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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXPERIÊNCIA 412 EXPERIÊNCIA<br />

que, para Bacon, é <strong>de</strong> natureza intelectual, embora<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>va servir <strong>de</strong> freio e norma ao<br />

próprio intelecto (Ibid., I, 101). A característica<br />

fundamental <strong>de</strong>ssa concepção é a ausência <strong>de</strong><br />

distinção entre verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> razão e verda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> fato, ou seja, entre verda<strong>de</strong>s que se fundam<br />

unicamente nas inter-relações <strong>de</strong> idéias e verda<strong>de</strong>s<br />

que <strong>de</strong>rivam da experiência. A ciência<br />

mo<strong>de</strong>rna, a partir <strong>de</strong> Galilei, ignora essa distinção,<br />

que tampouco é reproduzida pela<br />

distinção kantiana entre juízos analíticos e sintéticos,<br />

porque tal distinção não concerne à<br />

valida<strong>de</strong> dos juízos, mas à diferença entre juízos<br />

explicativos e juízos extensivos, entre juízos que<br />

nada acrescentam ao conhecimento do sujeito<br />

e juízos que lhe acrescentam novas notas (Crít.<br />

R. Pura, Intr., 4). De fato, Kant elabora um<br />

conceito <strong>de</strong> E. segundo o qual a E. é irredutível<br />

à simples intuição sensível. Para Kant, a E. é o<br />

conhecimento efetivo e, por isso, inclui a totalida<strong>de</strong><br />

das suas condições. Kant diz: "Toda E. encerra,<br />

além da intuição dos sentidos para a<br />

qual algo é dado, o conceito <strong>de</strong> um objeto<br />

que é dado ou aparece na intuição, por isso, na<br />

base <strong>de</strong> todo conhecimento experimental há<br />

conceitos <strong>de</strong> objetos em geral como condições<br />

apriori; por conseguinte, a valida<strong>de</strong> objetiva<br />

das categorias, como conceitos apriori, <strong>de</strong>verse-á<br />

ao fato <strong>de</strong> que só graças a elas é possível a<br />

E. (segundo a forma do pensamento)" (Ibid.,<br />

Analítica, § 14). E ainda: "A E. apóia-se na unida<strong>de</strong><br />

sintética dos fenômenos, numa síntese,<br />

segundo conceitos, do objeto dos fenômenos<br />

em geral, sem a qual nunca seria um conhecimento,<br />

mas uma rapsódia <strong>de</strong> percepções que<br />

nunca po<strong>de</strong>riam adaptar-se umas às outras, no<br />

contexto regular <strong>de</strong> uma (possível) consciência<br />

inteiramente unificada, portanto, nem à unida<strong>de</strong><br />

transcen<strong>de</strong>ntal necessária da percepção. A<br />

E. tem, pois, como fundamento os princípios<br />

da sua forma a priori, ou seja, as normas universais<br />

da unida<strong>de</strong> da síntese dos fenômenos,<br />

normas cuja realida<strong>de</strong> objetiva sempre po<strong>de</strong><br />

ser encontrada na E., como aquela das condições<br />

necessárias <strong>de</strong>la, aliás, da sua própria possibilida<strong>de</strong>"<br />

(Ibid., Analítica, II, 2, seç. 2). A E.<br />

não é, portanto, a "rapsódia" <strong>de</strong> percepções<br />

sensíveis, mas a or<strong>de</strong>m e a regularida<strong>de</strong> do<br />

conhecimento que constituem a contraparte<br />

subjetiva (ou "formal") da or<strong>de</strong>m e da regularida<strong>de</strong><br />

da natureza. Justamente como tal, a E., ou<br />

melhor, a possibilida<strong>de</strong> da E., é o critério último<br />

da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer conhecimento<br />

possível. Para Kant um conhecimento que não<br />

é uma E. possível não é um conhecimento<br />

objetivo, ou seja, autêntico (Ibid., Analítica, II,<br />

2, seç. 2). Mas se esse é o conceito <strong>de</strong> E. que<br />

Kant elabora nem sempre é o que utiliza ao<br />

longo <strong>de</strong> sua obra. Se, <strong>de</strong> fato, esse significado<br />

fosse rigorosamente observado, Kant não po<strong>de</strong>ria<br />

dizer, como diz bem no início da Razão<br />

Pura (Intr., 1): "Se bem que todos os nossos<br />

conhecimentos comecem com a E., nem por<br />

isso <strong>de</strong>rivam todos da E." O conhecimento não<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar nem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar da E., se<br />

ele éa experiência. Don<strong>de</strong> resulta que todo o<br />

conceito kantiano do a priori como o que é<br />

"in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da E." <strong>de</strong>riva do uso ambíguo<br />

<strong>de</strong>sse termo, que, ao contrário da <strong>de</strong>finição<br />

explícita que Kant lhe dá, às vezes se limita a<br />

indicar a intuição sensível, <strong>de</strong> tal modo que a<br />

or<strong>de</strong>m, a regularida<strong>de</strong>, as categorias e os princípios<br />

não se incluem em seu âmbito e <strong>de</strong>vem<br />

ser consi<strong>de</strong>rados apriori. Está bem claro que,<br />

se a E. inclui or<strong>de</strong>m, regularida<strong>de</strong>, etc, os princípios<br />

que garantem tal or<strong>de</strong>m, ou seja, a forma<br />

da E., não po<strong>de</strong>m ser chamados <strong>de</strong> a<br />

priori, "in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da E.", tampouco sendo<br />

possível assim <strong>de</strong>signar o conteúdo da E., isto<br />

é, o seu material sensível.<br />

O significado <strong>de</strong>ssa doutrina está na tese <strong>de</strong><br />

que o conhecimento efetivo é o que se organiza<br />

segundo o princípio <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, ou seja, segundo<br />

uma or<strong>de</strong>m necessária. Fichte exprimia<br />

com exatidão essa tese kantiana ao dizer: "O sistema<br />

das representações acompanhadas pelo<br />

sentimento da necessida<strong>de</strong> chama-se também<br />

E., seja ela interna ou externa. Por isso, a <strong>filosofia</strong><br />

tem a função <strong>de</strong> explicar toda E." (Erste<br />

Einleitung in die Wíssenschaftslehre, 1797, § 1,<br />

em Werke, I, 1, pp. 419 ss.). Desse ponto <strong>de</strong><br />

vista, o método <strong>de</strong> explicação causai é, por excelência,<br />

o método empírico. Por isso, a concepção<br />

da E. como método tem sentido restrito<br />

em Kant: a E. como método i<strong>de</strong>ntifica-se com a<br />

explicação causai. Na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

o conceito <strong>de</strong> E. como método foi <strong>de</strong>fendido<br />

pelo pragmatismo e pelo instrumentalismo. Peirce<br />

dizia: "cuidamos somente da E. possível, E. na<br />

plena acepção do termo, como algo que não só<br />

afete os sentidos, mas seja também o sujeito do<br />

pensamento" (Chance, Love and logic, 11, 2;<br />

trad. it., p. 131). Dewey, por sua vez, nega que<br />

a E. seja "um conteúdo objetivo" ou que se i<strong>de</strong>ntifique<br />

com um objeto singular. "Na E. efetiva,<br />

nunca se dá tal objeto singular ou evento isolado;<br />

um objeto ou evento é sempre uma parte,<br />

um momento ou um aspecto especial <strong>de</strong> um

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