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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LINGUAGEM 623 LINGUAGEM<br />

boldt expressava claramente este conceito:<br />

'Não po<strong>de</strong>mos conceber que a L. tenha início<br />

na <strong>de</strong>signação dos objetos por meio <strong>de</strong> palavras<br />

e que proceda, num segundo momento, à<br />

organização <strong>de</strong>ssas palavras. Na realida<strong>de</strong>, o<br />

discurso não é composto por palavras que o<br />

prece<strong>de</strong>m, mas, ao contrário, as palavras se originam<br />

do discurso" ("Eínleítung zum Kawi-<br />

Werk", Werke, VII, 1, pp. 72 ss.). Portanto, a comunicação<br />

não se realiza a partir da palavra,<br />

mas das frases, e só estas são os instrumentos<br />

particulares que formam a L. (Ibid., pp. 169 ss.).<br />

Essas idéias dominaram e continuam dominando<br />

a ciência da L. Encontram-se incorporadas<br />

nos conceitos utilizados por essa ciência, como<br />

p. ex. o <strong>de</strong> fonema. Fonema é "a unida<strong>de</strong> mínima<br />

dotada <strong>de</strong> características sonoras distintivas";<br />

é, portanto, uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significado,<br />

não <strong>de</strong> som (BLOOMFIELD, Language, 1933, 5.<br />

4). Cada língua escolhe seus fonemas, mas essa<br />

escolha não po<strong>de</strong> ser qualificada <strong>de</strong> "casual"<br />

ou "arbitrária", nem <strong>de</strong> "natural" ou "necessária",<br />

porque uma escolha condiciona ou limita<br />

as outras, e cada grupo ou série <strong>de</strong>las é condicionada<br />

pela exigência <strong>de</strong> eficácia comunicativa<br />

da L. Portanto, os fonemas po<strong>de</strong>m ser reduzidos<br />

a tipos, que a ciência da L. se propõe <strong>de</strong>terminar.<br />

A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sses tipos fornece<br />

o fundamento das escolhas que constituem as<br />

estruturas fundamentais da L. e assim explica,<br />

até certo ponto, essas estruturas, sem justificar<br />

sua perfeição ou sua infalibilida<strong>de</strong>. Na lingüística<br />

contemporânea, a concepção <strong>de</strong> L. como<br />

instRimento é <strong>de</strong>fendida principalmente pelos<br />

funcionalistas, que consi<strong>de</strong>ram a L. como "instrumento<br />

<strong>de</strong> comunicação", através do qual a<br />

experiência humana se analisa em monemas<br />

que têm um conteúdo semântico ou uma forma<br />

fônica: "esta, por sua vez, articula-se em<br />

unida<strong>de</strong>s distintas e sucessivas, os fonemas,<br />

cuja natureza e cujas relações variam <strong>de</strong> uma<br />

língua para outra" (MARTINET, A Functional Vieiv<br />

of Language, 1962, cap. I).<br />

4- A quarta concepção da L, que <strong>de</strong>nominamos<br />

<strong>de</strong> acaso, na realida<strong>de</strong> é uma especificação<br />

da terceira, ou melhor, é uma perspectiva<br />

<strong>de</strong> estudo aberta pela terceira concepção. Essa<br />

perspectiva é constituída pelo estudo estatístico<br />

da L. Sabe-se que as ações individualmente<br />

mutáveis e imprevisíveis apresentam uniformida<strong>de</strong><br />

e constância se consi<strong>de</strong>radas em gran<strong>de</strong><br />

número. Certamente não se po<strong>de</strong> prever se<br />

certa pessoa vai casar-se o ano que vem, mas é<br />

possível prever com suficiente aproximação o<br />

número <strong>de</strong> pessoas que se casarão no próximo<br />

ano, em <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong>, com base<br />

em estatísticas dos últimos anos. Da mesma forma,<br />

po<strong>de</strong>m ser estudadas as freqüências estatísticas<br />

com que <strong>de</strong>terminadas expressões ocorrem<br />

numa comunida<strong>de</strong> suficientemente ampla<br />

para que possam ser fixadas certas constantes<br />

estatísticas da L. e tomá-las como base para o<br />

estudo das estruturas lingüísticas. Com certeza<br />

tal pesquisa estatística não é indispensável para<br />

o estudo global da L. Também há outro método,<br />

<strong>de</strong> observação sociológica, no qual o observador<br />

lingüístico, participando da vida <strong>de</strong> uma<br />

comunida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver os usos lingüísticos.<br />

Esse, aliás, é o método até agora mais adotado<br />

pelos glossologistas, que em raras ocasiões,<br />

quase exclusivamente ao tratarem com<br />

obras literárias, recorreram ao método estatístico.<br />

A propósito, po<strong>de</strong>-se lembrar a obra <strong>de</strong> Lutoslawski<br />

sobre o estilo <strong>de</strong> Platão (The Origin<br />

and Groivth ofPlato's Logic, 1897), que conseguiu<br />

pôr em bases novas e mais seguras a cronologia<br />

dos textos do filósofo. Mas hoje não faltam<br />

propostas para o uso sistemático do método<br />

estatístico com vistas à solução <strong>de</strong> todos os<br />

problemas da lingüística estrutural. G. Herdan<br />

diz a propósito: "Se consi<strong>de</strong>rarmos a língua<br />

como a soma dos signos lingüísticos mais a<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que eles se repitam no discurso<br />

individual, portanto nos vários modos como<br />

o evento sígnico po<strong>de</strong> ocorrer em conjunto<br />

com as relativas freqüências dos diferentes signos<br />

no uso efetivo, a concepção correspon<strong>de</strong>rá<br />

a todas as exigências daquilo que se chama população<br />

estatística <strong>de</strong> tais eventos, ou seu universo<br />

estatístico. Cada enunciado individual<br />

(parole, na terminologia <strong>de</strong> Saussure) serve <strong>de</strong><br />

amostra <strong>de</strong>ssa população" (Language as Choice<br />

and Change, 1956, 1.3). Desse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

se examinarmos textos diferentes <strong>de</strong> uma<br />

mesma língua, <strong>de</strong>scobriremos, por exemplo,<br />

que as freqüências relativas com que <strong>de</strong>terminado<br />

fonema foi empregado pelos escritores<br />

são mais ou menos as mesmas. Isso autoriza a<br />

consi<strong>de</strong>rá-las como flutuações da probabilida<strong>de</strong><br />

constante <strong>de</strong>sse fonema naquela L. Isso significa<br />

que o falante ou escritor obe<strong>de</strong>ce a leis<br />

aleatórias, e que só quando se consi<strong>de</strong>ram gran<strong>de</strong>s<br />

massas <strong>de</strong> formas lingüísticas é que se tem<br />

a impressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação causai em seu uso.<br />

Em outros termos, aqui estaria ocorrendo o que<br />

acontece na física, para a qual o <strong>de</strong>terminismo

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