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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS, PROVAS DE 261 DEUS, PROVAS DE<br />

substancialmente na obra <strong>de</strong> Bultman (v. DES-<br />

MITIFICAÇÂO) e <strong>de</strong> Bonhoeffer (v. DEUS, 2, b):<br />

contrapõe a fé à religião, nega a transcendência<br />

<strong>de</strong> D. (sendo, pois, quase um panteísmo)<br />

e transfere para o mundo histórico a<br />

esperança escatológica dos primórdios do cristianismo<br />

ao afirmar que "D. não é, mas será",<br />

no sentido <strong>de</strong> que se realizará como amor no<br />

seio <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> humana ajustada ao<br />

exemplo <strong>de</strong> Cristo (G. VARTANIAN, Death ofGod,<br />

1961; T. AmzER, The GospelofChristianAtheism,<br />

1967).<br />

DEUS, PROVAS DE (in. Arguments for God;<br />

fr. Preuves <strong>de</strong> Díeu; ai. Gottesbeweise, it. Prove<br />

diDió). Enten<strong>de</strong>remos por essa expressão não<br />

só as "<strong>de</strong>monstrações", mas também os indícios<br />

ou as indicações que foram consi<strong>de</strong>radas provas<br />

da existência <strong>de</strong> D. Cada uma <strong>de</strong>ssas<br />

provas nasceu <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada concepção <strong>de</strong><br />

D. e recorre a certo tipo <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, mas<br />

cada concepção também se vale <strong>de</strong> provas<br />

extraídas <strong>de</strong> concepções diferentes, <strong>de</strong> modo<br />

que, via <strong>de</strong> regra, há certo sincretismo nesse<br />

ramo do pensamento filosófico. No entanto,<br />

existe um argumento que não se refere a nenhuma<br />

concepção <strong>de</strong> D. em especial, que<br />

enunciaremos em primeiro lugar.<br />

l e O recurso ao consenso comum é uma<br />

prova que vez por outra aparece na história da<br />

<strong>filosofia</strong>. Dele se valeu Aristóteles para <strong>de</strong>monstrar<br />

que a divinda<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> no primeiro<br />

céu, e não tanto que ela existe (De cael., I, 3,<br />

270 b 17). Mas esse argumento foi muito <strong>de</strong>senvolvido<br />

pelos platônicos ecléticos do séc. I<br />

a.C, e é provável que Cícero o tenha extraído<br />

<strong>de</strong>les. "Para <strong>de</strong>monstrar a existência dos <strong>de</strong>uses,<br />

o argumento mais forte que po<strong>de</strong>m aduzir<br />

é que nenhum povo é tão bárbaro, que nenhum<br />

homem é em absoluto tão selvagem, a<br />

ponto <strong>de</strong> não ter em sua mente indício da crença<br />

nos <strong>de</strong>uses" (Tusc, I, 30). Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar<br />

equivalente a esse argumento a crença <strong>de</strong><br />

que a idéia <strong>de</strong> D. é uma das idéias inatas ou<br />

constitutivas da natureza racional humana. Tal<br />

foi a tese dos neoplatônicos <strong>de</strong> Cambridge no<br />

séc. XVII (Herbert <strong>de</strong> Cherbury, Cudworth,<br />

Moore), que Locke teve presente em sua crítica<br />

do inatismo do Livro I do Ensaio. E foi essa a<br />

tese <strong>de</strong>fendida no século seguinte pela escola<br />

escocesa do senso comum (Thomas Reid e<br />

Dougald Stwart). A afirmação do caráter inato<br />

da idéia <strong>de</strong> D. eqüivale ao recurso ao consensus<br />

gentium, porque a presença da idéia <strong>de</strong> D. em<br />

todos os homens é a única base presumida<br />

para admitir o seu caráter inato.<br />

2 S O argumento mais antigo e respeitável, e<br />

também o mais simples e convincente, é o da<br />

or<strong>de</strong>m ou <strong>de</strong>sígnio do mundo, que, em termos<br />

mo<strong>de</strong>rnos, se chama argumento teleológico ou<br />

físico-teológico. Foi ele que convencera Anaxãgoras<br />

a admitir a Inteligência como causa<br />

or<strong>de</strong>nadora do mundo. Platão e Aristóteles fazem-lhe<br />

referência freqüente. O primeiro diz,<br />

p. ex.: "Que a Inteligência or<strong>de</strong>na todas as coisas<br />

é afirmação digna do espetáculo que nos<br />

oferecem o mundo, a lua, os astros e todas as<br />

revoluções celestes" (Fil, 28 e). E Aristóteles,<br />

que repetira esse argumento em seu diálogo<br />

juvenil Sobre a <strong>filosofia</strong>, adaptando-lhe o mito<br />

platônico da caverna (os homens reconheceriam<br />

a existência <strong>de</strong> D. assim que saíssem da<br />

caverna, só com olhar a natureza) (Fr. 12",<br />

Rose), o pressupõe quando compara D. ao<br />

chefe <strong>de</strong> uma casa bem organizada ou <strong>de</strong> um<br />

exército (Met., XII, 10, 1075 a 14). Po<strong>de</strong>mos ler<br />

esse argumento na formulação <strong>de</strong> Fílon: "Se<br />

virmos uma casa construída com cuidado, com<br />

vestíbulos, pórticos, apartamentos para homens,<br />

mulheres e para outras pessoas, teremos<br />

uma idéia do artista: não acharemos que foi<br />

feita sem arte e sem artesãos. E o mesmo diremos<br />

<strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um navio, ou <strong>de</strong> um<br />

objeto qualquer construído, seja ele pequeno<br />

ou gran<strong>de</strong>. Do mesmo modo, aquele que entrou<br />

nesse mundo como uma casa ou numa<br />

enorme cida<strong>de</strong> e viu o céu que gira em círculo<br />

e tudo contém, os planetas e as estrelas fixas<br />

movidos por movimento idêntico ao do céu,<br />

simétrico, harmonioso e útil ao todo, e a terra<br />

que recebeu o lugar central... esse homem concluirá<br />

que tudo isso não foi feito sem uma arte<br />

perfeita e que o artífice <strong>de</strong>sse universo foi e é<br />

D." (Ali. leg., III, 98-99). Obviamente, como<br />

notava Kant, esse argumento conclui pela existência<br />

<strong>de</strong> um Demiurgo, isto é, do criador da<br />

or<strong>de</strong>m do mundo, e não do criador do mundo.<br />

Todavia, foi também utilizado por aqueles que<br />

admitem a causalida<strong>de</strong> criadora <strong>de</strong> D. Sua força<br />

probante resi<strong>de</strong> na noção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, mais precisamente<br />

no caráter absoluto <strong>de</strong>ssa noção (v.<br />

ORDEM). Esse foi, é e continua sendo o argumento<br />

mais simples e popular, mas nem por<br />

isso o mais frágil. Stuart Mill procurou expressá-lo<br />

<strong>de</strong> forma mais rigorosa em quatro partes,<br />

em conformida<strong>de</strong> com os quatros métodos<br />

indutivos: concordância, diferença, resíduos e<br />

variações concomitantes (Three Essays on

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