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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO<br />

supomos ser suas causas, <strong>de</strong> tal maneira que<br />

acreditamos ver um archote e ouvir um sino<br />

quando apenas sentimos os movimentos que<br />

<strong>de</strong>les vêm" (Pass. <strong>de</strong> lâme, I, 23). A partir <strong>de</strong><br />

então a distinção entre sensação e P. torna-se<br />

fundamental na teoria da percepção. Essa distinção<br />

é expressa por C. Bonnet (Fssai analytique<br />

sur les facultes <strong>de</strong> Teime, 1759, XIV. 195-96) e<br />

pela escola escocesa do senso comum, especialmente<br />

por Reid (Inquiry into the Hunian<br />

Mínd, 1764, VI, 2°). Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, a sensação<br />

é reduzida à idéia simples <strong>de</strong> Locke: a uma<br />

unida<strong>de</strong> elementar produzida diretamente no<br />

sujeito pela ação causai do objeto. A P.. por<br />

outro lado, torna-se um ato complexo que inclui<br />

uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sensações, presentes<br />

e passadas, e também a sua referência ao objeto,<br />

ou seja, um ato judicativo. I<strong>de</strong>ntificando P.<br />

e intuição empírica, que é o conhecimento<br />

objetivo, o resultado da ativida<strong>de</strong> judicante<br />

exercida sobre o multíplice sensível, Kant (Prol.,<br />

§ 10) já consi<strong>de</strong>rara incluído na P. o ato judicativo.<br />

A presença <strong>de</strong> um juízo na P. torna-se tema<br />

comum na <strong>filosofia</strong> do séc. XIX. Hegel levava<br />

essa tese ao extremo quando consi<strong>de</strong>rava a P.<br />

(e a coisa que é seu objeto) como um produto<br />

do Universal (da Consciência ou do Pensamento):<br />

"Para nós ou em si mesmo, o Universal,<br />

como princípio, é a essência da P., e em face<br />

<strong>de</strong>ssa abstração o que percebe e o que é percebido<br />

são o não-essencial" (Pbãnomen. <strong>de</strong>s<br />

Geistes, I, Consciência II, trad. it.. I, p. 97). Mas<br />

ã parte essa tese extremista (que no entanto<br />

foi repetida até há pouco tempo pelas escolas<br />

i<strong>de</strong>alistas), a distinção entre sensação e P. e o<br />

reconhecimento do caráter ativo ou judicativo<br />

da V. tiveram como base a sua referência<br />

ao objeto externo. Foi o que fizeram Hamilton,<br />

que se inspirava na doutrina da escola escocesa<br />

(Lectures on Metaphysics, 5 a ed., 1870, II, pp.<br />

129 ss.), e Spencer, que muito contribuiu para<br />

difundir esse ponto <strong>de</strong> vista (Principies ofPsychology,<br />

1855, § 353). Bolzano (Wissenschaftslehre,<br />

1837, I, p. l6l), Brentano (Psychologie<br />

vom empirischen Standpunkte, 1874, I, 3, § D,<br />

Helmoltz (Die Tatsachen in <strong>de</strong>r Wahrnehmung,<br />

1879, p. 36) enfatizaram a ação do pensamento<br />

ou do intelecto na P.; Brentano i<strong>de</strong>ntificava P.<br />

e juízo ou crença (loc. cit.). Em sentido semelhante,<br />

Husserl fazia a distinção entre 1'. e outros<br />

atos intencionais da consciência, com base<br />

em sua característica <strong>de</strong> "apreen<strong>de</strong>r" o objeto<br />

(I<strong>de</strong>en, I, § 37). Na percepção, a coisa mesma<br />

está presente em seu ser, assim como está pre-<br />

sente na coisa o sujeito que percebe (cf. G.<br />

Brand, Welt, icb und Zeit. 1955, 3). É só aparentemente<br />

diferente a noção <strong>de</strong> Bergson da<br />

"P. pura". Bergson diz: "A P. outra coisa não é<br />

senão uma seleção. Ela nada cria: sua tarefa<br />

é eliminar do conjunto das imagens todas as<br />

imagens sobre as quais eu não teria nenhuma<br />

pretensão e, <strong>de</strong>pois, eliminar das imagens conservadas<br />

tudo o que não interessa às necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ssa imagem particular que <strong>de</strong>nomino<br />

corpo" (Matíèreet mémoire, p. 235). Deste modo.<br />

a P. <strong>de</strong>linearia, no interminável campo das<br />

imagens conservadas na consciência, o objeto<br />

<strong>de</strong>stinado a servir às necessida<strong>de</strong>s da ação e<br />

que <strong>de</strong>limita a ação possível cio meu corpo.<br />

Mas, mesmo assim, a tarefa da P. continua sendo<br />

apreen<strong>de</strong>r ou <strong>de</strong>linear um objeto.<br />

O conceito <strong>de</strong> P. ao qual essas doutrinas fazem<br />

referência é bastante uniforme: a P. é o ato<br />

pelo qual a consciência "apreen<strong>de</strong>" ou "situa"<br />

um objeto, e esse ato utiliza certo número <strong>de</strong><br />

dados elementares <strong>de</strong> sensações. Este conceito,<br />

portanto, supõe: l y a noção <strong>de</strong> consciência<br />

como ativida<strong>de</strong> introspectiva e auto-reflexiva;<br />

2" a noção do objeto percebido como entida<strong>de</strong><br />

individual perfeitamente isolável e dada:<br />

3 1 ' a noção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s elementares sensíveis.<br />

O abandono <strong>de</strong>sses três pressupostos<br />

caracteriza a nova fase do problema da P.,<br />

própria da psicologia e da <strong>filosofia</strong> contemporâneas.<br />

3

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