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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CRIAÇÃO 220 CRIAÇÃO<br />

ciado por James: a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar, às<br />

vezes, sua própria confirmação. James enunciou<br />

essa tese a propósito <strong>de</strong> C. metafísicas,<br />

como, p. ex., das C. na or<strong>de</strong>m e na bonda<strong>de</strong> final<br />

do mundo {The Will to Believe, 1897). Ele<br />

entendia que a vida po<strong>de</strong> adquirir sentido e valor<br />

para quem acredita que ela os tem. Mas fora<br />

<strong>de</strong>ssa esfera metafísica o fenômeno da C. que<br />

se realiza a si mesma hoje é amplamente reconhecido<br />

e estudado nas ciências sociais, assim<br />

como se reconhece e estuda nessas mesmas<br />

ciências o fenômeno da "C. suicida", ou seja,<br />

da C. que se <strong>de</strong>strói a si mesma.<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, a noção <strong>de</strong> C. é<br />

marcada pelas seguintes características: I a a C.<br />

é a atitu<strong>de</strong> da a<strong>de</strong>são a uma noção qualquer; 2 a<br />

essa a<strong>de</strong>são po<strong>de</strong> ser mais ou menos justificada<br />

pela valida<strong>de</strong> objetiva da noção, ou não se justificar<br />

<strong>de</strong> modo algum; 3 a a própria a<strong>de</strong>são<br />

transforma a noção em regra <strong>de</strong> comportamento<br />

(o que Peirce chamava <strong>de</strong> "hábito <strong>de</strong> ação");<br />

4 a como regra <strong>de</strong> comportamento, em alguns<br />

campos a C. po<strong>de</strong> produzir sua própria realização<br />

ou seu próprio <strong>de</strong>smentido.<br />

CRIAÇÃO (gr. Tiovnaiç; lat. Creatio; in.<br />

Creation-, fr. Création; ai. Schoepfung; it. Creazioné).<br />

Em todas as línguas, essa palavra tem<br />

sentido muito genérico, indicando qualquer<br />

forma <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> produtiva: do artífice, do<br />

artista ou <strong>de</strong> Deus. Seu significado específico,<br />

porém, como forma particular <strong>de</strong> causação, é<br />

caracterizado: l 9 pela ausência <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

do efeito em relação à causa que o produz;<br />

2 a pela ausência <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> pressuposta no<br />

efeito criado, além da realida<strong>de</strong> da causa criadora<br />

(e nesse sentido diz-se que a C. é "do<br />

nada"); 3 U pelo menor valor do efeito em relação<br />

à causa; e eventualmente 4 B pela possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que um dos termos da relação, ou<br />

ambos, estejam fora do tempo. A I a e a 2 a características<br />

diferenciam a C. da emanação (v.)<br />

além <strong>de</strong> diferenciá-la das formas ordinárias <strong>de</strong><br />

causação. A 3 a característica é comum à C. e<br />

à emanação e diferencia ambas das formas<br />

ordinárias da causação. A 4 a característica,<br />

quando se verifica, aproxima a C. da emanação<br />

(que é eterna porque necessária), mas<br />

nem sempre se verifica.<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se, em geral, que a C. é uma noção<br />

<strong>de</strong> origem bíblica, mas na realida<strong>de</strong> não é<br />

possível colher na Bíblia as <strong>de</strong>terminações acima<br />

expostas, que a <strong>de</strong>finem e que são fruto da<br />

elaboração a que o pensamento cristão submeteu<br />

esse conceito, pondo-o em relação positiva<br />

ou negativa com doutrinas próprias da <strong>filosofia</strong><br />

grega. Assim, na Bíblia, diz-se claramente que<br />

Deus criou o céu e a terra (Geri., I, 1; Ps. 32, 6;<br />

135, 5; Eci, 18; Act., 14, 14; 17, 24; etc), mas<br />

não fica tão claro que essa C. é do nada; aliás,<br />

o livro da Sabedoria (XI, 18) fala da C. do orbe<br />

da terra a partir <strong>de</strong> "uma matéria invisível". Por<br />

outro lado, na <strong>filosofia</strong> grega encontrava-se certo<br />

conceito <strong>de</strong> C. que não se mostrou compatível<br />

com o conceito <strong>de</strong> Deus peculiar aos cristãos.<br />

O conceito <strong>de</strong> C. dado por Platão em<br />

Timeu ajusta-se às condições I a e 3 a , mas contradiz<br />

a 2 a . A C, para o Deus-artífice, é um ato<br />

voluntário <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> que quer a multiplicação<br />

do bem (Tim., 29 E), o que significa que o<br />

mundo não é necessário em relação à sua causa.<br />

Mas a ação criadora do Demiurgo é limitada:<br />

l s pelas estruturas do ser, isto é, pelas<br />

idéias ou substâncias que ele assume da sua<br />

obra como mo<strong>de</strong>los; 2 S pela matriz material<br />

que, com sua necessida<strong>de</strong>, limita a própria<br />

obra. Por isso, sua C. não é ex nihilo. Por sua<br />

vez o Deus <strong>de</strong> Aristóteles, como primeiro motor<br />

imóvel do mundo, é causa do movimento,<br />

ou seja, do <strong>de</strong>vir e da or<strong>de</strong>m do mundo, mas<br />

não <strong>de</strong> seu ser substancial, que é tão eterno<br />

quanto o próprio Deus (Met., XII, 6, 1071 b 3<br />

ss.). Quanto ao Deus dos neoplatônicos e <strong>de</strong><br />

Plotino, sua ação criadora é a da emanação,<br />

caracterizada pela necessida<strong>de</strong> do processo<br />

criativo (v. EMANAÇÃO). Nesses mo<strong>de</strong>los clássicos,<br />

o conceito <strong>de</strong> C. choca-se com os atributos<br />

do Deus judaico e cristão, que não é causa necessária,<br />

mas cria o mundo por um ato livre e<br />

gratuito, e é infinito e onipotente, não po<strong>de</strong>ndo,<br />

portanto, encontrar limites à sua ação criadora<br />

numa estrutura substancial ou numa matéria<br />

que seja in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le.<br />

Em vista <strong>de</strong>ssas exigências, a primeira elaboração<br />

da noção <strong>de</strong> C. foi feita por Fílon <strong>de</strong><br />

Alexandria (séc. I). Embora Fílon continue chamando<br />

Deus <strong>de</strong> "Demiurgo" ou <strong>de</strong> "Alma do<br />

mundo", anuncia (se bem que com certa incerteza)<br />

a noção <strong>de</strong> C. afirmando que "Deus,<br />

criando todas as coisas, não só as trouxe à luz,<br />

mas criou o que antes não havia: não só construtor,<br />

mas na verda<strong>de</strong> fundador" (KTÍaTnç,<br />

Desomniis, I, 13). No mesmo sentido, a noção<br />

<strong>de</strong> C. foi elaborada pela Patrística e pela Escolástica.<br />

A elaboração patrística tem mais afinida<strong>de</strong>s<br />

com os mo<strong>de</strong>los clássicos. Irineu reivindicava<br />

contra os gnósticos o caráter total (ex<br />

nihilo) da C, sem o qual se atribuiria a Deus a<br />

impotência <strong>de</strong> realizar seus projetos (Adv.

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