22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

INTUIÇÃO 583 INTUICIONISMO<br />

romântico. As três alternativas <strong>de</strong>ixaram, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o interesse da <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea. A primeira <strong>de</strong> fato pertence<br />

à esfera das especulações teológicas. A<br />

segunda ten<strong>de</strong> a ser substituída pelo conceito<br />

<strong>de</strong> experiência como método ou como conjunto<br />

<strong>de</strong> métodos (v. EXPERIÊNCIA). A terceira<br />

está estritamente ligada à metafísica do Romantismo<br />

(velho e novo): ascen<strong>de</strong> e <strong>de</strong>clina<br />

com ele.<br />

Em 1868 Peirce fez uma crítica do conceito<br />

<strong>de</strong> I., negando: 1 Q que ela pu<strong>de</strong>sse servir para<br />

garantir a referência imediata <strong>de</strong> um conhecimento<br />

ao seu objeto; 2- que ela pu<strong>de</strong>sse constituir<br />

o conhecimento evi<strong>de</strong>nte que o Eu tem <strong>de</strong> si<br />

mesmo; 3 e que pu<strong>de</strong>sse capacitar a distinguir<br />

os elementos subjetivos <strong>de</strong> conhecimentos diferentes.<br />

Ao mesmo tempo, Peirce afirmava a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar sem signos e <strong>de</strong><br />

conhecer sem recorrer ao vínculo recíproco<br />

dos conhecimentos (Coll. Pap., 5.213-263).<br />

Essas negações e afirmações <strong>de</strong> Peirce foram<br />

e são amplamente aceitas pela <strong>filosofia</strong> contemporânea.<br />

Hoje, mais que aos filósofos, a I. serve aos<br />

cientistas, particularmente a matemáticos e lógicos,<br />

quando estes querem frisar o caráter<br />

inventivo <strong>de</strong> sua ciência. Clau<strong>de</strong> Bernard dizia:<br />

"A I. ou sentimento gera a idéia ou a hipótese<br />

experimental, ou seja, a interpretação antecipada<br />

dos fenômenos da natureza. Toda a iniciativa<br />

experimental está na idéia, pois só ela<br />

provoca a experiência. A razão ou o raciocínio<br />

servem apenas para <strong>de</strong>duzir as conseqüências<br />

<strong>de</strong>ssa-idéia e para submetê-las à experiência"<br />

(Intr. ã 1'étu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ia mé<strong>de</strong>cine expérimentale,<br />

1865,1, 2, § 2). Poincaré repetia, com referência<br />

à matemática, o que Bernard dissera a propósito<br />

das ciências experimentais: "Demonstra-se<br />

com a lógica, mas só se inventa com a I. (...) A<br />

faculda<strong>de</strong> que nos ensina a ver é a intuição.<br />

Sem ela, o geômetra seria como o escritor bom<br />

<strong>de</strong> gramática, mas vazio <strong>de</strong> idéias" (Science et<br />

métho<strong>de</strong>, 1909, p. 137). Ainda segundo Poincaré,<br />

na matemática a exigência lógica leva à<br />

formulação analítica; a exigência intuitiva, à formulação<br />

geométrica. "Assim, a lógica e a I. têm<br />

cada uma sua missão. Ambas são indispensáveis.<br />

A lógica, a única que po<strong>de</strong> dar certezas, é<br />

o instrumento da <strong>de</strong>monstração: a I. é o instrumento<br />

da invenção" (La valeur <strong>de</strong> Ia science,<br />

1905, p. 29). Nesse sentido, como já se observou<br />

algumas vezes, a I. tem caráter mais negativo<br />

que positivo: ela antecipa o que não <strong>de</strong>cor-<br />

re da observação empírica ou não po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>duzido dos conhecimentos já possuídos.<br />

Portanto, parece <strong>de</strong>signar apenas certo grau <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> do pesquisador e nada tem a ver<br />

com o significado filosófico tradicional do termo,<br />

no qual se insere o emprego que <strong>de</strong>le<br />

fazem os matemáticos intuicionistas (v. INTUI-<br />

CIONISMO, 4 e ).<br />

INTUIÇÃO DO MUNDO (ai. Weltanschauung).<br />

Sobre a <strong>filosofia</strong> como "I." ou "visão do<br />

mundo" v. FILOSOFIA. K. Jaspers escreveu Psicologia<br />

da cosmovisão, distinguindo a imagem<br />

espácio-sensorial do mundo, a psicocultural e<br />

a metafísica (Psychologie <strong>de</strong>r Weltanschauungen,<br />

1925; trad. it., Roma, 1950).<br />

INTUICIONISMO (in. Intuitionism; fr. Intuitionnisme;<br />

ai. Intuítíonismus; it. Intuizíonismo).<br />

Com este termo são indicadas atitu<strong>de</strong>s<br />

filosóficas ou científicas diversas, que têm em<br />

comum o recurso à intuição no sentido mais<br />

geral do termo. Em particular, relacionam-se<br />

sob o nome <strong>de</strong> I. as seguintes correntes:<br />

1 B a <strong>filosofia</strong> escocesa do senso comum, por<br />

admitir que a <strong>filosofia</strong> se fundamenta em certas<br />

verda<strong>de</strong>s primitivas e indubitáveis, conhecidas<br />

por intuição (v. SENSO-COMUM);<br />

2 e a doutrina <strong>de</strong> Bergson, segundo a qual a<br />

intuição é o órgão próprio da <strong>filosofia</strong>;<br />

3 9 a doutrina <strong>de</strong> N. Hartmann e <strong>de</strong> Scheler,<br />

segundo a qual os valores são objeto <strong>de</strong> uma<br />

intuição que se i<strong>de</strong>ntifica com o sentimento (v.<br />

VALOR);<br />

4 a a corrente matemática fundada por L. E.<br />

J. Brouwer, inspirada nas idéias <strong>de</strong> L. Kronecker<br />

(1923-91), para quem o conceito <strong>de</strong> número<br />

natural fora dado à intuição humana, afirmando<br />

que os números naturais foram feitos por<br />

Deus e os outros pelo homem. As teses típicas<br />

do I. <strong>de</strong> Brouwer são as seguintes: I a a existência<br />

dos objetos matemáticos é <strong>de</strong>finida pela sua<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção: por isso, só "existem"<br />

entes matemáticos que possam ser construídos;<br />

2 S o princípio do terceiro excluído não<br />

é válido para proposições em que haja referência<br />

a gran<strong>de</strong>zas infinitas; 3 Q as <strong>de</strong>finições impredicativas<br />

não são válidas. A rejeição do princípio<br />

do terceiro excluído implica a rejeição da<br />

dupla negação, portanto do método da prova<br />

indireta. Este método, entretanto, fundamenta a<br />

corrente formalista da matemática, patrocinada<br />

por Hilbert; segundo essa concepção, para<br />

estabelecer a existência <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> matemática<br />

basta a <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que ela não<br />

implica contradição (cf. A. HEYTING, Mathe-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!