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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LOGOS 631 LOUCURA<br />

"O L. fez-se carne e viveu entre nós" (Joann.. I.<br />

14). Em sua elaboração da teologia cristã, os<br />

padres da Igreja insistiram nos dois pontos seguintes:<br />

\- a perfeita parida<strong>de</strong> do L.-Filho com<br />

Deufi-Pai; 2- a participação do gênero humano<br />

no L, enquanto razão. Justino. p. ex.. diz:<br />

'Apreen<strong>de</strong>mos que Cristo é o primogênito <strong>de</strong><br />

Deus e que é o L, do qual participa todo o<br />

gênero humano" (Apol. prima, 46). Contra os<br />

gnósticos seguidores <strong>de</strong> Valentino, para os<br />

quais o L. é o último dos Kons. que, por estar<br />

mais próximo do mundo, <strong>de</strong>stina-se a formálo,<br />

Iríneu afirma a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> essência e<br />

dignida<strong>de</strong> entre Deus-pai e o L, e entre ambos<br />

e o Espírito Santo (Adi', haeres., II, 13, S). Nesses<br />

conceitos <strong>de</strong>veriam fundamentar-se as formulações<br />

dogmáticas do séc. IV, especialmente<br />

as <strong>de</strong>cisões do Concilio <strong>de</strong> Nicéia (325) sobre<br />

os dogmas fundamentais do Cristianismo: Trinda<strong>de</strong><br />

e Encarnação. Mas entrementes a noção<br />

<strong>de</strong> L. continuou oscilando entre a interpretação<br />

<strong>de</strong> perfeita parida<strong>de</strong> entre L. com Deus e a que<br />

estabelece certa diferença hierárquica entre as<br />

duas hipóstases. A doutrina <strong>de</strong> Orígenes, que<br />

foi o primeiro gran<strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong> cristã<br />

(séc. III), inclina-se para a segunda interpretação.<br />

Orígenes afirma que se po<strong>de</strong> dizer do L,<br />

mas não <strong>de</strong> Deus, que é o ser dos seres, a<br />

substância das substâncias, a idéia cias idéias:<br />

Deus está além <strong>de</strong> todas essas coisas (De<br />

princ, VI, 64). Portanto, o L. é coeterno com o<br />

Pai, que tal não seria se não gerasse o filho,<br />

mas não é eterno no mesmo sentido. Deus é a<br />

vida e o Filho recebe a vida do Pai. O Pai é<br />

Deus, o filho é Deus (em Joann., II, 1-2). Como<br />

já se disse, a Igreja, em suas sessões conciliares,<br />

pronunciou-se contra essa interpretação,<br />

que ficou sendo o apanágio das tentativas<br />

heréticas, várias vezes renovadas ao longo da<br />

história.<br />

A doutrina do L. foi sempre religiosa. Os filósofos<br />

só recorreram a ela quando quiseram<br />

dar caráter religioso à sua doutrina. Foi o que<br />

fez Fichte na segunda fase <strong>de</strong> seu pensamento.<br />

Na Introdução à vida bem-aventurada (1806),<br />

Fichte utiliza o prólogo ao Evangelho <strong>de</strong> S.<br />

João para <strong>de</strong>monstrar a concordância do seu<br />

i<strong>de</strong>alismo com o Cristianismo; portanto, reconhece<br />

no L. aquilo que ele chama <strong>de</strong> a Existência<br />

ou Revelação <strong>de</strong> Deus (além do qual fica o<br />

Ser <strong>de</strong> Deus), ou seja, o Saber, o Eu, a Imagem,<br />

cujo fundamento é a vida divina (Werke,<br />

V, p. 475).<br />

LOQUACIDADE (gr. à6oA.eo/ía; lat. I.oquacitas;<br />

in. Loquacity, fr. Loquacüé; ai. Reclseligkeit;<br />

it. Loquacitã). Segundo Aristóteles,<br />

um dos caracteres das pessoas idosas, que estão<br />

mais interessadas no passado que no futuro<br />

(que já lhes promete pouco); por isso, gostam<br />

<strong>de</strong> falar para rememorá-lo (Ret., II, 13.<br />

1390 a 6).<br />

LOUCURA (gr. uopíoc; lat. Stultilía; in.<br />

Madness: fr. Folie; ai. Wahn; it. Pazzia). 1. O<br />

que Platão chamava <strong>de</strong> boa L, que não é doença<br />

ou perdição, foi interpretada <strong>de</strong> dois modos<br />

diferentes: 1- como inspiração ou dom divino;<br />

2- como amor à vida e tendência a vivê-la em<br />

sua simplicida<strong>de</strong>.<br />

1 L> O primeiro significado encontra-se em<br />

Fedro, on<strong>de</strong> Platão afirma que "os maiores<br />

bens nos são ofertados através <strong>de</strong> uma L. que<br />

é um dom divino" (Fed., 244 a). Essa L. manifesta-se<br />

em quatro formas: a) L. profética,<br />

base da adivinhação, arte <strong>de</strong> predizer o futuro;<br />

b) L. purificadora, que permite afastar os<br />

males por meio <strong>de</strong> purificações e <strong>de</strong> iniciações<br />

no presente e no futuro; c) L. poética,<br />

que é inspirada pelas musas (Ibid., 244a,<br />

245a); d) L. amorosa, a forma superior, à qual<br />

o homem é predisposto pela lembrança da<br />

beleza i<strong>de</strong>al, <strong>de</strong>spertada nele pela beleza das<br />

coisas do mundo (Ibid., 249e). Obviamente,<br />

as três primeiras formas <strong>de</strong> L. têm inspiração<br />

divina e sào atribuíveis ao entusiasmo (v.). O<br />

amor, entretanto, é L. em sentido diferente,<br />

como aspiração ao ser autêntico, <strong>de</strong>spertada<br />

por sua manifestação "mais amável e mais<br />

evi<strong>de</strong>nte", que é a beleza. Ora, este já é o segundo<br />

significado <strong>de</strong> L.<br />

2 Q No segundo significado, a L. é <strong>de</strong> fato<br />

amor à vida em sua simplicida<strong>de</strong>, contraposta â<br />

sabedoria artificiosa e sombria, bem como à<br />

ciência <strong>de</strong> quem sabe tudo menos viver e<br />

amar. O Flogio da loucura (Stultiae laus, 1509),<br />

<strong>de</strong> Erasmo <strong>de</strong> Roterdã, é a mais famosa <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>de</strong>sse segundo significado do termo. Eis como<br />

Erasmo traça o retrato do sábio estóico: "Ele é<br />

surdo à voz dos sentidos, não sente emoção<br />

nenhuma, o amor e a pieda<strong>de</strong> não impressionam<br />

seu coração duro como diamante, nada<br />

lhe escapa, nunca <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> duvidar, sua visão é<br />

<strong>de</strong> lince, tudo pesa com a máxima exatidão,<br />

nada perdoa; encontra em si mesmo sua felicida<strong>de</strong>,<br />

julga-se o único rico da terra, o único sábio,<br />

o único rei, o único liberto: numa palavra,<br />

julga-se o todo; e o mais interessante é que ele<br />

é o único a julgar-se assim". Ora, pergunta-se

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