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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LINGUAGEM 619 LINGUAGEM<br />

objetiva, constituída por termos gerais ou abstratos.<br />

Mesmo no mundo mo<strong>de</strong>rno não faltou<br />

quem visse na interjeiçào a origem dos sons<br />

que, gradualmente purificados, se transformaram<br />

em verda<strong>de</strong>ira linguagem. Era o que pensava,<br />

p. ex., O. Jespersen (Language, Its Nature,<br />

Development and Origin, 1923, pp. 418<br />

ss.); a mesma tese foi apresentada com mais rigor<br />

por Grace <strong>de</strong> Laguna, que procurou <strong>de</strong>finir<br />

melhor a passagem da interjeiçào para a L.<br />

como um processo <strong>de</strong> objetivação, graças ao<br />

qual as expressões emotivas vão sendo pouco<br />

a pouco substituídas por aspectos percebidos<br />

das situações efetivas (Speech, its Functíon and<br />

Development, 1927, pp. 260 ss.). Mais difícil <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r é exatamente esse processo <strong>de</strong><br />

objetivaçào e purificação dos gritos emotivos:<br />

mesmo porque até as doutrinas que a eles recorrem<br />

evi<strong>de</strong>nciaram e reconheceram explicitamente<br />

a diferença entre as palavras e as interjeições<br />

(que não se distinguem dos gritos animais),<br />

além do fato <strong>de</strong> as palavras se afirmarem<br />

em prejuízo das interjeições.<br />

b) A teoria da onomatopéia, que Max Müller<br />

(Lectures cm the Science of Language, 1861,<br />

cap. 9) <strong>de</strong>nominou teoria do bau-bau, afirma<br />

serem as raízes lingüísticas imitações dos sons<br />

naturais. Essa teoria era conhecida por Platão,<br />

que a critica observando que, "neste caso,<br />

aqueles que imitam o balido das ovelhas, os<br />

cantos dos galos e as vozes dos <strong>de</strong>mais animais<br />

dariam nome aos animais cuja voz imitam"<br />

(Crat., 423 c). Essa teoria foi <strong>de</strong>fendida por<br />

Her<strong>de</strong>r, em Tratado sobre a origem da linguagem<br />

(1772): ele consi<strong>de</strong>rou os sons naturais (p.<br />

ex., o balir <strong>de</strong> um cor<strong>de</strong>iro) como os sinais que<br />

a alma utiliza para reconhecer o objeto em<br />

questão. "O balido, notado como sinal distintivo,<br />

passa a ser o nome do cor<strong>de</strong>iro. O sinal<br />

compreendido, graças ao qual a alma se reflete<br />

claramente numa idéia, é a palavra, li o que é a<br />

L. humana, senão o conjunto <strong>de</strong> tais palavras?"<br />

(Werke, ed. Suphan, V, pp. 36-37). A principal<br />

objeção a essa doutrina foi levantada pelos<br />

glossologistas: não é verda<strong>de</strong> que a origem <strong>de</strong><br />

todas as raízes lingüísticas seja onomatopaica.<br />

Nem na formação dos nomes dos animais, em<br />

que se po<strong>de</strong>ria presumir maior eficácia do princípio<br />

onomatopaico, ele tem realmente função<br />

dominante. Contra ele encontramos ainda a objeção<br />

filosófica, oposta por Platão, <strong>de</strong> que uma<br />

coisa é a imitação <strong>de</strong> um som e outra coisa é a<br />

imposição <strong>de</strong> um nome. Contudo, o princípio<br />

da onomatopéia foi muitas vezes utilizado pe-<br />

los glossologistas para explicar a formação das<br />

palavras originais nesta ou naquela língua e<br />

sua distribuição em grupos distintos. O próprio<br />

Cassirer admite como primeira fase da expressão<br />

lingüística uma etapa mimética, na qual "os<br />

sons parecem aproximar-se da impressão sensorial<br />

e reproduzir sua diversida<strong>de</strong> com a maior<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> possível" (Phil. <strong>de</strong>r symbolischem<br />

Formen, 1923, 1, cap. 2, § 2).<br />

c) A terceira forma da doutrina da naturalida<strong>de</strong><br />

da L. consi<strong>de</strong>ra-a como metáfora. As teses características<br />

em que se expressa essa doutrina<br />

são as seguintes: 1- a L. não é imitação, mas<br />

criação (o que distingue esta teoria da onomatopaica);<br />

2 a a criação lingüística não leva a<br />

conceitos ou a termos gerais, mas a imagens,<br />

que são sempre individuais ou particulares; 3 a o<br />

que a criação lingüística expressa não é um fato<br />

objetivo ou racional, mas subjetivo ou sentimental;<br />

e este é propriamente o objeto da linguagem.<br />

Com tais características, essa teoria foi<br />

expressa pela primeira vez por Viço, para quem "o<br />

primeiro falar" não foi "um falar segundo a natureza<br />

das coisas", mas "um falar fantástico para<br />

substâncias animadas, na maior parte imaginadas<br />

divinas" (Scienza nuova, II, Da lógica poética).<br />

Os primeiros poetas, segundo Viço, <strong>de</strong>ram<br />

"os nomes às coisas a partir das idéias mais particulares<br />

e sensíveis, que são as duas fontes, esta<br />

da metonímia e aquela da sinédoque" (Ibíd.,<br />

Corolários acerca dos tropos, 2). Conseqüentemente,<br />

os primeiros homens conceberam a<br />

idéia das coisas "por caracteres fantásticos e mudos<br />

<strong>de</strong> substâncias animadas" e enten<strong>de</strong>ram-se<br />

"com atos ou gestos que tivessem relações naturais<br />

com as idéias (como, p. ex., ceifar três vezes<br />

ou mostrar três espigas para significar três<br />

anos)". Segundo Viço, isso é facilmente observado<br />

na língua latina, "que formou quase todas<br />

as palavras por transferências <strong>de</strong> naturezas, por<br />

proprieda<strong>de</strong>s naturais ou por efeitos sensíveis",<br />

mas "geralmente a metáfora constitui o maior<br />

corpo das línguas em todas as nações" (Ibíd.,<br />

Corolários acerca dos tropos, 2). Essa teoria é<br />

expressa <strong>de</strong> modo bem mais imaginosa por<br />

Hamann, para quem a L, que é ''o órgão e o critério<br />

da razão", não é uma simples coleção <strong>de</strong><br />

signos, mas "o símbolo e a revelação da própria<br />

vida divina" (Schriften, II, 19, 207, 216). No séc.<br />

XIX a teoria da metáfora, mesmo sem a postura<br />

metafísica ou teológica com que aparece em<br />

Hamann, é a característica comum das doutrinas<br />

que foram chamadas do din-don, pelo caráter<br />

ressonante da natureza humana. Assim, Max

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