22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

VERDADE 995 VERDADE<br />

mas julgam que o critério da V. é diferente, porque<br />

para os estóicos ele está na representação<br />

catalépticaiv.), que é a manifestação do objeto<br />

para o homem, enquanto para os epicuristas<br />

ele está na sensação, que é o próprio manifestar-se<br />

da coisa (DIÓG. L, X, 31 )• Nesses casos,<br />

a distinção entre V. e critério eqüivale a reconhecer<br />

dois conceitos <strong>de</strong> V., consi<strong>de</strong>rados compatíveis<br />

(ou não incompatíveis).<br />

A<strong>de</strong>mais, a coexistência <strong>de</strong> dois conceitos<br />

<strong>de</strong> V. não é rara. Muitas vezes a teoria da correspondência<br />

é acompanhada pela teoria da V.<br />

como manifestação ou revelação. S. Agostinho,<br />

por um lado, <strong>de</strong>fine a verda<strong>de</strong> como "aquilo<br />

que é como aparece" (Solíl, II, 5) e por outro<br />

consi<strong>de</strong>ra como V. "aquilo que revela o que é,<br />

ou que se manifesta a si mesmo"; nesse sentido,<br />

i<strong>de</strong>ntifica a V. com o Verbum ou Logos, que<br />

é a primeira manifestação imediata e perfeita<br />

do ser, ou seja, <strong>de</strong> Deus (De vera rei, 36). Por<br />

sua vez, S. Tomás, retomando uma <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> Isaac Ben Salomon, do século IX, <strong>de</strong>fine a<br />

V. como ''a<strong>de</strong>quação entre o intelecto e a coisa"<br />

(S. 'lh., I, cj. 16, a. 2; Contra Gent., I, 59; De ver.,<br />

q. I, a. I), mas, ao mesmo tempo em que mantém,<br />

com relação ao homem, a tese aristotélica<br />

<strong>de</strong> que as coisas — e não o intelecto — são a<br />

medida da V. inverte essa tese no que diz respeito<br />

a Deus: "O intelecto divino é mensurante,<br />

e não mensurado; a coisa natural é mensurante e<br />

mensurada, mas o nosso intelecto é mensurado,<br />

e não mensurante, em relação às coisas<br />

naturais; é mensurante só em relação às coisas<br />

artificias" {De ver, q. I, a. 2). Portanto, existe<br />

também uma V. das coisas, que é aquilo em<br />

virtu<strong>de</strong> do que as coisas se assemelham ao seu<br />

princípio, que é Deus; nesse sentido Deus é a<br />

primeira e suprema V. (S. Th., I, q. 16, a. 5). Esses<br />

conceitos são freqüentes na <strong>filosofia</strong> medieval.<br />

O conceito <strong>de</strong> V. como correspondência é amplamente<br />

empregado. Pedro Hispano (Summ.<br />

log., 3.34), Herveus Natalis (Quodl, III, I), Antônio<br />

Andréa {Super artem veterem, ed. 1508, f.<br />

45rA) mantêm a teoria da V. como conformida<strong>de</strong><br />

entre intelecto e coisa, embora polemizando<br />

sobre o modo <strong>de</strong> ser da coisa, ou mais exatamente<br />

dos objetos aos qviais o intelecto <strong>de</strong>ve<br />

conformar-se. Em geral, na Escolástica da segunda<br />

meta<strong>de</strong> do séc. XIII e na do XIV. especifica-se<br />

que a "coisa" à qual o intelecto <strong>de</strong>ve<br />

conformar-se é a "res íntellecta", isto é, a coisa<br />

como é apreendida pelo intelecto, não exterior<br />

ao próprio intelecto (v. Também DURAND DK<br />

SAINT-POURÇAIN, In Senl., I, d. 19, q. 5). O conceito<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação ou conformida<strong>de</strong>, porém,<br />

per<strong>de</strong> alcance metafísico e teológico para assumir<br />

significado estritamente lógico ou, como<br />

hoje se diria, semântico. A i<strong>de</strong>ntificação polêmica,<br />

<strong>de</strong>fendida por Ockham, entre "V." e "proposição<br />

verda<strong>de</strong>ira" eqüivale propriamente à negação<br />

do valor metafísico da palavra V. (Summa<br />

log., I, 43; Quodl., V. q. 24). Os platônicos <strong>de</strong><br />

Cambridge mantêm, por motivos óbvios, o<br />

caráter metafísico e teológico da noção <strong>de</strong> correspondência,<br />

falando <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> da coisa<br />

consigo mesma ou com a sua essência contida<br />

rio intelecto divino (v. HERBHRT DE CHERBURY, De<br />

Veritate, 1656, pp. 4 ss.), mas Hobbes insiste no<br />

ponto <strong>de</strong> vista nominalista da V. como simples<br />

atributo das proposições (De corp., 3. § 7); isso<br />

também foi feito por Locke (Ensaio, II, 32.<br />

3-19) e até por Leibniz, que rejeita a noção<br />

metafísica <strong>de</strong> V. como "atributo do ser" e limita-se<br />

a ver na V. "a correspondência das proposições,<br />

que estão no espírito, com as coisas das<br />

quais se trata" (Nouv. ess., IV, 5. 11). Wolff unia<br />

O conceito <strong>de</strong> V. como "concordância do nosso<br />

juízo com o objeto, ou seja, com a coisa representada"<br />

(Log., § 505) — que ele chamava <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finição nominal da V. — com a noção lógica<br />

da V. como "<strong>de</strong>terminabilida<strong>de</strong> do predicado<br />

por meio da noção do sujeito" — que ele chamava<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>finição reaKLbid., § 513). Baumgarten<br />

retornava à noção <strong>de</strong> V. metafísica como "orclem<br />

da multiplicida<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong>" (Met., § 89),<br />

enquanto Kant <strong>de</strong>clarava pressupor simplesmente<br />

a "<strong>de</strong>finição nominal da V." como "acordo<br />

do conhecimento com o seu objeto", e propunha<br />

o problema <strong>de</strong> encontrar um critério<br />

para a V. Excluindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um critério<br />

geral, válido para qualquer conhecimento, ele<br />

se <strong>de</strong>tinha no critério formal da V., que é a conformida<strong>de</strong><br />

do conhecimento com as suas regras<br />

(Crít. R. Pura, Lógica, Intr., III; v. adiante).<br />

Esse conceito <strong>de</strong> V. como correspondência nunca<br />

esteve ausente, nem na <strong>filosofia</strong> mais recente,<br />

pela qual às vezes é assumido como simples<br />

pressuposto, às vezes explicitamente <strong>de</strong>fendido.<br />

Isso aconteceu especialmente nas correntes<br />

realistas (v., p. ex., BOL7.ANO, Wissenschaftslehre,<br />

I, § 25; A. MEINONG, Über Annabmen,<br />

pp. 125 ss.). Exatamente no espírito do realismo,<br />

N. Hartmann <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a concepção da V.<br />

como "coincidência com um objeto que <strong>de</strong>ve<br />

ser entendido como tal" (Systematische Philosophie,<br />

§ 9). Hartman esten<strong>de</strong> o conhecimento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!