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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NECESSÁRIO 707 NECESSIDADE<br />

outra, permitindo, portanto, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

substituições recíprocas das fórmulas, já foi exposta<br />

pelo Círculo <strong>de</strong> Viena, especialmente por<br />

Schlick, e reaparece freqüentemente na literatura<br />

contemporânea (cf., p. ex., K. BRITTON, em<br />

Proceedings of the Aristotelian Society, 21 S ,<br />

1947). Aliás, como também reaparece a doutrina<br />

segundo a qual as proposições analíticas<br />

(ou tautologias) que constituem as "verda<strong>de</strong>s<br />

necessárias" da lógica nada mais são que regras<br />

lingüísticas ou, mais precisamente, regras<br />

semânticas. De fato o enunciado "todos os solteiros<br />

são não casados" po<strong>de</strong> ser interpretado<br />

como uma regra para o uso da palavra "solteiro",<br />

regra extraída do uso. A objeção algumas<br />

vezes formulada contra essas doutrinas,<br />

<strong>de</strong> que elas privariam a verda<strong>de</strong> N. do nível <strong>de</strong><br />

"proposição" porque uma proposição é sempre<br />

verda<strong>de</strong>ira ou falsa, enquanto uma regra, ao<br />

contrário, é sobretudo útil, conveniente, correta,<br />

etc. (cf., p. ex., PAP, op. cíl., pp. 179 ss.), não<br />

é muito conclu<strong>de</strong>nte, porque <strong>de</strong>monstra apenas<br />

a incompatibilida<strong>de</strong> entre essa interpretação<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> N. e o conceito tradicional <strong>de</strong><br />

proposição.<br />

c) A terceira interpretação da necessida<strong>de</strong><br />

lógica é a dada por Quine, segundo quem ela<br />

seria a imunida<strong>de</strong> concedida a certas proposições<br />

em matemática e lógica, porquanto, em<br />

vista do caráter central que ocupam no sistema,<br />

sua revisão perturbaria enormemente esse sistema,<br />

cujas características fundamentais ten<strong>de</strong>mos<br />

a conservar na medida do possível. Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, N. não significaria "aquilo que<br />

não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> outra maneira", mas sim "aquilo<br />

sem o que não se quer passar", não porque<br />

seja impossível passar sem ele, mas porque assim<br />

é preferível. Esta interpretação baseia-se na<br />

rejeição da distinção entre verda<strong>de</strong>s analíticas<br />

(ou <strong>de</strong> razão) e verda<strong>de</strong>s sintéticas (ou <strong>de</strong> fato),<br />

nas quais se baseiam as interpretações estudadas<br />

em a) (QUINE, Methodsof Logic, p. XIII; From<br />

a LogicalPoint ofView, II e VIII). Essa interpretação<br />

obviamente eqüivale à eliminação do próprio<br />

conceito <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />

d) A quarta interpretação consi<strong>de</strong>ra a necessida<strong>de</strong><br />

como uma proprieda<strong>de</strong> intrínseca das<br />

proposições, consi<strong>de</strong>radas como objetos, no<br />

sentido <strong>de</strong> Carnap: precisamente uma proprieda<strong>de</strong><br />

que as proposições possuem antes da<br />

formulação das convenções lingüísticas. Desse<br />

ponto cie vista, "explicar a necessida<strong>de</strong> dos<br />

princípios tradicionais da inferência <strong>de</strong>dutiva<br />

em termos <strong>de</strong> convenções lingüísticas significa<br />

pôr o carro à frente dos bois". Esta é a tese <strong>de</strong><br />

A. PAP (SemanticsandNecessary Truth, espec.<br />

cap. 7; cf. também "Necessary Propositions and<br />

LinguisticsRules", em Archivio di<strong>filosofia</strong>, 1955,<br />

pp. 63-105). Segundo essa doutrina, a necessida<strong>de</strong><br />

lógica não se distingue <strong>de</strong> uma qualitas<br />

occulta.<br />

Dessas quatro interpretações, a única que<br />

não eqüivale à negação da necessida<strong>de</strong> é a<br />

primeira, que a i<strong>de</strong>ntifica com analiticida<strong>de</strong> ou<br />

tautologicida<strong>de</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma interpretação<br />

intimamente ligada ao conceito que Wittgenstein<br />

expôs sobre a tautologia: "Entre os possíveis<br />

grupos <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> dão-se<br />

dois casos extremos: em um, a proposição é<br />

verda<strong>de</strong>ira para todas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

verda<strong>de</strong> das proposições elementares, e nesse<br />

caso dizemos que as condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

são tautológicas; no outro, a proposição é<br />

falsa para todas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

as condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> são contraditórias"<br />

(Tractatus, 4. 46). Por conseqüência, "a tautologia<br />

nào tem condição <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> porque é<br />

incondicionalmente verda<strong>de</strong>ira, e a contradição<br />

a nenhuma condição é verda<strong>de</strong>ira" (Ibid.,<br />

4.461). Isso eqüivale a dizer que uma afirmação<br />

incondicionalmente verda<strong>de</strong>ira, ou seja,<br />

uma tautologia, uma proposição N., como se<br />

queira chamá-la, é aquela que esgota todas as<br />

gamas <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s. Este também é o significado<br />

da doutrina <strong>de</strong> Carnap sobre a verda<strong>de</strong><br />

lógica como "<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> estado", ou seja,<br />

como verda<strong>de</strong> válida para todos os mundos<br />

possíveis ou para todos os possíveis estados <strong>de</strong><br />

coisas. Desse ponto <strong>de</strong> vista, há necessida<strong>de</strong><br />

sempre que é possível enumerar todas as<br />

possibilida<strong>de</strong>s, e necessida<strong>de</strong> eqüivale, praticamente,<br />

a onipossibilida<strong>de</strong>. Não se trata <strong>de</strong><br />

doutrina recente. No séc. XIV, Ockham só consi<strong>de</strong>rava<br />

N. as proposições condicionais ou<br />

equivalentes ou as que tratam do possível,<br />

como, p. ex., "Se existe homem, o homem é<br />

animal racional", ou "Todo homem po<strong>de</strong><br />

ser animal racional" (Quodl., V, q. 15). Como<br />

apenas convenções lingüísticas <strong>de</strong> outra natureza<br />

po<strong>de</strong>m limitar convenientemente a gama<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s a que uma proposição faz referência,<br />

está claro que esse conceito <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

é inteiramente reduzível a convenção.<br />

NECESSIDADE (gr. xpeía ou àváyicn; lat.<br />

Necessitas; in. Need; fr. Besoin; ai. Bedürfniss;<br />

it. Bisogno). Em geral, <strong>de</strong>pendência do ser vivo<br />

em relação a outras coisas ou seres, no que diz<br />

respeito à vida ou a quaisquer interesses. Nesse

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