22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

FELICIDADE 434 FELICIDADE<br />

precisamente o que consiste em uma premissa<br />

universal negativa, uma premissa universal afirmativa<br />

e uma conclusão parcial negativa, como<br />

no exemplo: "Nenhum homem é pedra; todo<br />

homem é animal; logo algum animal não é<br />

pedra" (PEDRO HISPANO, Summ. log. 4. 14).<br />

FELICIDADE (gr. eú5oau,oví(X; lat. Felicitas;<br />

in. Happiness; fr. Bonheur, ai. Glückseligkeit; it.<br />

Felicita). Em geral, estado <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong>vido<br />

à situação no mundo. Por esta relação com a situação,<br />

a noção <strong>de</strong> F. difere <strong>de</strong> bem-aventurançaiy.),<br />

que é o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> satisfação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da relação do homem com o mundo, por<br />

isso limitada à esfera contemplativa ou religiosa.<br />

O conceito <strong>de</strong> F. é humano e mundano.<br />

Nasceu na Grécia antiga, on<strong>de</strong> Tales julgava<br />

feliz "quem tem corpo são e forte, boa sorte e<br />

alma bem formada" (DiÓG. L, I, 1, 37). A boa<br />

saú<strong>de</strong>, a boa sorte na vida e o sucesso da formação<br />

individual, que constituem os elementos<br />

da F., são inerentes à situação do homem no<br />

mundo e entre os outros homens. Demócrito,<br />

<strong>de</strong> maneira quase análoga, <strong>de</strong>finia a F. como "a<br />

medida do prazer e a proporção da vida", que<br />

era manter-se afastado dos <strong>de</strong>feitos e dos excessos<br />

(Fr. 191, Diels). De qualquer maneira,<br />

F. e infelicida<strong>de</strong> pertencem à alma (Fr., 170,<br />

Diels), uma vez que somente a alma "é morada<br />

do nosso <strong>de</strong>stino" (Fr. 171, Diels). A relação<br />

que muitas vezes se estabeleceu entre F. e prazer<br />

tem o mesmo significado, ou seja, é a conexão<br />

entre o estado <strong>de</strong>finido como F. e a relação<br />

com o próprio corpo, com as coisas e com os<br />

homens. A tese segundo a qual a F. é o sistema<br />

dos prazeres foi expressa com toda a clareza<br />

por Aristipo, que fez a distinção entre prazer e<br />

felicida<strong>de</strong>. Somente o prazer é bem, porque só<br />

ele é <strong>de</strong>sejado por si mesmo, sendo portanto<br />

fim em si. "O fim é o prazer particular, a F. é o<br />

sistema dos prazeres particulares, em que se<br />

somam também os passados e os futuros"<br />

(DiÓG. L, II, 8, 87). Egesias, que negava a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> F., negava-a justamente pelo fato<br />

<strong>de</strong> que os prazeres são <strong>de</strong>masiado raros e passageiros<br />

(Ibicl., II, 8, 94). Por outro lado, Platão<br />

negava que a felicida<strong>de</strong> consistisse no prazer e<br />

a julgava, ao contrário, relacionada com a virtu<strong>de</strong>.<br />

"Os felizes são felizes por possuírem a justiça<br />

e a temperança; os infelizes são infelizes por<br />

possuírem a malda<strong>de</strong>", diz ele em Górgias(508<br />

b); no Banquete (202 c) são chamados <strong>de</strong> felizes<br />

"aqueles que possuem bonda<strong>de</strong> e beleza".<br />

Mas justiça e temperança são virtu<strong>de</strong>s; "possuir<br />

bonda<strong>de</strong> e beleza" significa ainda ser virtuoso;<br />

e a virtu<strong>de</strong> outra coisa não é, segundo Platão,<br />

senão a capacida<strong>de</strong> da alma <strong>de</strong> cumprir seu<br />

próprio <strong>de</strong>ver, ou seja, <strong>de</strong> dirigir o homem da<br />

melhor maneira (Kep., I, 353 d. ss.). Portanto,<br />

também a noção platônica <strong>de</strong> F. é relativa à situação<br />

do homem no mundo e aos <strong>de</strong>veres<br />

que aqui lhe cabem. Quanto a Aristóteles, insistiu<br />

no caráter contemplativo da F. em seu grau<br />

superior, a bem-aventurança (v.), mas apresentou<br />

uma noção mais ampla <strong>de</strong> F., <strong>de</strong>finindo-a<br />

como "certa ativida<strong>de</strong> da alma, realizada<br />

em conformida<strong>de</strong> com a virtu<strong>de</strong>" (Et. nic, I,<br />

13, 1102 b); ela não exclui, mas inclui a satisfação<br />

das necessida<strong>de</strong>s e das aspirações mundanas.<br />

As pessoas felizes, segundo Aristóteles,<br />

<strong>de</strong>vem possuir as três espécies <strong>de</strong> bens que se<br />

po<strong>de</strong>m distinguir, quais sejam, os exteriores, os<br />

do corpo e os da alma (Ibid., 1153 b, 17 ss.;<br />

Pol., VII, 1, 1323 a 22). É verda<strong>de</strong> que "os bens<br />

exteriores, assim como qualquer instrumento,<br />

têm um limite <strong>de</strong>ntro do qual <strong>de</strong>sempenham<br />

sua função utilitária <strong>de</strong> instrumentos, mas além<br />

do qual se tornam prejudiciais ou inúteis para<br />

quem os possui. Os bens espirituais, ao contrário,<br />

quanto mais abundantes, mais úteis". Mas<br />

em geral po<strong>de</strong>-se dizer que "cada qual merece<br />

a F., na medida da virtu<strong>de</strong>, do tino e da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> bem agir que possui, po<strong>de</strong>ndo se tomar<br />

como exemplo a divinda<strong>de</strong>, que é feliz e<br />

bem-aventurada não graças aos bens exteriores,<br />

mas por si mesma, por aquilo que ela<br />

é, por natureza" (Pol., VII, 1, 1323 b 8). A F. é<br />

portanto mais acessível ao sábio que mais facilmente<br />

se basta a si mesmo (Et. nic, X, 7, 1777,<br />

a 25), mas é a isso que <strong>de</strong>vem ten<strong>de</strong>r todos os<br />

homens e as cida<strong>de</strong>s.<br />

A ética pós-aristotélica, ao contrário, ocupase<br />

exclusivamente da F. do sábio; a nítida distinção<br />

feita pelos estóicos entre sábios e loucos<br />

torna obviamente inútil preocupar-se com<br />

estes últimos. O sábio é aquele que basta a si<br />

mesmo e que acha a F. em si mesmo, o que<br />

melhor se chamaria bem-aventurança. Plotino<br />

censura na noção aristotélica <strong>de</strong> F. o fato <strong>de</strong> ela<br />

consistir em que cada ser <strong>de</strong>sempenhe sua função<br />

e atinja seus próprios objetivos, po<strong>de</strong>ndo<br />

ser perfeitamente aplicada não só aos homens,<br />

mas também aos animais e às plantas (Enn., I,<br />

4, 1 ss.). Nos estóicos Plotino critica a incoerência<br />

que consiste em consi<strong>de</strong>rar a F. in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

das coisas externas ao mesmo tempo<br />

que aponta essas mesmas coisas como objeto<br />

da razão. Para Plotino, a F. é a própria vida;<br />

por isso, enquanto pertence a todos os seres vi-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!