De corp.. I, 9).<br />

Recentemente, o M. metodológico foi <strong>de</strong>fendido<br />

pelos filósofos do círculo <strong>de</strong> Viena, especialmente<br />

por Carnap, mas em sentido diferente<br />

do <strong>de</strong> Hobbes e referindo-se à linguagem:<br />

tal M. é a exigência <strong>de</strong> traduzir para os termos<br />

da linguagem física os dados protocolares. a<br />

fim <strong>de</strong> construir com eles uma linguagem intersubjetiva.<br />

Esse M. i<strong>de</strong>ntifica-se, portanto, com<br />

o ftsicalismo(v.) e não implica nenhuma afirmação<br />

sobre a existência da matéria (cf. lirkenntnís,<br />

1931, p. 477), nem a <strong>de</strong>dutibilida<strong>de</strong> das leis<br />

biológicas e psicológicas a partir das leis físicas.<br />

Sem dúvida, segundo esse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

a unificação das leis da ciência é meta da<br />

própria ciência, mas não se po<strong>de</strong> excluir nem<br />

prever que essa meta seja alcançada (CARNAP,<br />

l.ogical Foundations of lhe l'nity of Science.<br />

1938, p. 61).<br />

3 Q Em seu significado prático ou moral, o M.<br />

é termo que pertence mais à linguagem comum<br />

do que à filosófica. Fala-se <strong>de</strong> "época materialista",<br />

<strong>de</strong> "tendências materialistas" ou do<br />

"materialismo" <strong>de</strong> grupos ou classes, para indicar<br />

a tendência ao conforto ou, mais precisamente,<br />

uma ética que adote o prazer como único<br />

guia do comportamento. O termo filosófico<br />

para isso é hedonismo (v.); este muitas vezes é<br />

acompanhado pelo M., mas não necessariamente.<br />

A ética <strong>de</strong> Epicuro e dos materialistas<br />

do séc. XIX é hedonista, mas não a ética <strong>de</strong><br />

Demócrito. Por outro lado, o hedonismo po<strong>de</strong><br />

estar presente em <strong>filosofia</strong>s não materialistas:<br />

foi aceito, p. ex., pelos cirenaicos e pelos<br />

empiristas do séc. XVIII. Em sua forma extrema,<br />

porém, o hedonismo constituiu uma manifestação<br />

característica do M psicofísico setecentista,<br />

que, <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, foi uma<br />

continuação do libertinismo (v.). A obra <strong>de</strong><br />

Hm.vÉTirs, Del'esprit(\l^). é particularmente<br />

significativa a esse respeito porque contém<br />

uma exaltação indiscriminada do prazer, assim<br />

como outra obra <strong>de</strong> alguns anos antes, Lart<strong>de</strong><br />

jouir ou 1'école <strong>de</strong> Ia roluplé (1751), <strong>de</strong> LA<br />

MKTTRIH.<br />

4 Q O M. psicofísico consiste em afirmar<br />

que a ativida<strong>de</strong> espiritual humana é efeito<br />

estrito da matéria, ou seja, do organismo, do<br />

sistema nervoso ou do cérebro. Essa tese apresentou-se<br />

sob diversas formas nos sécs. XVIII<br />

e XIX; uma <strong>de</strong>las é a concepção do homemmáquina.<br />

Essa expressão foi usada pelo francês<br />

La Mettrie, como título <strong>de</strong> uma obra sua<br />

famosa (1748), mas o conceito também é expresso<br />

na obra <strong>de</strong> DAVID HARTI.KY, Obsetvations<br />

of Man (1749), e na <strong>de</strong> JOSF.PH PRIKSTLF.Y,<br />

Disquisitions Relating Io Matter and Spirít<br />

(1777). O Système <strong>de</strong> Ia nature, <strong>de</strong> Holbach,<br />

talvez seja a melhor expressão <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong><br />

vista; segundo ele, todas as faculda<strong>de</strong>s humanas<br />

são modos <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> agir que resultam do<br />

organismo físico do homem, que, por sua vez,<br />

é <strong>de</strong>terminado pela máquina do universo. Uma<br />

forma mais restrita e específica <strong>de</strong>sse M. está<br />

presente na obra do médico francês PIF.RRE<br />

CABANIS. Rapports du physíque et du moral <strong>de</strong><br />

lhomme (1802), para quem as ativida<strong>de</strong>s psíquicas<br />

provêm do sistema nervoso. F.m meados do<br />

séc. XIX, essa <strong>de</strong>pendência causai dos po<strong>de</strong>res<br />

espirituais humanos em relação ao sistema<br />

nervoso pareceu a muitos filósofos e cientistas<br />

um fato estabelecido. O M. daquela época parte<br />

<strong>de</strong>sse pressuposto. Numa obra <strong>de</strong> 1854,

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