22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

INDUÇÃO 558 INDUÇÃO<br />

com certeza a substância, <strong>de</strong> que, segundo<br />

Aristóteles, a I. só po<strong>de</strong> aproximar-se <strong>de</strong> maneira<br />

incerta ou imprecisa e cuja necessida<strong>de</strong><br />

só po<strong>de</strong> ser atingida pelo processo <strong>de</strong>dutivo.<br />

Graças a essa interpretação do procedimento<br />

empirista nos termos da metafísica aristotélica,<br />

Bacon pô<strong>de</strong> atribuir à I. incompleta a mesma<br />

"necessida<strong>de</strong>" que Aristóteles atribuía ao procedimento<br />

silogístico. Desse ponto <strong>de</strong> vista, o<br />

problema da L, nos termos formulados pela<br />

crítica dos estóicos e <strong>de</strong> Sexto Empírico, nem<br />

sequer se apresentava. Por outro lado, o cartesianismo<br />

não estava interessado em propor o<br />

problema da I., vendo nela a mesma função<br />

preparatória e subordinada que Aristóteles lhe<br />

atribuíra. A Lógica <strong>de</strong> Port-Royal diz: "A indução<br />

apenas nunca é um meio certo para se chegar<br />

à ciência perfeita porque a consi<strong>de</strong>ração<br />

das coisas particulares é apenas uma oportunida<strong>de</strong><br />

para o nosso espírito prestar atenção às<br />

suas idéias naturais, segundo as quais julga sobre<br />

a verda<strong>de</strong> das coisas em geral. O que é<br />

verda<strong>de</strong> porque, p. ex., eu nunca teria tomado<br />

em consi<strong>de</strong>ração a natureza do triângulo, se<br />

não houvesse visto um triângulo que me <strong>de</strong>u<br />

ensejo <strong>de</strong> pensar no assunto; todavia não foi o<br />

exame particular <strong>de</strong>sses triângulos que me levou<br />

a concluir <strong>de</strong> modo geral e certo que a área<br />

<strong>de</strong> todos os triângulos é igual à área do retângulo<br />

construído sobre sua base dividida por<br />

dois (visto que este exame é impossível), mas<br />

apenas a consi<strong>de</strong>ração do que está incluído na<br />

idéia <strong>de</strong> triângulo, que encontro no meu espírito"<br />

(ARNAULD, Log., III, 19, § 9). Portanto, foi só<br />

<strong>de</strong>pois que as ciências começaram a usar amplamente<br />

o procedimento indutivo, como<br />

aconteceu na segunda meta<strong>de</strong> do séc. XVII,<br />

que o problema da I. como problema da valida<strong>de</strong><br />

do procedimento indutivo e do direito<br />

<strong>de</strong> usá-lo voltou a apresentar-se, sendo claramente<br />

exposto pela dúvida cética <strong>de</strong> Hume:<br />

"Todas as inferências extraídas da experiência<br />

supõem, como fundamento, que o futuro<br />

se assemelhará ao passado e que po<strong>de</strong>res semelhantes<br />

estarão unidos a qualida<strong>de</strong>s sensíveis<br />

semelhantes. Se houvesse alguma suspeita<br />

<strong>de</strong> que o curso da natureza pu<strong>de</strong>sse mudar e<br />

<strong>de</strong> que o passado não servisse <strong>de</strong> regra para o<br />

futuro, toda a experiência se tornaria inútil e<br />

não po<strong>de</strong>ria dar origem a nenhuma inferência<br />

ou conclusão. É impossível, portanto, que<br />

argumentos extraídos da experiência possam<br />

provar a semelhança entre o passado e o futuro,<br />

visto que todos os argumentos <strong>de</strong>sse tipo<br />

fundam-se na suposição <strong>de</strong>ssa semelhança.<br />

Mesmo se admitindo que o curso das coisas<br />

sempre regular foi, só isso, sem nenhum argumento<br />

ou inferência nova, não prova que no<br />

futuro continuará assim" Unq. Cone. Un<strong>de</strong>rst.,<br />

IV, 2).<br />

Foi nesses termos que se propôs com freqüência<br />

o problema da I. no mundo mo<strong>de</strong>rno.<br />

Foram-lhe dadas três soluções fundamentais:<br />

I a objetivista; 2- subjetívista; 3 a pragmática. Esta<br />

última marca a passagem da concepção necessitarista<br />

(pressuposta pelas outras duas) para a<br />

concepção probabilista da indução.<br />

I a A solução objetivista consiste em consi<strong>de</strong>rar<br />

a existência <strong>de</strong> uma uniformida<strong>de</strong> da natureza<br />

que admite a generalização das experiências<br />

uniformes. Esta solução é muito antiga,<br />

tendo sido sustentada por Filo<strong>de</strong>mo em sua<br />

polêmica contra os estóicos: "Do fato <strong>de</strong> todos<br />

os homens que conhecemos serem semelhantes<br />

também no que se refere à mortalida<strong>de</strong>,<br />

inferimos que todos os homens, universalmente,<br />

estão sujeitos à morte, visto que nada se<br />

opõe a essa inferência ou nos mostra que os<br />

homens não são suscetíveis <strong>de</strong> morrer. Recorrendo<br />

a essa semelhança, <strong>de</strong>claramos que, com<br />

relação à mortalida<strong>de</strong>, os homens que não conhecemos<br />

pessoalmente são semelhantes aos<br />

que conhecemos por experiência". {De signis,<br />

XVI, 16-29; DE LACY, Ibid., pp. 58 ss.). Neste<br />

trecho, obviamente o direito à inferência indutiva<br />

fundamenta-se na uniformida<strong>de</strong> revelada<br />

pelas semelhanças. De modo análogo, no fim<br />

da Escolástica, Duns Scot e Ockham baseavam<br />

a I. no princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>. Duns Scot dizia:<br />

"Das coisas conhecidas por experiência<br />

digo que, embora não se tenha sempre experiência<br />

<strong>de</strong> todas as coisas particulares, mas<br />

apenas na maioria das vezes, quem experimenta<br />

sabe infalivelmente que assim é, sempre<br />

e em todos os casos, com base na seguinte proposição<br />

existente na alma: tudo o que <strong>de</strong>riva<br />

na maioria das vezes <strong>de</strong> uma causa não livre é<br />

o efeito natural <strong>de</strong>ssa causa" (Op. Ox., I, d. 3,<br />

q. 4, n. 9); nesse trecho, efeito natural significa<br />

efeito uniforme porque necessário. Para Ockham,<br />

o fundamento da I. era o princípio: "Causas<br />

da mesma natureza (ratio) têm efeitos da<br />

mesma natureza" (In Sent, Prol., q. 2 G), e<br />

essa mesma solução era proposta no séc. XIX<br />

por Stuart Mill. O fundamento da I. é o princípio<br />

das uniformida<strong>de</strong>s das leis naturais, e esse<br />

princípio é o mesmo <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>. Este, por<br />

sua vez, não po<strong>de</strong>ndo ser reduzido a um instin-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!