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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ALEGORIA 24 ALEXANDRINISMO<br />

racional contida nas Sagradas Escrituras (ibid.,<br />

IV, 2). Em seguida, tornou-se dominante na<br />

Ida<strong>de</strong> Média a distinção <strong>de</strong> três significados da<br />

Escritura (como se encontra, por exemplo, formulada<br />

por Hugo <strong>de</strong> S. Vítor, Descripturis, III):<br />

significado literal, significado alegórico e significado<br />

anagógico. Eis como Dante expõe a<br />

doutrina: "As escrituras po<strong>de</strong>m ser entendidas<br />

e <strong>de</strong>vem ser expostas sobretudo em quatro<br />

sentidos. Um chama-se literale é o que não vai<br />

além da própria letra; o outro chama-se alegórico<br />

e é o que se escon<strong>de</strong> sob o manto das<br />

fábulas, sendo a verda<strong>de</strong> oculta sob belas mentiras...<br />

O terceiro sentido chama-se moral, e é<br />

o que os leitores <strong>de</strong>vem atentamente ir <strong>de</strong>scobrindo<br />

nas escrituras para utilida<strong>de</strong> sua e <strong>de</strong><br />

seus discípulos... O quarto sentido chama-se<br />

anagógico, isto é, supra-sentido; e aparece<br />

quando se expõe espiritualmente uma escritura<br />

que, embora seja verda<strong>de</strong>ira também no sentido<br />

literal, pelas coisas significadas significa<br />

coisas supremas da eterna glória: como se po<strong>de</strong><br />

ver naquele canto do Profeta que diz que, com<br />

a saída do povo <strong>de</strong> Israel do Egito, a Judéia<br />

tornou-se santa e livre. O que, embora seja<br />

verda<strong>de</strong>iro segundo a letra manifesta, não menos<br />

verda<strong>de</strong>iro é o que se enten<strong>de</strong> espiritualmente,<br />

isto é, que na saída da alma do pecado,<br />

ela se torna santa e livre em sua potesta<strong>de</strong>"<br />

(OBanq., II, 1). Mas entre esses sentidos, como<br />

diz o próprio Dante, o fundamental, para o<br />

teólogo como para o poeta, é o alegórico. E, <strong>de</strong><br />

fato, na Ida<strong>de</strong> Média a A. tornou-se o modo <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r a função da arte e, especialmente, da<br />

poesia. João <strong>de</strong> Salisbury dizia que Virgílio, "sob<br />

a imagem das fábulas, exprime a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

toda a <strong>filosofia</strong>" e que Dante (Vita nuova, 25)<br />

<strong>de</strong>finia assim a tarefa do poeta: "Vergonha seria<br />

para aquele que rimasse coisas sob as veste <strong>de</strong><br />

figura ou <strong>de</strong> cor retórica, e <strong>de</strong>pois, interrogado,<br />

não soubesse <strong>de</strong>snudar as suas palavras <strong>de</strong><br />

tal veste, <strong>de</strong> modo que tivessem real entedimento".<br />

No mundo mo<strong>de</strong>rno a A. per<strong>de</strong>u valor e<br />

negou-se que ela possa exprimir a natureza ou<br />

a função da poesia. Viu-se nela a aproximação<br />

<strong>de</strong> dois fatos espirituais diferentes, o conceito<br />

<strong>de</strong> um lado, a imagem <strong>de</strong> outro entre os quais<br />

ela estabeleceria uma correlação convencional<br />

e arbitrária (Croce); e sobretudo, foi acusada <strong>de</strong><br />

negligenciar ou impossibilitar a autonomia da<br />

linguagem poética, que não teria vida própria<br />

porque estaria subordinada às exigências do<br />

esquema conceituai a que <strong>de</strong>veria dar corpo.<br />

Boa parte da estética mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>clara, por<br />

isso, que a A. é fria, pobre e enfadonha; e insiste<br />

na interpretação da poesia e, em geral, da<br />

arte, com base no símbolo (v.), que po<strong>de</strong> ser<br />

vivo e evocador, porque a imagem simbólica é<br />

autônoma e tem interesse em si mesma, isto é,<br />

um interesse que não transforma sua referência<br />

convencional em conceito ou doutrina. Todavia,<br />

se levarmos em conta a potencialida<strong>de</strong> e<br />

a vitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas obras <strong>de</strong> arte que têm<br />

clara estrutura alegórica (p. ex., Divina comédia<br />

e muitas pinturas medievais e renascentistas),<br />

<strong>de</strong>veremos dizer que a A. não impossibilita,<br />

necessariamente, a autonomia e a leveza da<br />

imagem estética e que, em certos casos, mesmo<br />

a correspondência pontual entre imagem e<br />

conceito po<strong>de</strong> não ser mortificante para a imagem<br />

nem lhe tolher a vitalida<strong>de</strong> artística ou<br />

poética. T. S. Eliot fez, justamente a propósito<br />

<strong>de</strong> Dante, uma <strong>de</strong>fesa da A. nesse sentido {The<br />

Sacred Wood, 1920, trad. it., pp. 241 ss.).<br />

ALETIOLOGIA (ai. Alethiologie). Assim<br />

chamou Lambert a segunda das quatro partes<br />

do seu Novo organon (1764), mais precisamente<br />

a que estuda os elementos simples do conhecimento.<br />

É uma espécie <strong>de</strong> anatomia dos conceitos<br />

que tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os<br />

conceitos mais simples e in<strong>de</strong>finíveis.<br />

ALEXANDRINISMO (in. Alexandrinism, fr.<br />

Alexandrinisme, ai. Alexandrinismus; it. Alessandrinismo).<br />

Enten<strong>de</strong>-se por esse termo a cultura<br />

alexandrina, isto é, a cultura do período<br />

que se seguiu à morte <strong>de</strong> Alexandre Magno<br />

(323 a.C), que unificara o mundo antigo sob o<br />

signo da cultura grega centralizando-a no Egito,<br />

na nova cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alexandria. A dinastia<br />

dos Ptolomeus almejou fazer <strong>de</strong>ssa cida<strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> centro intelectual para o qual confluíssem<br />

a cultura grega e a oriental, mediadas e<br />

unificadas pela língua que se tornara patrimônio<br />

comum dos doutos, o grego. Cientistas e pensadores<br />

<strong>de</strong> todos os países ficavam hospedados<br />

no Museu e tinham à sua disposição um<br />

material científico e bibliográfico excepcional<br />

para o tempo. Ao Museu foi <strong>de</strong>pois acrescentada<br />

a biblioteca, cujo primeiro núcleo, diz-se, foi<br />

formado pelas obras <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Aristóteles,<br />

e que <strong>de</strong>pois se tornou riquíssima, até<br />

compreen<strong>de</strong>r 700.000 volumes. A cultura alexandrina<br />

é caracterizada pelo divórcio entre<br />

ciência e <strong>filosofia</strong>. Enquanto as pesquisas científicas,<br />

a <strong>de</strong>terminação dos métodos da ciência<br />

e a sistematização dos resultados dão gran<strong>de</strong>s<br />

passos nesse período, a <strong>filosofia</strong> renuncia à ta-

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