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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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PESSOA 761 PESSOA<br />

acontecimentos ruins, ignóbeis ou repugnantes.<br />

O P. foi <strong>de</strong>fendido <strong>de</strong>ssa forma pelo Padre<br />

Apologista Arnóbio, no início do séc. IV: para<br />

ele, a própria existência do homem é inútil à<br />

economia do mundo, que permaneceria o mesmo<br />

se o homem não existisse (Adi', nationes,<br />

II, 37).<br />

3 a A vida é, em geral, mal ou dor. Esta é a<br />

tese do P. metafísico, da forma <strong>de</strong>fendida pelo<br />

budismo antigo e por Schopenhauer (Die Welt,<br />

I, § 57 ss.).<br />

4 a O mundo é, em sua totalida<strong>de</strong>, manifestação<br />

<strong>de</strong> uma força irracional: segundo Schopenhauer,<br />

<strong>de</strong> uma "vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida" que se dilacera<br />

e se atormenta (Die Welt. § 61); segundo E.<br />

Hartmann, <strong>de</strong> um princípio inconsciente que,<br />

ao tornar-se progressivamente ciente, <strong>de</strong>strói<br />

as ilusões que regem o mundo (Philosopbiecies<br />

Liibewussten, 1869).<br />

Todas as formas do P. negam a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> progresso e, em geral, <strong>de</strong> qualquer melhora<br />

no campo específico em que vigoram. O<br />

que elas não negam, no entanto, é o caráter<br />

finalista cio mundo: admitido e <strong>de</strong>fendido tanto<br />

por Schopenhauer (Die Welt, I, § 28) quanto<br />

por Hartmann (Op. cit.; tracl. fr., II, p. 65). O<br />

mais estranho é que a essência do otimismo<br />

(v.) está justamente no finalismo, e o P. preten<strong>de</strong><br />

ser a antítese do otimismo.<br />

PESSOA (gr. 7rpóoomov, imóaxaaiç. kit.<br />

Persona; in. Person; fr. Personne, ai. Persoii.<br />

it. Persona). No sentido mais comum do termo,<br />

o homem em suas relações com o mundo ou<br />

consigo mesmo. No sentido mais geral (porquanto<br />

essa palavra foi aplicada também a<br />

Deus), um sujeito <strong>de</strong> relações. É possível distinguir<br />

as seguintes tases <strong>de</strong>sse conceito: I a função<br />

e relação-substància: 2 a auto-relação (relação<br />

consigo mesmo); 3" heterorrelação (relação com<br />

o inundo).<br />

I a Essa palavra <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> persona, que, em<br />

latim, significa máscara (no sentido <strong>de</strong> personagem:<br />

in. Character, fr. ['ersonmige; ai.<br />

Rolle) c foi introduzida com esse sentido na linguagem<br />

filosófica pelo estoicismo popular,<br />

para <strong>de</strong>signar os papéis representados pelo homem<br />

na vida: Epicteto diz: "Lembra-te <strong>de</strong> que<br />

aqui não passas <strong>de</strong> ator <strong>de</strong> um drama, que será<br />

breve ou longo segundo a vonta<strong>de</strong> do poeta. E<br />

se lhe agradar que representes a P. <strong>de</strong> um mendigo,<br />

esforça-te por representá-la <strong>de</strong>vidamente.<br />

Faze o mesmo, se te for <strong>de</strong>stinada a P. <strong>de</strong> um<br />

coxo. <strong>de</strong> um magistrado, <strong>de</strong> um homem comum.<br />

Visto que a ti cabe apenas representar<br />

bem qualquer P. que te seja <strong>de</strong>stinada, a outro<br />

pertence o direito <strong>de</strong> escolhê-la" (Manual, 17,<br />

tracl. Leopardi; cf. Dissertazioni, I, 29, etc). O<br />

conceito <strong>de</strong> papel, neste sentido, po<strong>de</strong> ser reduzido<br />

ao <strong>de</strong> relação: um papel outra coisa não<br />

é senão um conjunto <strong>de</strong> relações que ligam o<br />

homem a dada situação e o <strong>de</strong>finem com respeito<br />

a ela. Por isso, a noção <strong>de</strong> P. revelou-se<br />

útil quando foi preciso expressar as relações<br />

entre Deus e o Cristo (consi<strong>de</strong>rado como o<br />

Logos ou Verbo), e entre ambos e o Espírito,<br />

mas ao mesmo tempo foi fonte <strong>de</strong> mal-entendidos<br />

e heresias. Com efeito, por um lado a relação<br />

parecia ter sido somada — aci<strong>de</strong>ntalmente<br />

somada — à substância da coisa; este pelo menos<br />

era seu conceito na <strong>filosofia</strong> tradicional e,<br />

em particular, na aristotélica (v. RELAÇÃO). Por<br />

outro lado, a própria palavra P., lembrando a<br />

máscara <strong>de</strong> teatro, parecia implicar o caráter<br />

aparente e não substancial da pessoa. Daí nasceram<br />

as longas disputas trinitárias que caracterizam<br />

a história dos primeiros séculos cio<br />

Cristianismo e eme levaram às <strong>de</strong>cisões do<br />

Concilio <strong>de</strong> Nicéia (325). Para evitar a associação<br />

entre a noção <strong>de</strong> P. e a <strong>de</strong> máscara, os<br />

escritores gregos adotaram, em vez <strong>de</strong> prósopon,<br />

a palavra hypóstasis, que, em seu significado<br />

<strong>de</strong> "suporte", revela as preocupações que<br />

sugeriram a escolha. Mas sobre o caráter aci<strong>de</strong>ntal<br />

que a relação parece ter por natureza,<br />

muitos padres da Igreja acharam melhor simplesmente<br />

negar que a P. fosse relação, e insistir<br />

na sua substancialida<strong>de</strong>. Era o que fazia, p.<br />

ex., S. Agostinho, ao afirmar que P. significa<br />

simplesmente "substância'', e que por isso o<br />

Pai é P. em relação a si mesmo (aclse). e não<br />

em relação ao Filho. etc. (De Trin.. Vil, 6). Com<br />

base nisso, Boécio dava a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> P. que<br />

se tornou clássica em toda a Ida<strong>de</strong> Média: "P. é<br />

a substância individual <strong>de</strong> natureza racional"<br />

(De duabus uaturis et una persona Christi, 3 P.<br />

L., 64, col. 1345). Mas. como nota S. Tomás <strong>de</strong><br />

Aquino (S. Th., I. q. 29, a. 4, contra), o próprio<br />

Boécio admitia que "todo atinente às P. significa<br />

uma relação"; além disso, não havia outra<br />

maneira <strong>de</strong> esclarecer o significado das pessoas<br />

divinas, senão a <strong>de</strong> esclarecer as relações entre<br />

elas, com o mundo e com os homens. S. Tomás<br />

<strong>de</strong> Aquino, portanto, em um <strong>de</strong> seus textos<br />

mais notáveis pela clareza e força filosófica<br />

(prescindindo do significado teológico-religioso),<br />

ao elucidar o dogma trinitário, restabelece<br />

o significado do conceito <strong>de</strong> P. como relação,<br />

mesmo afirmando simultaneamente a substan-

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