22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ATARAXIA 87 ATEÍSMO<br />

ATARAXIA (gr. àxapa^íoc; in. Ataraxia, fr.<br />

Ataraxie, ai. Ataraxie, it. Atarassia). Termo usado<br />

primeiramente por Demócrito (Fr. 191), <strong>de</strong>pois<br />

pelos epicuristas e pelos estóicos, para<br />

<strong>de</strong>signar o i<strong>de</strong>al da imperturbabilida<strong>de</strong> ou da<br />

serenida<strong>de</strong> da alma, em <strong>de</strong>corrência do domínio<br />

sobre as paixões ou da extirpação <strong>de</strong>stas (v.<br />

APATIA). Analogamente, "o objetivo do ceticismo<br />

é a A. nas coisas opináveis e a mo<strong>de</strong>ração<br />

nas coisas que são por necessida<strong>de</strong>" (SEXTO<br />

EMPÍRICO, Pirr. hyp., I, 25).<br />

ATEÍSMO (gr. àBeÓT/nç; lat. Atheismus; in.<br />

Atheism; fr. Athéisme, ai. Atheismus; it. Ateísmó).<br />

É, em geral, a negação da causalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.<br />

O reconhecimento da existência <strong>de</strong> Deus po<strong>de</strong><br />

ser acompanhado pelo ateísmo se não incluir<br />

também o reconhecimento da causalida<strong>de</strong> específica<br />

<strong>de</strong> Deus. A primeira análise do A. que<br />

a história da <strong>filosofia</strong> recorda é a <strong>de</strong> Platão, no<br />

X livro das Leis. Platão consi<strong>de</strong>ra três formas <strong>de</strong><br />

A.: 1 B negação da divinda<strong>de</strong>; 2 Q crença <strong>de</strong> que<br />

a divinda<strong>de</strong> existe, mas que não cuida das coisas<br />

humanas; 3 Ü crença <strong>de</strong> que a divinda<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

tornar-se propícia com doações e oferendas. A<br />

primeira forma é o materialismo, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

que a natureza prece<strong>de</strong> a alma, isto é, que a<br />

matéria "dura e mole, pesada e leve" prece<strong>de</strong><br />

"a opinião, a previsão, o intelecto, a arte e a<br />

lei". Esse é o erro <strong>de</strong> todos os filósofos da natureza<br />

que consi<strong>de</strong>ram a água, o ar e o fogo<br />

como princípios da coisas e os chamam "natureza"<br />

por enten<strong>de</strong>rem que são a origem <strong>de</strong>las<br />

{Leis, X, 891 c, 892 b). Para refutar o materialismo<br />

só resta <strong>de</strong>monstrar que a alma prece<strong>de</strong> a<br />

natureza; e Platão <strong>de</strong>monstra que o próprio<br />

movimento dos corpos celestes pressupõe um<br />

Primeiro Motor imaterial (v. DEUS, PROVAS DE).<br />

A segunda forma <strong>de</strong> A., que consiste em julgar<br />

que a divinda<strong>de</strong> não se ocupa das coisas humanas,<br />

é refutada por Platão com o argumento <strong>de</strong><br />

que isso eqüivaleria a admitir que a divinda<strong>de</strong><br />

é preguiçosa e indolente, e a consi<strong>de</strong>rá-la inferior<br />

ao mortal mais comum, que sempre quer<br />

aperfeiçoar a sua obra, por menor que seja.<br />

Enfim, a maior aberração é a dos maus que<br />

crêem po<strong>de</strong>r tornar a divinda<strong>de</strong> propícia com<br />

donativos e oferendas. Esses põem a divinda<strong>de</strong><br />

no mesmo nível dos cães que, amansados com<br />

presentes, permitem que os rebanhos sejam<br />

roubados, e abaixo dos homens comuns, que<br />

não traem a justiça aceitando presentes ilicitamente<br />

oferecidos. Platão é tão severo com essa<br />

última forma <strong>de</strong> A. que, para evitá-la, <strong>de</strong>sejaria<br />

