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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MUSICA 691 MUSICA<br />

<strong>de</strong>finição objetiva ou científica da M. (cf.<br />

HANSLICK, Vom Musikalisch-Shônen. 1854, a<br />

nota final do cap. 1), e nela se inspirou a obra<br />

<strong>de</strong> Wagner, que <strong>de</strong> fato compartilhava a <strong>filosofia</strong><br />

<strong>de</strong> Schopenhauer sobre M. Nietzsche,<br />

na juventu<strong>de</strong>, adotou essa concepção, <strong>de</strong>la se<br />

<strong>de</strong>sligando a partir <strong>de</strong> 1878 (com Humano, <strong>de</strong>masiado<br />

humano), quando começou a entrever<br />

na obra <strong>de</strong> Wagner, que se orientava nostalgicamente<br />

para o Cristianismo, o abandono<br />

dos valores vitais da Antigüida<strong>de</strong> clássica e um<br />

espírito <strong>de</strong> renúncia e resignação. Mas nem<br />

mesmo Nietzsche se afastou realmente do conceito<br />

romântico <strong>de</strong> M. Seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> M. "meridional"<br />

(como a <strong>de</strong> Bizet) conserva ainda a característica<br />

romântica <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> sentimentos,<br />

ainda que <strong>de</strong> um sentimento situado "além<br />

do bem e do mal". De fato, escreveu: "Meu<br />

i<strong>de</strong>al seria uma M. cujo maior fascínio consistisse<br />

na ignorância do bem e cio mal, uma M. que<br />

no máximo vibrasse por alguma nostalgia <strong>de</strong><br />

marinheiro, por alguma sombra dourada, por<br />

alguma lembrança terna; uma arte que absorvesse<br />

em si, com gran<strong>de</strong> distância, todas as cores<br />

<strong>de</strong> um mundo moral no crepúsculo, um<br />

mundo quase incompreensível, e que fosse suficientemente<br />

hospitaleira e profunda para acolher<br />

em si os últimos fugitivos" (Jenseits von<br />

Gut und Bóse, § 255). Ainda hoje se recorre<br />

freqüentemente à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> M. como expressão<br />

<strong>de</strong> sentimentos ou pelo menos isso é<br />

pressuposto como coisa óbvia e certa (cf. p.<br />

ex., DI-WF.Y, Ari asHxperience, cap, 10; trad. it.,<br />

pp. 278 ss.). Na Itália, isso foi reforçado pela<br />

doutrina crociana da arte como expressão <strong>de</strong><br />

sentimentos, mas, obviamente, essa doutrina<br />

nada mais é que a generalização, para todo o<br />

domínio da arte, da <strong>de</strong>finição romântica <strong>de</strong><br />

M. Hsta <strong>de</strong>finição ainda se materializa freqüentemente<br />

na figura do músico, consi<strong>de</strong>rado<br />

como sacerdote ou profeta que sabe<br />

ouvir a voz do Absoluto e traduzi-la para a<br />

linguagem sonora do sentimento, Ainda hoje<br />

raramente se renuncia a almejar essa representação<br />

romântica da M., graças à qual os ouvintes<br />

da M. sentem-se arrebatados num horizonte<br />

místico, on<strong>de</strong> os acor<strong>de</strong>s musicais são palavras<br />

<strong>de</strong> uma divinda<strong>de</strong> oculta.<br />

2- A característica da segunda concepção<br />

fundamental da M. é a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, que ela implica,<br />

entre a M. e suas técnicas. Tal i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

foi claramente expressada por Aristóteles, ao<br />

reconhecer a multiplicida<strong>de</strong> das técnicas musicais:<br />

"A M. não <strong>de</strong>ve ser praticada por um úni-<br />

co tipo <strong>de</strong> benefício que <strong>de</strong>la possa resultar,<br />

mas para usos múltiplos, pois po<strong>de</strong> servir para<br />

a educação, para a catarse e, em terceiro lugar,<br />

para o repouso, o alívio da alma e a suspensão<br />

<strong>de</strong> todos os afãs. Disso resulta que é preciso fazer<br />

uso <strong>de</strong> todas as harmonias, mas não <strong>de</strong> todas<br />

no mesmo modo, empregando para a educação<br />

as que têm maior conteúdo moral, e para<br />

outras finalida<strong>de</strong>s as que incitam â ação ou<br />

inspiram â comoção" (Foi., VIII, 7, 1341 b 30<br />

ss.). Essas consi<strong>de</strong>rações, que, em sua aparente<br />

simplicida<strong>de</strong>, parecem excluir a interpretação<br />

filosófica da M. na realida<strong>de</strong> expressam o conceito<br />

<strong>de</strong> que a M. é um conjunto <strong>de</strong> técnicas<br />

expressivas que têm objetivos ou usos diversos<br />

e que po<strong>de</strong>m ser in<strong>de</strong>finida e oportunamente<br />

variadas. Na realida<strong>de</strong>, esse conceito é o único<br />

que ajudou e sustentou o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

arte musical. Retornou no Renascimento, sendo<br />

assim expresso por Vicente Galilei: "O uso da<br />

M. foi introduzido pelos homens para o respeito<br />

e o fim indicado <strong>de</strong> comum acordo pelos sábios;<br />

<strong>de</strong> outra coisa não nasceu senão, principalmente,<br />

da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar com<br />

mais eficácia os conceitos do espírito <strong>de</strong>les ao<br />

celebrarem os louvores, a Deus, aos gênios e<br />

aos heróis, como.se po<strong>de</strong> em parte compreen<strong>de</strong>r<br />

nos cantochãos e cantos eclesiásticos, origem<br />

<strong>de</strong>sta nossa (M.) a várias vozes, e imprimilos,<br />

a seguir, com idêntica força nas mentes cios<br />

mortais, para a utilida<strong>de</strong> e a comodida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les"<br />

(Dialogo <strong>de</strong>lia M. antica e <strong>de</strong>lia mo<strong>de</strong>rna,<br />

1581, ed. Fano, 1947. pp. 95-96). Nestas palavras<br />

<strong>de</strong> Galilei também se reconhece claramente<br />

o caráter expressivo das técnicas musicais: caráter<br />

que faz da M. uma arte no sentido mo<strong>de</strong>rno<br />

do termo (v. KSTKTICA). O conceito <strong>de</strong> técnica<br />

expressiva é apresentado por Kant com a<br />

noção <strong>de</strong> "belo jogo <strong>de</strong> sensações", que ele<br />

utiliza para <strong>de</strong>finir a M. e a técnica das cores.<br />

Kant observa que "não se po<strong>de</strong> saber com certeza<br />

se uma cor e um som são simples sensações<br />

agradáveis ou se já são, em si mesmos,<br />

um belo jogo <strong>de</strong> sensações e, portanto, contêm,<br />

enquanto jogo, um prazer que <strong>de</strong>corre da<br />

forma <strong>de</strong>les no juízo estético". Alguns fatos,<br />

especialmente a falta cie sensibilida<strong>de</strong> artística<br />

em alguns homens e a excelência <strong>de</strong>ssa<br />

sensibilida<strong>de</strong> em outros, convencem a consi<strong>de</strong>rar<br />

que as sensações dos dois sentidos, visão<br />

e audição, não são simples impressões sensíveis,<br />

mas "efeito <strong>de</strong> um juízo formal no jogo<br />

<strong>de</strong> muitas sensações". Km todo caso, "segundo<br />

se adote uma ou outra opinião ao julgar

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