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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 321 EMOÇÃO<br />

eu do que o sentimento vital <strong>de</strong> bem-estar ou<br />

<strong>de</strong> mal-estar. Enfim, os sentimentos espirituais<br />

i<strong>de</strong>ntificam-se com o eu no sentido <strong>de</strong> que não<br />

po<strong>de</strong>m constituir estados distintos <strong>de</strong>le. Na bemaventurança<br />

e no <strong>de</strong>sespero, aliás, já na serenida<strong>de</strong><br />

e na paz <strong>de</strong> espírito, qualquer estado<br />

particular do eu é como que anulado, pois<br />

esses sentimentos parecem brotar da própria<br />

fonte do ato espiritual e penetrar tudo o que<br />

nesses dados é dado do mundo interno e<br />

externo (Ibid., pp. 355 ss.). Scheler consi<strong>de</strong>ra o<br />

sentimento assim entendido como um ato<br />

intencional (v. INTENÇÃO) cujo objeto específico<br />

é o valor, e distingue, portanto, quatro espécies<br />

<strong>de</strong> valores correspon<strong>de</strong>ntes aos quatro<br />

graus do sentimento (v. VALOR). O importante<br />

na doutrina <strong>de</strong> Scheler é que o valor constitui o<br />

objeto próprio da E., ou pelo menos das funções<br />

emotivas, e é consi<strong>de</strong>rado uma realida<strong>de</strong><br />

específica, irredutível às realida<strong>de</strong>s percebidas<br />

ou conhecidas e <strong>de</strong> natureza absoluta. Doutrina<br />

análoga é exposta por Nicolai Hartmann,<br />

segundo a qual os valores se dão a priori no<br />

sentimento axiológico (Wertgefüht), que é o<br />

fenômeno autêntico da moralida<strong>de</strong> (Ethik, 1926,<br />

3- ed., 1949, pp. 118 ss.) (v. SENTIMENTO). Mas<br />

seja qual for a apreciação que se faça <strong>de</strong> tais<br />

lucubraçòes metafísicas po<strong>de</strong>-se admitir que a<br />

E. consiste na percepção <strong>de</strong> um valor, ou seja,<br />

da forma específica que uma situação apresenta<br />

em relação às necessida<strong>de</strong>s, aos interesses<br />

e aos fins do homem, sem lançar mão <strong>de</strong><br />

qualquer metafísica, visto que isso exprime bem<br />

os resultados das pesquisas psicológicas a<br />

respeito.<br />

A importância do sentimento como característica<br />

essencial da existência humana no<br />

mundo, como parte da própria substância do<br />

homem, é ressaltada por Hei<strong>de</strong>gger. Ele não vê<br />

as E. como simples fenômenos que acompanham<br />

os atos <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>,<br />

mas como modos <strong>de</strong> ser fundamentais da existência<br />

na medida em que é uma existência no<br />

mundo, ou, como ele diz, um Dasein. Analisa<br />

a propósito o fenômeno do medo, que julga<br />

constitutivo da existência inautêntica, isto é, da<br />

existência "lançada no mundo" e abandonada<br />

às vicissitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste. Como tal, o medo não é<br />

um fenômeno temporal parcial, mas um modo<br />

<strong>de</strong> ser essencial e permanente. "Só um ente no<br />

qual, em sendo, está em jogo seu próprio ser<br />

po<strong>de</strong> ter medo. O temer abre esse ente ao risco,<br />

ao estar entregue a si mesmo" (Sein und Zeit,<br />

§ 30). Correspon<strong>de</strong>nte ao medo, mas no plano<br />

da existência autêntica, que não se entrega ao<br />

mundo e às suas vicissitu<strong>de</strong>s, mas procura<br />

compreendê-lo na totalida<strong>de</strong>, é a outra situação<br />

afetiva fundamental, a angústia. Tem-se medo<br />

<strong>de</strong> algo que está <strong>de</strong>ntro do mundo, que se aproxima<br />

ameaçadoramente e que po<strong>de</strong> ser removido,<br />

ao passo que a angústia só po<strong>de</strong> ser sentida<br />

diante do mundo como tal. Ela não é provocada,<br />

como o medo, por um fato particular ou<br />

por um acontecimento ameaçador, mas pelo<br />

simples estar no mundo, pela situação originária<br />

e fundamental da existência humana. E, como,<br />

justamente <strong>de</strong>vido a essa situação, o homem<br />

tem <strong>de</strong> lidar com fatos ou acontecimentos que<br />

a qualquer momento po<strong>de</strong>m revelar-se ameaçadores,<br />

o medo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado "uma<br />

angústia caída no mundo, inautêntica e oculta<br />

a si mesma". A angústia é, por isso, a situação<br />

emotiva fundamental, a que "abre primariamente<br />

o mundo enquanto mundo". Como situação<br />

emotiva, a angústia não é só angústia em face<br />

<strong>de</strong>... mas é também angústia por... E assim como<br />

o em face <strong>de</strong>... também o por... refere-se ao ser<br />

no mundo como tal. Em outros termos, a angústia<br />

não é tal em face <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado modo <strong>de</strong><br />

ser ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada possibilida<strong>de</strong> humana. A<br />

ameaça que ela anuncia é in<strong>de</strong>terminada e não<br />

po<strong>de</strong> penetrar, ameaçando, nesta ou naquela<br />

possibilida<strong>de</strong> concreta e efetiva. Ao contrário, é<br />

a libertação das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminadas e<br />

efetivas, porque é compreensão da possibilida<strong>de</strong><br />

última e própria que compreen<strong>de</strong> todas as<br />

possibilida<strong>de</strong>s, que é a possibilida<strong>de</strong> do estar<br />

lançado no mundo. Por isso, ao mesmo tempo<br />

que a angústia isola o homem como solus ipse,<br />

esse isolamento não é o <strong>de</strong> um ente ou o <strong>de</strong><br />

um objeto sem mundo, mas, ao contrário, põe o<br />

homem perante seu mundo e, com isso, põe<br />

o homem diante <strong>de</strong> si mesmo como ser-nomundo<br />

(Ibid., § 40). Hei<strong>de</strong>gger po<strong>de</strong> afirmar,<br />

com base nessas análises, que "toda compreensão<br />

é emotiva", e ver no tom emotivo da angústia<br />

a compreensão última, <strong>de</strong>cisiva, que a existência<br />

po<strong>de</strong> ter <strong>de</strong> si mesma (Ibid., § 53).<br />

Hei<strong>de</strong>gger concentrou a atenção na angústia e<br />

consi<strong>de</strong>rou-a como a única "E. autêntica" do homem,<br />

porque é a única E. que faz o homem<br />

compreen<strong>de</strong>r sua existência, ou seja, seu estar<br />

no mundo. Não negou, porém, as outras emoções.<br />

Está bem claro que, para ele, as outras E.<br />

humanas pertencem ao nível da existência<br />

"inautêntica" ou "impessoal", da existência que<br />

não visa a compreen<strong>de</strong>r-se e possuir-se nessa<br />

compreensão, mas viver quotidianamente no cui-

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