22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

POSSÍVEL 781 POSSÍVEL<br />

Kierkegaard às vezes utiliza expressões que<br />

não são rigorosamente compatíveis com a<br />

in<strong>de</strong>terminaçào objetiva das possibilida<strong>de</strong>s,<br />

como p. ex. "Tudo c P." ou "todas as possibilida<strong>de</strong>s".<br />

Consi<strong>de</strong>rando as possibilida<strong>de</strong>s como<br />

infinitas, acaba-se por excluir sua in<strong>de</strong>terminação<br />

e limitação: <strong>de</strong> tato, o que falta a uma <strong>de</strong>las<br />

para realizar-se infalivelmente po<strong>de</strong> ser suprido<br />

pelas outras, se elas forem infinitas; as possibilida<strong>de</strong>s<br />

transformam-se, então, em potencialida<strong>de</strong>s<br />

necessárias.<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, porém, o conceito<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> objetiva é entendido no<br />

seu sentido empiricamente <strong>de</strong>terminado e<br />

finito. Peirce fala em "possibilida<strong>de</strong>s substanciais"<br />

(cm oposição às possibilida<strong>de</strong>s lógicas),<br />

como as que se fundam em informações referentes<br />

aos fatos e a suas leis; e diz que tais possibilida<strong>de</strong>s<br />

coincidiriam com a necessida<strong>de</strong> só<br />

na hipótese <strong>de</strong> uma informação onisciente<br />

(Coll. Pap., 4, 67). Devvey enten<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong>,<br />

no âmbito da matemática e, em geral, da<br />

investigação científica, como possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

operações ou <strong>de</strong> transformações (Logic, XV e<br />

XX, 3). Wittgenstein afirma que possibilida<strong>de</strong> é<br />

o que se expressa por uma proposição sensata,<br />

que se distingue da tautología, que é a proposição<br />

da lógica ou da matemática, que "nada<br />

diz", e da contradição (Tractalus, 5, 525). Em<br />

outros termos, para Wittgenstein, a proposição<br />

sensata é apenas a expressão da possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um fato. Lukasiewicz e Tarski formularam<br />

os princípios <strong>de</strong> uma lógica da P., cujo fim<br />

seria evitar o <strong>de</strong>terminismo (v. os textos citados<br />

em TERCEIRO EXCLUÍDO. PRINCÍPIO DO).<br />

Reichenbach, por sua vez, distinguiu da possibilida<strong>de</strong><br />

lógica a possibilida<strong>de</strong> física e a<br />

possibilida<strong>de</strong> técnica: a primeira significa<br />

algo que não contradiz as leis empíricas; a<br />

segunda, algo que pertence ao reino dos<br />

métodos práticos conhecidos ("Verifiability,<br />

Theory of Meaning", em Proceedings of the<br />

American Aca<strong>de</strong>my ofArts and Sciences, 1951,<br />

(80", p. 53)- Além disso, pôs a possibilida<strong>de</strong> física<br />

como fundamento da probabilida<strong>de</strong><br />

( Theory ofProbabílily, § 74). Mas está claro que<br />

esse ponto <strong>de</strong> vista po<strong>de</strong> ser generalizado, e<br />

que só se po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma possibilida<strong>de</strong><br />

objetiva em contextos particulares, ou seja,<br />

com base cm condições c regras vigentes em<br />

<strong>de</strong>terminado campo. P. ex.. no que diz respeito<br />

ao homem, a possibilida<strong>de</strong> física que ele tem<br />

<strong>de</strong> realizar <strong>de</strong>terminada ação não coinci<strong>de</strong> necessariamente<br />

com as possibilida<strong>de</strong>s jurídicas<br />

ou morais que lhe são oferecidas pelo sistema<br />

social em que vive.<br />

Muitas das possibilida<strong>de</strong>s que seu organismo<br />

físico permitem efetivar são-lhe obstadas<br />

pelas normas jurídicas e morais. Portanto, para<br />

cada possibilida<strong>de</strong> objetiva é indispensável a<br />

referência a um contexto <strong>de</strong> condições e <strong>de</strong> regras<br />

técnicas <strong>de</strong>terminadas, e falar-se em possibilida<strong>de</strong><br />

sem especilicar esse contexto só po<strong>de</strong><br />

dar ensejo a equívocos. Aliás, o mesmo se<br />

po<strong>de</strong> dizer das ciências: uma possibilida<strong>de</strong> lógico-matemática<br />

nem sempre é uma possibilida<strong>de</strong><br />

física, ou seja, passível <strong>de</strong> efetivação com<br />

base em leis da física, e assim por diante (cf. J.<br />

R. LUCAS, The Concept of'Probability, 1970, p. 6<br />

e passim).<br />

No campo da metodologia historiográfica, a<br />

noção <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> objetiva foi consi<strong>de</strong>rada<br />

indispensável por Max Weber (Kritische<br />

Studien auf<strong>de</strong>n Gebiet <strong>de</strong>r Kulturivissenscbaftlichen<br />

Logik. 1906; cf. especialmente a segunda<br />

parte; trad. in., cm The Methodology of lhe<br />

Social Sciences, pp. 164 ss.; trad. it. em II método<br />

<strong>de</strong>lle scienze storico-sociali, pp. 207 ss.)<br />

sendo empregada também em obras mais recentes<br />

(p. ex., W. DRAV, Lairs and Expia na -<br />

tion in Ilistory, 1957, VI, 3; cf. HISTÓRIA;<br />

HISTORIOGRAFIA). NO campo das ciências biológicas,<br />

essa noção foi utilizada por Goldstein<br />

(Der Aufbtm <strong>de</strong>s Organismus, 1934;<br />

trad. fr. 1951) e ten<strong>de</strong> a ser utilizada no domínio<br />

psiquiátrico (cf., p. ex., M. TORRE, "La<br />

categoria <strong>de</strong>i possibile in psicopatologia", em<br />

Note e Riviste dipsichiairia, 1957). Além disso,<br />

a genética e a teoria da evolução utilizam constantemente<br />

esse conceito, <strong>de</strong>signando-o às vezes<br />

com outro nome (p. ex., com o nome <strong>de</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>, cf. G. SIMPSON, The Meaning of<br />

Evohition. cap. XII, "The Opportunism of Lvolution").<br />

Na sociologia, os conceitos que, implícita<br />

ou explicitamente, recorrem à noção cio P.<br />

são os mais numerosos. Lévy-Bruhl falou do<br />

"limite do P." como constitutivo da experiência<br />

racional, por isso como <strong>de</strong>ficiente ou ausente<br />

na mentalida<strong>de</strong> primitiva (I.es caniets, 1949;<br />

trad. it., p. 98 ss.). Toda a teoria da probabilida<strong>de</strong>,<br />

seja qual for a sua interpretação, baseia-se<br />

nessa noção <strong>de</strong> P. (cf., p. ex.. REICIIEXBACH.<br />

Theory of Probability. § 74; e POPPER. que fala<br />

da probabilida<strong>de</strong> como "vector no espaço das<br />

possibilida<strong>de</strong>s"; v. PROBABILIDADE). Finalmente,<br />

é quase supérfluo lembrar a importância que a<br />

noção <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> objetiva tem na <strong>filosofia</strong><br />

existencialista, em que constitui o principal

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!