impedir qualquer forma <strong>de</strong> sacrifício privado e<br />

admitir só os realizados em altares públicos e<br />

com ritual estabelecido {Leis, X, 909 d).<br />

A análise <strong>de</strong> Platão eqüivale a dizer que a<br />

única forma <strong>de</strong> A. filosófico é o materialismo<br />

naturalista, para o qual o corpo prece<strong>de</strong> a alma;<br />

as outras formas são mais preconceitos vulgares<br />

do que crenças filosóficas (embora a primeira<br />

<strong>de</strong>las, o indiferentismo dos <strong>de</strong>uses, viesse<br />

a ser adotada pelos epicuristas). Um olhar<br />

para o curso posterior da <strong>filosofia</strong> oci<strong>de</strong>ntal<br />

mostra que, ao lado do materialismo, po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>rados como formas <strong>de</strong> A. filosófico<br />

o ceticismo, o pessimismo e o panteísmo.<br />

l s Na Ida<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna, a coincidência entre<br />

materialismo e A. foi afirmada por Berkeley,<br />

que, precisamente por força <strong>de</strong>ssa coincidência,<br />

foi induzido a sustentar a irrealida<strong>de</strong> da<br />

matéria (v. IMATERIALISMO). Se se admitir que a<br />

matéria é real, a existência <strong>de</strong> Deus será inútil,<br />

porque a própria matéria vem a ser a causa <strong>de</strong><br />

todas as coisas e das idéias que estão em nós.<br />

A existência da matéria é o principal fundamento<br />

do A., do fatalismo e da própria idolatria<br />

(Princ. ofHum. Knowledge, §§ 92-94). Efetivamente<br />

se po<strong>de</strong>ria dizer que um dos fundamentos<br />

do A. é a causalida<strong>de</strong> da matéria e não a sua<br />

realida<strong>de</strong>. O materialismo setecentista <strong>de</strong> La<br />

Mettrie e <strong>de</strong> Holbach, assim como o oitocentista<br />

<strong>de</strong> L. Buchner, Ernst Heckel e Félix Le Dantec,<br />

tem esse fundamento. Deus é eliminado como<br />

princípio causai <strong>de</strong> explicação, porque se admite<br />

a matéria como tal.<br />

2 e A segunda forma <strong>de</strong> A. filosófico é a cética,<br />

cuja primeira manifestação se encontra no<br />

neo-acadêmico Carnéa<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cirene (214-129<br />

a.C). Este não só <strong>de</strong>monstra a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> das<br />

provas aduzidas sobre a existência da divinda<strong>de</strong>,<br />

como também mostra as dificulda<strong>de</strong>s inerentes<br />

ao conceito <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong>. P. ex., diz<br />

Carnéa<strong>de</strong>s: "Se os <strong>de</strong>uses existem, são vivos; se<br />

vivos, sentem... Se sentem, recebem prazer ou<br />

dor. E se recebem dor, são passíveis <strong>de</strong> perturbação<br />

e <strong>de</strong> mudanças para pior; logo são mortais"<br />

(SEXTO EMPÍRICO, Adv. math., IX, 139-140).<br />

Ponto <strong>de</strong> vista análogo é o elaborado na Ida<strong>de</strong><br />

Mo<strong>de</strong>rna por Hume, em Diálogos sobre a religião<br />

natural. Hume julga impossível uma prova<br />

aprioriáã existência <strong>de</strong> Deus, já que a existência<br />

é sempre matéria <strong>de</strong> fato. Quanto às provas<br />

a posteriori, ele rejeita a valida<strong>de</strong> das provas<br />

cosmológicas, consi<strong>de</strong>rando ilegítimo perguntar-se<br />

a causa <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> indivíduos.<br />

"Se se mostra a causa <strong>de</strong> cada indivíduo em um<br />

conjunto que compreen<strong>de</strong> vinte indivíduos, é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!