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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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PROGRESSO 799 PROGRESSO<br />

que se <strong>de</strong>senvolvam em sentido <strong>de</strong>sejável; 2- a<br />

crença <strong>de</strong> que os acontecimentos históricos<br />

<strong>de</strong>senvolvem-se no sentido mais <strong>de</strong>sejável, realizando<br />

um aperfeiçoamento crescente. No<br />

primeiro sentido, fala-se, p. ex.. do "P. da química"<br />

ou do "P. da técnica"; no segundo sentido,<br />

dizemos simplesmente "o P.". Neste segundo<br />

sentido, a palavra <strong>de</strong>signa não só um<br />

balanço da história passada, mas também uma<br />

profecia para o futuro.<br />

O primeiro sentido restrito do termo não dá<br />

origem a problemas e acha-se em toda parte.<br />

Os antigos também o possuíram, em particular<br />

os estóicos, que o empregaram para indicar o<br />

avanço do homem no caminho da sabedoria e<br />

da <strong>filosofia</strong> (J. STOHKO, HCL. II, 6, 146: o termo<br />

O segundo sentido cio termo não foi conhecido<br />

na Antigüida<strong>de</strong> clássica e na Ida<strong>de</strong> Média.<br />

A concepção geral que os antigos tiveram<br />

cia história foi a <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência, a partir <strong>de</strong> uma<br />

perleiçào primitiva (ida<strong>de</strong> do ouro), 011 <strong>de</strong> ciclo<br />

<strong>de</strong> eventos, que se repete i<strong>de</strong>nticamente sem<br />

limites (v. HISTORIA). Costuma-se atribuir a primeira<br />

enunciaçào da noção <strong>de</strong> P. a Francis<br />

Bacon, que assim a expôs num famoso trecho<br />

do Novum Organnm (1620): "Por antigüida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>veria enten<strong>de</strong>r-se a velhice do mundo, que<br />

<strong>de</strong>ve ser atribuída aos nossos tempos e não á<br />

juventu<strong>de</strong> do mundo, aos antigos. Do mesmo<br />

modo como <strong>de</strong> um homem idoso po<strong>de</strong>mos<br />

esperar um conhecimento muito maior das coisas<br />

humanas e um juízo mais maduro que o <strong>de</strong> um<br />

jovem, graças á experiência e ao gran<strong>de</strong> número<br />

cie coisas que viu. ouviu e pensou, também<br />

da nossa era (se ela tivesse consciência <strong>de</strong> suas<br />

forças e quisesse experimentar e compreen<strong>de</strong>r)<br />

seria justo esperarmos muito mais coisas<br />

que dos tempos antigos, pois esta é a maiorida<strong>de</strong><br />

do mundo, em que ele está enriquecido por<br />

inúmeras experimentações e observações" (Soi'.<br />

Orf>., I, 84). Bacon conclui com a expressão <strong>de</strong><br />

Aulo Gélio (ou melhor, que Aulo Gélio atribuía<br />

a um antigo poeta): ventas filia WniporísiNoct.<br />

Att.. XII. 11). Alguns anos antes, conceitos semelhantes<br />

a estes haviam sido expostos por<br />

Giordano Bruno em Cena <strong>de</strong>lle Cenerí (1584).<br />

No séc. XV11 a noção <strong>de</strong> progresso dá os primeiros<br />

passos, principalmente por meio da<br />

disputa sobre os antigos e os mo<strong>de</strong>rnos (v.<br />

ANTIGOS), enquanto no séc. XVIII, com Voltaire,<br />

Turgot e Condorcet, prevaleceria na concepção<br />

da história. Mas foi só no séc. XIX que esse<br />

conceito se afirmou totalmente, tornando-se, já<br />

nas primeiras décadas, a ban<strong>de</strong>ira do Romantismo<br />

e assumindo o caráter <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. O<br />

conceito <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> do plano progressista<br />

da história era expresso por Fichte da maneira<br />

mais enérgica: "Qualquer coisa que realmente<br />

exista, existe por absoluta necessida<strong>de</strong>; e existe<br />

necessariamente na forma exata em que<br />

existe". Hssa necessida<strong>de</strong> é racionalida<strong>de</strong> pura;<br />

"Nada é como é porque Deus o queira arbitrariamente,<br />

mas porque Deus não po<strong>de</strong> manifestar-se<br />

<strong>de</strong> outro modo. (...) Compreen<strong>de</strong>r com<br />

inteligência clara o universal, o absoluto, o<br />

eterno e o imutável, que é o guia da espécie<br />

humana, é tarefa dos filósofos. Fixar <strong>de</strong> fato a<br />

esfera cambiante e mutável dos fenômenos,<br />

através dos quais prossegue a marcha segura<br />

cia espécie humana, é tarefa cio historiador,<br />

cujas <strong>de</strong>scobertas são só casualmente lembradas<br />

pelo lilósolo" (Cnuulzüge <strong>de</strong>s gegeiucártigoi<br />

Zeilalters, 1806, 9). Idêntica concepção<br />

era <strong>de</strong>fendida pelo positivismo, que, com<br />

Augusto Comte, exalta o P. como idéia diretiva<br />

da ciência e da sociologia, consi<strong>de</strong>rando-o<br />

como "o <strong>de</strong>senvolvimento cia or<strong>de</strong>m" e esten<strong>de</strong>ndo-o<br />

também ã vida inorgânica e animal<br />

(Politic/uepositive, 1851. 1, pp. 64 ss.). ()n the<br />

Origin of Species (1859), <strong>de</strong> Darvvin, atribuía<br />

base positiva ou científica ao mito do P.,<br />

aduzindo provas favoráveis ao transíormismo<br />

biológico interpretado em sentido otimista ou<br />

progressista. A obra <strong>de</strong> Spencer (First Principies,<br />

1862) utilizava a noção <strong>de</strong> P. para dar da<br />

realida<strong>de</strong> uma interpretação metafísica que<br />

pretendia ser positiva ou científica.<br />

Fstas são apenas as etapas mais marcantes<br />

da afirmação <strong>de</strong> um conceito que dominou<br />

todas as manifestações da cultura oci<strong>de</strong>ntal do<br />

séc. XIX e ainda continua sendo pano <strong>de</strong> fundo<br />

<strong>de</strong> muitas concepções filosóficas e científicas.<br />

As principais implicações <strong>de</strong>ssa noção são as<br />

seguintes: \- o curso dos eventos (naturais e<br />

históricos) constitui uma série unilinear; 2 a cada<br />

termo <strong>de</strong>sta série é necessário no sentido <strong>de</strong><br />

não po<strong>de</strong>r ser diferente do que é; 3 a cada termo<br />

da série realiza um incremento <strong>de</strong> valor sobre<br />

o prece<strong>de</strong>nte-, 4 a qualquer regressão é aparente<br />

e constitui a condição <strong>de</strong> um P. maior. Às<br />

vezes, como na <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Hegel, limitam-se<br />

as condições <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> da 3- proposição por<br />

se admitir que a história constitui um círculo no<br />

qual as fases mais elevadas, já realizadas, constituem<br />

as condições para as mais baixas, <strong>de</strong> tal<br />

modo que estas possuem a mesma racionalida<strong>de</strong><br />

ou perfeição do todo (cf. HKGIX, Wissens-

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