22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CONTRADIÇÃO 203 CONTRADIÇÃO, PRINCÍPIO DE<br />

um indivíduo <strong>de</strong>terminado, ad esse hanc rem<br />

(Op. Ox., II, d. 3, q. 5, n. 1). Utilizando essa expressão<br />

escolástica no mesmo sentido (cf. De<br />

docta ígnor., II, 4: "A C. se diz em relação a<br />

algo, p. ex., a ser isto ou aquilo"), Nicolau <strong>de</strong><br />

Cusa chamou o mundo <strong>de</strong> "Deus contraído",<br />

no sentido <strong>de</strong> que ele, como Deus, é o máximo,<br />

a unida<strong>de</strong>, a infinitu<strong>de</strong>, mas contraídas,<br />

isto é, <strong>de</strong>terminadas e individualizadas numa<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coisas singulares (Ibid., II, 4).<br />

Na Escolástica tardia, certamente por influência<br />

do Escotismo, essa palavra às vezes foi empregada<br />

para indicar o <strong>de</strong>terminar-se do gênero<br />

nas espécies e da espécies nos indivíduos.<br />

CONTRADIÇÃO (gr. àvTÍcpacaç; lat. Contradictio;<br />

in. Contradíction; fr. Contradiction;<br />

ai. Wi<strong>de</strong>rsprucb; it. Contraddizione). Aristóteles<br />

(An.post., I, 2, 72 a 12-14) <strong>de</strong>fine-a como<br />

"oposição que, por si só, exclui o caminho do<br />

meio"; em An. pr., I, 5, 27 a 29, tal relação é<br />

explicada como relação entre proposição universal<br />

negativa e particular afirmativa, universal<br />

afirmativa e particular negativa. Esses são os<br />

pares (AO, EI) das propositiones contradictoriae<br />

no chamado "quadrado <strong>de</strong> Psello" dos<br />

textos medievais <strong>de</strong> Lógica. O essencial nos<br />

pares <strong>de</strong> proposições contraditórias é que<br />

ambas não po<strong>de</strong>m ser verda<strong>de</strong>iras (princípio<br />

<strong>de</strong> C.) nem falsas (princípio do terceiro excluído).<br />

G. P.<br />

CONTRADIÇÃO, PRINCÍPIO DE (gr.<br />

à^íco^a xfjç àvTKpáoecoç; lat. Principiam contradictionis;<br />

in. Principie of contradiction; fr.<br />

Príncipe <strong>de</strong> contradiction; ai. Satz <strong>de</strong>r Wi<strong>de</strong>rspruchs;<br />

it. Principio di contraddizione). Tendo<br />

nascido como princípio ontológico, o princípio<br />

<strong>de</strong> C. só passou para o campo da lógica no séc.<br />

XVIII, para tornar-se, nesse mesmo século,<br />

uma das "leis fundamentais do pensamento".<br />

Como princípio ontológico, foi admitido explicitamente,<br />

pela primeira vez, por Aristóteles,<br />

que o tomou como fundamento da "<strong>filosofia</strong><br />

primeira", ou metafísica. Segundo Aristóteles,<br />

esse princípio serve, em primeiro lugar, para<br />

<strong>de</strong>limitar o domínio próprio <strong>de</strong>ssa ciência, permitindo<br />

abstrair o seu objeto, o ser como tal,<br />

<strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>terminações às quais está ligado, do<br />

mesmo modo como os axiomas da matemática<br />

e da física permitem abstrair seus objetos (respectivamente<br />

a quantida<strong>de</strong> e o movimento)<br />

<strong>de</strong> outras <strong>de</strong>terminações às quais estão ligados<br />

(Mel, IV, 3). Aristóteles, porém, constantemente<br />

formula esse princípio <strong>de</strong> duas maneiras.<br />

Uma é estreitamente ontológica, e se expressa<br />

assim: "Nada po<strong>de</strong> ser e não ser simultaneamente"<br />

(Ibid., III, 2, 996 b 30; IV, 2, 1005 b 24);<br />

a outra po<strong>de</strong>ria ser chamada <strong>de</strong> lógica e se expressa<br />

assim: "É impossível que a mesma coisa,<br />

ao mesmo tempo, seja inerente e não seja inerente<br />

a uma mesma coisa sob o mesmo aspecto"<br />

(Ibid., IV, 2. 1005 b 20), ou então: "É necessário<br />

que toda asserçâo seja afirmativa ou<br />

negativa" (Ibid., III, 2, 996 b 29). Aristóteles<br />

consi<strong>de</strong>ra esse princípio in<strong>de</strong>monstrável, mas<br />

acha que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fendido <strong>de</strong> seus opositores,<br />

entre os quais os megáricos, os cínicos,<br />

os sofistas e os heraditistas, mostrando-se que, se<br />

eles afirmam algo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado, negam a<br />

negação <strong>de</strong>sse algo e assim se valem <strong>de</strong>sse<br />

princípio (Ibid., IV, 4). Portanto, o valor <strong>de</strong>sse<br />

princípio é estabelecido por Aristóteles em relação<br />

ao que é <strong>de</strong>terminado (tóôe TÍ). "Se a<br />

verda<strong>de</strong>", diz Aristóteles, "tem um significado,<br />

necessariamente quem diz homem diz animal<br />

bípe<strong>de</strong>, já que isso significa homem. Mas se isso<br />

for necessário não será possível que o homem<br />

não seja animal bípe<strong>de</strong>, pois a necessida<strong>de</strong> significa<br />

justamente que é impossível que o ser<br />

não seja" (Ibid., IV, 4, 1006 b 28). Assim, o princípio<br />

<strong>de</strong> C, referindo-se ao ser <strong>de</strong>terminado,<br />

permite abstrair <strong>de</strong>sse ser o que há <strong>de</strong> necessário:<br />

a substância ou a essência substancial:<br />

no exemplo do homem, o animal bípe<strong>de</strong> é<br />

precisamente a substância, a essência substancial<br />

ou a <strong>de</strong>finição do homem. Desse modo, o<br />

princípio <strong>de</strong> C. leva a consi<strong>de</strong>rar a <strong>filosofia</strong> primeira,<br />

que é a ciência do ser enquanto ser,<br />

como teoria da substância. Diz Aristóteles: "O<br />

que há muito tempo, agora e sempre procuramos,<br />

o que sempre será um problema para<br />

nós, ou seja, 'o que é o ser', significa 'o que é<br />

a substância?'" (Ibid., VII, 1, 1028 b 2). O significado<br />

que o princípio <strong>de</strong> C. tem na metafísica<br />

<strong>de</strong> Aristóteles realiza-se, pois, nas noções fundamentais<br />

<strong>de</strong>ssa metafísica, que são as <strong>de</strong> substância<br />

(v.), <strong>de</strong> essência necessária (v. ESSÊNCIA)<br />

e <strong>de</strong> causa (v. CAUSALIDADE). Mas para Aristóteles,<br />

esse princípio também possui alcance lógico.<br />

Ele diz que, embora o princípio <strong>de</strong> C. não<br />

seja assumido expressamente por nenhuma <strong>de</strong>monstração,<br />

é a base do silogismo na medida<br />

em que, consi<strong>de</strong>rando-se a noção <strong>de</strong> homem<br />

ou a <strong>de</strong> não-homem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se admita que<br />

o homem é um animal, sempre resultará verda<strong>de</strong>iro<br />

afirmar que Cálias é animal e não um<br />

não-animal; diz que ele é o fundamento da redução<br />

ao absurdo (An.post., I, 11, 77 a 10). A<br />

estrutura silogística é assim sustentada, tanto na

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!