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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NUMERO 719 NUMERO<br />

nas "idéias ou imagens'' (De corp., VII, § 1).<br />

Locke vê no K. uma idéia complexa, mais precisamente<br />

um "modo simples obtido através da<br />

repetição da unida<strong>de</strong>" (Ensaio, II, 16, 2); no<br />

mesmo sentido, Leihniz diz que o N. é uma<br />

idéia a<strong>de</strong>quada ou completa, ou seja, "uma<br />

idéia tão distinta que todos seus ingredientes<br />

são distintos" (Nouv. ess., II, 31, D- Berkeley<br />

afirma que o número "é inteiramente criatura<br />

do espírito" (Princ. of Human Knowledge, I,<br />

12). Newton afirma que por N. é preciso enten<strong>de</strong>r<br />

"não tanto a multidão das unida<strong>de</strong>s quanto<br />

a relação entre a quantida<strong>de</strong> abstrata <strong>de</strong> uma<br />

qualida<strong>de</strong> e uma quantida<strong>de</strong> do mesmo gênero<br />

que se assume como unida<strong>de</strong>" (Arithmetica<br />

universalis, cap. 2). Definição análoga é a<br />

<strong>de</strong> Wolff, para quem "o N. geralmente tem com<br />

a unida<strong>de</strong> a mesma relação que uma reta qualquer<br />

po<strong>de</strong> ter com uma reta dada" (Ont.,<br />

§ 406). Esta <strong>de</strong>finição, como a <strong>de</strong> Newton, faz<br />

do N. a operação com que se estabelece uma<br />

relação <strong>de</strong> medida.<br />

Kant só fazia expressar o mesmo conceito<br />

geral ao afirmar que o N. é um esquema (v.),<br />

mais precisamente que ele é "a representação<br />

que compreen<strong>de</strong> a sucessiva adição <strong>de</strong> um a<br />

um (homogêneos)" (Crít. R. Pura, Anal. dos<br />

princ, cap. 1). A novida<strong>de</strong> do conceito kantiano<br />

é que o N. não é uma operação empírica,<br />

efetuada em material sensível, mas uma operação<br />

puramente intelectual, que atua sobre a<br />

multiplicida<strong>de</strong> dada pela intuição pura (do<br />

tempo), que é absolutamente homogênea. Isto<br />

faz do N. algo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da experiência,<br />

dotado <strong>de</strong> um gênero <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> que não é o<br />

empírico; mas o N. continua sendo uma operação<br />

do sujeito. Enquanto esta concepção kantiana<br />

era representada várias vezes na <strong>filosofia</strong><br />

do séc. XIX, Stuart Mill voltava ao conceito do<br />

N. como operação empírica <strong>de</strong> abstração: "Todos<br />

os N. <strong>de</strong>vem ser N. <strong>de</strong> algo: não há N. em<br />

abstrato". Portanto, os N. são produtos <strong>de</strong> uma<br />

"indução real, <strong>de</strong> uma inferência real <strong>de</strong> fatos a<br />

fatos", e tal indução só é ocultada pela sua<br />

natureza abrangente e pela conseqüente generalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> linguagem em que <strong>de</strong>semboca (Logic,<br />

II, 6, 2). De certo modo, as posições <strong>de</strong> Kant e<br />

<strong>de</strong> Stuart Mill são típicas <strong>de</strong>ssa fase subjetiva do<br />

conceito <strong>de</strong> N.: o N. é uma operação intelectual<br />

pura para Kant, é uma generalização empírica<br />

para Stuart Mill, mas em ambos os casos pertence<br />

à esfera da subjetivida<strong>de</strong>. Pertencem a<br />

essa concepção do N. as doutrinas <strong>de</strong> Cantor e<br />

<strong>de</strong> De<strong>de</strong>kind. Para Cantor, o fundamento do N.<br />

é a faculda<strong>de</strong> que o pensamento tem <strong>de</strong> agrupar<br />

os objetos e <strong>de</strong> abstrair da natureza e da<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>les (o que dá lugar ao N. cardinal) ou<br />

apenas da natureza <strong>de</strong>les (o que dá lugar ao N.<br />

ordinziY). De<strong>de</strong>kind, por sua vez, fundou o conceito<br />

<strong>de</strong> N. na operação <strong>de</strong> emparelhar ou acoplar<br />

as coisas. Conquanto matematicamente profícuas,<br />

essas noções mantêm o conceito <strong>de</strong> N. no<br />

âmbito da subjetivida<strong>de</strong>.<br />

5- A terceira fase conceptual da noção <strong>de</strong> N.<br />

(a <strong>de</strong> N. objetivo, mas não real) foi iniciada<br />

pela obra <strong>de</strong> Frege Fundamentos da aritmética<br />

(1884). Frege atribuía caráter conceptual ao<br />

N., mas também objetivida<strong>de</strong>. Isto, em primeiro<br />

lugar, exclui que o N. seja uma operação ou<br />

uma realida<strong>de</strong> psicológica, uma idéia no sentido<br />

setecentista do termo: "O N. não constitui<br />

um objeto cia psicologia nem po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

resultado <strong>de</strong> processos psíquicos, assim<br />

como não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>sse modo o<br />

Mar do Norte. Faço uma distinção nítida entre<br />

o que é objetivo e o que é palpável, real e<br />

ocupa espaço. P. ex.. o eixo terrestre e o baricentro<br />

do sistema solar são objetivos, mas eu<br />

não diria que são reais como o é a terra" (Die<br />

Grundlagen <strong>de</strong>r Arithmetik, § 26; trad. it., pp.<br />

70-71). A matemática já havia estabelecido a<br />

insuficiência da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> N. como coleção<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, por isso levaria a excluir 0 e 1<br />

como N. (Aristóteles reconhecia esse fato no<br />

que diz respeito ao 1; Met., XIV, 1, 1088 a 5).<br />

Frege assume como base da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> número<br />

a extensão (v.) do conceito c diz que "o<br />

conceito Fé tão numeroso quanto o conceito G<br />

sempre que existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr em<br />

correspondência biunívoca os objetos pertinentes<br />

a Ge os pertinentes a F". Em vista disso,<br />

dá a seguinte <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> N.: "O N. natural que<br />

cabe ao conceito /-'nada mais é que a extensão<br />

a F do conceito 'tão numeroso quanto'" (Ibid.,<br />

§ 68, p. 134). Esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Frege foi expressa<br />

por Russell em termos <strong>de</strong> classes, e não <strong>de</strong><br />

conceitos. Russell diz: "Quando se tem uma<br />

relação termo a termo entre todos os termos <strong>de</strong><br />

um conjunto e todos os termos <strong>de</strong> outro, dizemos<br />

que os dois conjuntos são semelhantes.<br />

Po<strong>de</strong>mos ver então que dois conjuntos semelhantes<br />

têm o mesmo N. <strong>de</strong> termos, e <strong>de</strong>finirmos<br />

o N. <strong>de</strong> um conjunto dado como a classe<br />

<strong>de</strong> todos os conjuntos semelhantes a ele. Resulta<br />

a seguinte <strong>de</strong>finição formal: 'o N. dos termos<br />

<strong>de</strong> ama classe dada <strong>de</strong>fine-se como a classe<br />

<strong>de</strong> todas as classes semelhantes à classe dada'"<br />

(Our Knoivledge of the Externai World, 3 a ed.,

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