22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INFINITO 563 INFINITO<br />

luta, cujo modo <strong>de</strong> ser não é uma substância,<br />

mas um processo que, apesar <strong>de</strong> finito, é sempre<br />

diferente" (Ibid., III, 6, 206 a 27). Portanto,<br />

não é I. aquilo fora do qual não há nada, como<br />

se acredita comumente, mas sim aquilo fora do<br />

qual sempre há alguma coisa; conseqüentemente<br />

o I. participa mais do conceito <strong>de</strong> parte<br />

que do conceito <strong>de</strong> todo (Ibid., III, 6, 206 b 32;<br />

207 a 27). Esse conceito aristotélico era utilizado<br />

por Lucrécio para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a doutrina<br />

epicurista da infinida<strong>de</strong> do espaço, expresso<br />

com a imagem <strong>de</strong> uma flecha lançada a partir<br />

do limite extremo do universo, admitido por<br />

hipótese; quer a flecha encontre um obstáculo,<br />

quer continue além, o limite extremo do universo<br />

não é mais o mesmo porque é apenas o<br />

ponto <strong>de</strong> partida da flecha (De rer. nat., I, 967-<br />

982). Também nesta imagem I. é aquilo <strong>de</strong> que<br />

se po<strong>de</strong> sempre tomar uma parte, e aquilo que<br />

se toma é sempre finito mas sempre diferente.<br />

Este conceito <strong>de</strong> I. é essencialmente negativo:<br />

consiste na nâo-exauribilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

gran<strong>de</strong>zas submetidas a certas operações,<br />

que são a composição (acréscimo <strong>de</strong> partes<br />

sempre novas) e a divisão em partes sempre<br />

novas. A primeira operação ten<strong>de</strong> ao infinitamente<br />

gran<strong>de</strong>; a segunda, ao infinitamente pequeno<br />

(infinitésimo [v.]): ambas <strong>de</strong>finem o<br />

conceito <strong>de</strong> I. como inexauribilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partes<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> partes. Mas assim entendido o conceito<br />

é obviamente negativo: caracteriza a inexauribilida<strong>de</strong><br />

ou incompletitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma série.<br />

Justamente a esse respeito Plotino observou<br />

que I. é aquilo que não po<strong>de</strong> ser exaurido em<br />

termos <strong>de</strong> .gran<strong>de</strong>za ou <strong>de</strong> número <strong>de</strong> suas<br />

partes (Enn., VI, 9, 6). E Kant, do mesmo ponto<br />

<strong>de</strong> vista, dizia: "O conceito verda<strong>de</strong>iro (transcen<strong>de</strong>ntal)<br />

<strong>de</strong> infinida<strong>de</strong> é que a síntese seqüencial<br />

da unida<strong>de</strong> na medição <strong>de</strong> um quantum nunca<br />

po<strong>de</strong> ser acabada" (Crít. R. Pura, Dialética,<br />

cap. 2, seç. 2). Essa espécie <strong>de</strong> I. foi <strong>de</strong>nominada<br />

pelos lógicos da Ida<strong>de</strong> Média I. sincategoremático<br />

(syncategorematicum), que é o I. entendido<br />

como disposição (não qualida<strong>de</strong>) <strong>de</strong><br />

um sujeito, distinto do I. categoremático, que<br />

seria o I. como qualida<strong>de</strong> ou como substância<br />

(PEDRO HISPANO, Summ. log., 12, 57; OCKHAM,<br />

In Sent., I, d. 17, q. 8). Esse mesmo I. foi <strong>de</strong>finido<br />

pela matemática do séc. XVIII e da primeira<br />

meta<strong>de</strong> do séc. XIX mediante o conceito <strong>de</strong> limite<br />

(como o campo das séries, das sucessões,<br />

etc), mas os matemáticos daquela época não<br />

lhe atribuíram a posição <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za<br />

em si. Gauss dizia numa carta <strong>de</strong> 1831: "Protes-<br />

to contra o emprego <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za I. como<br />

algo completo, emprego que nunca foi admitido<br />

em matemática. O I. é só uma façon <strong>de</strong><br />

parler, a rigor, fala-se <strong>de</strong> limites, dos quais<br />

algumas relações são aproximadas quando se<br />

quer, enquanto a outras relações é permitido<br />

crescer além <strong>de</strong> qualquer medida", (cf. GEY-<br />

MONAT, História e <strong>filosofia</strong> da analise infinitesimal,<br />

1947, pp. 174-75). I paradossi <strong>de</strong>ll'1.<br />

(185D <strong>de</strong> Bernardo Bolzano é uma obra que<br />

marca a primeira abordagem <strong>de</strong>cisiva <strong>de</strong> um<br />

novo conceito do infinito.<br />

b) O segundo é o <strong>de</strong> I. categórico ou (menos<br />

propriamente se diz) atual, ao qual só a matemática<br />

mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>u forma rigorosa. Contudo,<br />

a matemática chegou a esse conceito através<br />

das discussões tradicionais sobre os<br />

<strong>de</strong>nominados paradoxos do infinito. Já R. Bacon,<br />

para refutar a infinida<strong>de</strong> do mundo, fazia notar<br />

que, a admitir-se o I., <strong>de</strong>ve-se concluir que a<br />

parte é maior que o todo a que pertence (Opus<br />

tertium, ed. Brewer, 41, pp. 141-42). Argumentos<br />

semelhantes foram repetidos freqüentemente<br />

na Escolástica do séc. XIV, que no entanto,<br />

com Ockham, <strong>de</strong>u a tais argumentos uma resposta<br />

que indica o caminho.a ser <strong>de</strong>pois seguido<br />

pela matemática da segunda meta<strong>de</strong> do séc.<br />

XIX. De fato Ockham afirma: "Não é incompatível<br />

que a parte seja igual e não menor que<br />

seu todo porque isso acontece toda vez que<br />

uma parte do todo é I. (...) Isso também acontece<br />

na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scontínua ou em qualquer<br />

multiplicida<strong>de</strong>, em que uma das partes tenha<br />

unida<strong>de</strong>s não menores que as contidas no<br />

todo. Assim, em todo o universo não existe um<br />

número maior <strong>de</strong> partes que numa fava, porque<br />

numa fava há infinitas partes. Portanto,<br />

o princípio <strong>de</strong> que o todo é maior que a parte<br />

vale somente para todos os compostos <strong>de</strong><br />

partes integrantes finitas" (Cent. Theol., 17 C;<br />

Quodl, I, q. 9). Essa corajosa limitação do valor<br />

<strong>de</strong> um axioma, que então parecia evi<strong>de</strong>nte,<br />

não teve seguidores durante muito tempo. O<br />

próprio Galilei, para evitar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> entre a parte e o todo (a propósito<br />

da relação entre os quadrados e a série natural<br />

dos números), afirmou que "os atributos 'igual',<br />

'maior' e 'menor' não têm lugar nos I., mas só nas<br />

quantida<strong>de</strong>s finitas" (Scienze nuove, op., VIII,<br />

p. 79), <strong>de</strong>ixando assim inalterada a verda<strong>de</strong> do<br />

pretenso axioma. Este acabaria por ser <strong>de</strong>rrubado,<br />

sendo <strong>de</strong>clarado fruto <strong>de</strong> uma generalização<br />

falaz (cf. RUSSELL, Principies of Mathematics,<br />

1903, p. 360), só quando G. Cantor

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!