22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

APARÊNCIA 70 APARÊNCIA<br />

<strong>de</strong> outro, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predizer os fenômenos<br />

futuros a partir dos fenômenos passados<br />

e presentes (Op., ed. Erdmann, pp.<br />

443-444).<br />

Com isso, a A. per<strong>de</strong>u o caráter enganoso e<br />

abre-se o caminho da distinção kantiana entre<br />

a A. (Erscbeinung) e a ilusão (Scbein). As A.<br />

são os fenômenos como objetos da intuição<br />

sensível e, em geral, da experiência; os fenômenos<br />

são realida<strong>de</strong>, aliás as únicas realida<strong>de</strong>s<br />

que o homem po<strong>de</strong> conhecer e <strong>de</strong> que po<strong>de</strong><br />

falar. "Eu não digo", afirma Kant, "que os corpos<br />

parecem simplesmente seres externos ou<br />

que minha alma parece simplesmente dada na<br />

minha autoconsciência, quando afirmo que as<br />

qualida<strong>de</strong>s do espaço e do tempo — segundo as<br />

quais, como condição da sua existência, coloco<br />

aqueles e esta — estão no meu modo <strong>de</strong> intuir<br />

e não nesses objetos. Seria um erro meu se<br />

transformasse em mera ilusão (Schein) aquilo<br />

que <strong>de</strong>vo consi<strong>de</strong>rar como fenômeno" (Crít. R.<br />

Pura, Estética transcen<strong>de</strong>ntal, Observações ger.,<br />

3). A afirmação: "Os sentidos representam para<br />

nós os objetos como aparecem, o intelecto como<br />

são" é interpretada por Kant no sentido <strong>de</strong> que<br />

o intelecto representa os objetos na conexão<br />

universal dos fenômenos (o que não significa<br />

que eles sejam in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da relação com<br />

a experiência possível e, portanto, das "A. sensíveis")<br />

(ibid., Anal. dos princ, cap. III). Por<br />

isso, a A. fenomênica tem esse nome para ressaltar<br />

as suas conexões com as condições subjetivas<br />

do conhecer e para distingui-la do hipotético<br />

conhecimento numênico, <strong>de</strong> tal forma<br />

que se possa estabelecer com clareza os seus<br />

limites (v. FENÔMENO).<br />

Por outro lado, a própria negação do caráter<br />

ilusório da A. foi utilizada, na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna,<br />

para reafirmar o caráter absoluto do conhecimento<br />

humano. Assim, Hegel vê na A. fenomênica<br />

a própria essência. A. e essência não se<br />

opõem, mas se i<strong>de</strong>ntificam: a A. é a essência<br />

que existe na sua imediação. "Aparecer", diz<br />

ele, "é a <strong>de</strong>terminação por meio da qual a essência<br />

não é ser, mas essência; e o aparecer<br />

<strong>de</strong>senvolvido é o fenômeno. A essência não<br />

está, portanto, atrás ou além do fenômeno; mas,<br />

justamente porque a essência é o que existe, a<br />

existência é o fenômeno" (Ene, § 131). É verda<strong>de</strong><br />

que, como <strong>de</strong>terminação "imediata", a A.<br />

está <strong>de</strong>stinada, segundo Hegel, a ser absorvida<br />

ou superada por outras <strong>de</strong>terminações, refletidas<br />

ou mediatas, no <strong>de</strong>senvolvimento dialético<br />

da Idéia absoluta; mas também é verda<strong>de</strong> que<br />

toda a doutrina <strong>de</strong> Hegel é sustentada pelo pensamento<br />

<strong>de</strong> que não há realida<strong>de</strong> tão recôndita<br />

que, <strong>de</strong> algum modo, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> manifestar-se e<br />

aparecer. Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, esse ponto<br />

<strong>de</strong> vista teve a melhor expressão na obra <strong>de</strong><br />

Hei<strong>de</strong>gger. "Como significado da expressão 'fenômeno'<br />

<strong>de</strong>ve-se estabelecer o seguinte: o que<br />

se manifesta em si mesmo, o revelado... Definimos<br />

esse manifestar-se como aparecer<br />

(Scheineri). Também em grego a expressão<br />

phainomenon tem esse significado: o que tem<br />

o aspecto <strong>de</strong> aparente, A. ... Só porque alguma<br />

coisa, em virtu<strong>de</strong> do seu sentido, preten<strong>de</strong> em<br />

geral manifestar-se, isto é, ser fenômeno, é<br />

possível que ela se manifeste como algo que<br />

não é, que tenha o aspecto <strong>de</strong>... Reservamos<br />

para o termo 'fenômeno' o significado positivo<br />

e original <strong>de</strong> 'phainomenon' e distinguimos<br />

fenômeno da A., consi<strong>de</strong>rando esta última como<br />

uma modificação particular <strong>de</strong> fenômeno" (Sein<br />

und Zeit, § 7 A). Isto, porém, não quer dizer<br />

que a <strong>filosofia</strong> contemporânea tenha i<strong>de</strong>ntificado<br />

ser com A. Antes, propôs <strong>de</strong> outra forma o<br />

problema <strong>de</strong> sua relação, passando a consi<strong>de</strong>rar<br />

essa relação <strong>de</strong> modo objetivo ou ontológico,<br />

isto é, sem referência a qualquer subjetivaçâo<br />

i<strong>de</strong>alista. Não é por acaso que a última obra<br />

importante em que se <strong>de</strong>bateu <strong>de</strong> forma tradicional<br />

o problema da relação entre A. e realida<strong>de</strong><br />

pertence a um i<strong>de</strong>alista: F. H. Bradley (Aparência<br />

e realida<strong>de</strong>, 1893). Sobretudo por<br />

influência da colocação fenomenológica (v.<br />

FENOMENOLOGIA), a consi<strong>de</strong>ração da relação entre<br />

aparecer e ser <strong>de</strong>ixou completamente <strong>de</strong> ser<br />

feita, tanto no que se refere ao dualismo entre<br />

esses dois termos quanto no que se refere aos<br />

outros dualismos com que em geral era interpretada,<br />

como entre sensação e pensamento,<br />

entre subjetivida<strong>de</strong> e objetivida<strong>de</strong>, etc. A relação<br />

toda é feita no plano objetivo das experiências<br />

diferentes ou dos graus diferentes <strong>de</strong> experiências.<br />

Um filósofo que baseie suas construções<br />

num grupo <strong>de</strong> experiências ou em dado tipo <strong>de</strong><br />

realida<strong>de</strong>, privilegiando-o e consi<strong>de</strong>rando-o fundamental,<br />

é levado a julgar menos reais ou<br />

significantes, e <strong>de</strong> certo modo simplesmente<br />

"aparentes", as outras formas <strong>de</strong> experiência<br />

ou os outros tipos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. P. ex., quem<br />

privilegia a experiência interior ou consciência<br />

é levado a consi<strong>de</strong>rar menos significante ou, <strong>de</strong><br />

certo modo, só "aparente" a experiência externa<br />

ou sensível, e vice-versa. Mas em todo caso,<br />

mesmo o que se <strong>de</strong>clara aparente é admitido<br />

como A. <strong>de</strong> alguma coisa e, por isso, dotada, já

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!