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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FATALIDADE ou FATUM 429 FATO<br />

sição universal afirmativa e uma proposição<br />

universal negativa e como conclusão uma particular<br />

negativa, como no exemplo: "Todo animal<br />

é substância; nenhuma pedra é animal;<br />

logo, algumas substâncias não são pedras"<br />

(PEDRO HISPANO, Summ. log., 4.09; ARNAULD,<br />

Log. III, 8)<br />

FATALIDADE ou FATUM (in. Fate, fr. Fatalité,<br />

ai. Fatum; it. Fato). Destino, no significado<br />

1 Q do termo, como necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecida,<br />

portanto cega, que domina os seres do mundo<br />

enquanto partes da or<strong>de</strong>m total. A noção <strong>de</strong> fatalida<strong>de</strong><br />

foi distinguida da noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino<br />

quando, entre as causas que constituem este<br />

último, se quis incluir a vonta<strong>de</strong> e a ação humana.<br />

Nesse sentido, Leibniz contrapôs fatum<br />

mahometanum, que consi<strong>de</strong>ra os acontecimentos<br />

futuros que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do que o<br />

homem po<strong>de</strong> querer ou fazer, à noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino<br />

(ou <strong>de</strong> providência), segundo a qual o que<br />

acontecerá no futuro também é <strong>de</strong>terminado,<br />

pelo menos em parte, pela ação humana<br />

(Théod., I, § 55). Em sentido análogo, Kant contrapõe<br />

a F. ã necessida<strong>de</strong> condicional, logo inteligível,<br />

da natureza (Crít. R. Pura, Postulados<br />

do pensamento empírico). Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna,<br />

a noção <strong>de</strong> F. é polêmica, pois quem a emprega<br />

não a consi<strong>de</strong>ra válida; por isso, po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que é espúria em <strong>filosofia</strong>. Mas não tem<br />

esse significado pejorativo na expressão amor<br />

fati, que é a <strong>de</strong>finição mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino (v.).<br />

Peirce também procurou isentá-la do significado<br />

pejorativo dizendo: "F. significa simplesmente<br />

aquilo que com certeza acontecerá e que<br />

não po<strong>de</strong> ser absolutamente evitado. É superstição<br />

supor que certa espécie <strong>de</strong> acontecimentos<br />

está submetida à F., assim como é superstição<br />

supor que a palavra F. nunca possa<br />

livrar-se do caráter supersticioso. É F. que todos<br />

nós morreremos" (Chance, Love and Logic, I,<br />

cap. 2, § 4, nota; trad. it., p. 41).<br />

FATALISMO (in. Fatalism- fr. Fatalisme, ai.<br />

Fatalismus; it. Fatalísmo). Leibniz já distinguira<br />

do fatum estóico e cristão o "fatum mahometanum"<br />

ou "fatalida<strong>de</strong> maometana", segundo<br />

a qual "os efeitos aconteceriam mesmo se a<br />

causa fosse evitada, pois são dotados <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

absoluta" (Op., ed. Erdmann, pp. 660,<br />

764). Wolff empregava, para indicar essa doutrina,<br />

por ele atribuída a Spinoza, o termo F. no<br />

texto De differentia nexus rerum sapientis et<br />

fatalis necessitais(1723), que é justamente dirigido<br />

contra Spinoza. Na verda<strong>de</strong>, porém, todas<br />

as concepções <strong>de</strong> fatalida<strong>de</strong> (<strong>de</strong>stino) elabora-<br />

das pelos filósofos admitem que <strong>de</strong>la fazem<br />

parte outras causas <strong>de</strong>terminantes, mas que estas<br />

são, por sua vez, <strong>de</strong>terminadas pelas antece<strong>de</strong>ntes,<br />

que são as próprias ações humanas,<br />

voltadas a evitar ou a alcançar certos resultados.<br />

E é, portanto, um termo polêmico com o<br />

qual os filósofos em geral <strong>de</strong>signam a forma<br />

<strong>de</strong> necessitarismo <strong>de</strong> que não compartilham.<br />

Com mais rigor, esse termo po<strong>de</strong> ser adotado<br />

não para <strong>de</strong>signar uma doutrina filosófica, mas<br />

a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem se entrega aos acontecimentos<br />

sem procurar alterá-los nem reagir.<br />

FATO (in. Fact; fr. Fait; ai. Talsache, it. Fatto).<br />

Em geral, uma possibilida<strong>de</strong> objetiva <strong>de</strong> verificação,<br />

constatação ou averiguação, portanto<br />

também <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição ou previsão - objetiva<br />

no sentido <strong>de</strong> que todos po<strong>de</strong>m fazê-la nas<br />

condições a<strong>de</strong>quadas. "É F. que oi' significa que<br />

x po<strong>de</strong> ser verificado ou confirmado por qualquer<br />

um que disponha dos meios a<strong>de</strong>quados, e<br />

que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito ou previsto <strong>de</strong> forma<br />

passível <strong>de</strong> aferição. A noção <strong>de</strong> F. é mo<strong>de</strong>rna,<br />

sendo mais restrita e específica que a <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>;<br />

nasceu sobretudo para indicar os objetos<br />

da pesquisa científica, que <strong>de</strong>vem po<strong>de</strong>r ser reconhecidos<br />

por qualquer pesquisador competente.<br />

Portanto, no que se refere à sua valida<strong>de</strong>,<br />

o F. é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> opiniões, preconceitos<br />

e mesmo <strong>de</strong> juízos e valorações que não sejam<br />

inerentes ao uso dos instrumentos capazes <strong>de</strong><br />

confirmá-lo. Assim, tem duas características<br />

fundamentais: d) referência a um método apropriado<br />

<strong>de</strong> confirmação ou verificação; b) in<strong>de</strong>pendência<br />

em relação a crenças subjetivas ou<br />

pessoais <strong>de</strong> quem emprega o método. Precisamente<br />

em vista <strong>de</strong>ssas duas características, a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "olhar os fatos", <strong>de</strong> "consi<strong>de</strong>rar<br />

os fatos" ou <strong>de</strong> "aceitar os fatos" hoje é consi<strong>de</strong>rada<br />

um dos requisitos fundamentais não só<br />

do cientista e do pesquisador em geral, mas <strong>de</strong><br />

qualquer cidadão.<br />

Não obstante a importância que assumiu na<br />

cultura mo<strong>de</strong>rna, essa noção raramente foi alvo<br />

da atenção dos filósofos. A história <strong>de</strong> suas<br />

análises <strong>de</strong>ssa noção é parca, po<strong>de</strong>ndo-se dizer<br />

que começa no séc. XVII, quando, com a distinção<br />

entre "verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> razão" e "verda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

F.", também se começa a distinguir — ao menos<br />

implicitamente — a esfera própria do fato.<br />

O primeiro a fazer essa distinção foi Hobbes:<br />

"Há duas espécies <strong>de</strong> conhecimento, das quais<br />

uma é o conhecimento <strong>de</strong> F. e outra é o conhecimento<br />

da conseqüência <strong>de</strong> uma afirmação relativamente<br />

a outra. A primeira é apenas senti-

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