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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ERRO 343 ERRO<br />

mindo bem a posição do i<strong>de</strong>alismo romântico,<br />

"o E. é o superado: aquilo que, em outros termos,<br />

está em face do nosso conceito, como<br />

seu não ser. Portanto, assim como a dor, não<br />

é uma realida<strong>de</strong> que se oponha à realida<strong>de</strong> espírito<br />

(Conceptus Suí), mas é a própria realida<strong>de</strong><br />

aquém <strong>de</strong> sua realização, num momento<br />

i<strong>de</strong>al" (Teoria do espírito, cap. 16, § 8). Essa é a<br />

solução tipicamente dialética (no sentido hegeliano<br />

do termo) do problema do E.: o E. é o momento<br />

negativo, <strong>de</strong>stinado a ser "superado" ou<br />

a "ser transformado em verda<strong>de</strong>" pelo momento<br />

positivo e concreto: como E., não existe.<br />

2 3 A segunda solução típica do problema do<br />

E. consiste em atribuí-lo a uma faculda<strong>de</strong> diferente<br />

do intelecto, mas capaz <strong>de</strong> agir sobre ele<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviá-lo do seu funcionamento correto.<br />

A) A primeira alternativa nesse sentido é a<br />

que o atribui à vonta<strong>de</strong>. Já se viu que S.<br />

Agostinho começou julgando o E. como o afastamento<br />

voluntário da or<strong>de</strong>m das coisas estabelecida<br />

por Deus. A idéia do caráter voluntário<br />

do E. acaba prevalecendo na última fase da<br />

Escolástica: é <strong>de</strong>fendida por Duns Scot e<br />

Ockham. De fato, ambos enten<strong>de</strong>m a vonta<strong>de</strong><br />

como a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> executar atos opostos<br />

porquanto é absolutamente livre. A ela se <strong>de</strong>ve<br />

o assentimento dado a uma proposição e, portanto,<br />

também a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar assentimento<br />

a proposições falsas ou <strong>de</strong> dissentir <strong>de</strong> proposições<br />

verda<strong>de</strong>iras (OCKHAM, In Sent., II, q. 25,<br />

L). Para Ockham, o assentimento da vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ve necessariamente seguir-se à evidência intuitiva<br />

dos primeiros princípios da <strong>de</strong>monstração,<br />

ou das verda<strong>de</strong>s empíricas ou conclusões<br />

das <strong>de</strong>monstrações; por outro lado, po<strong>de</strong> se<br />

dar assentimento ao que é <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> qualquer<br />

evidência (Jbid., II, q. 25, Y); nesses casos,<br />

<strong>de</strong>termina-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erro. Essa doutrina<br />

foi substancialmente reproduzida por<br />

Descartes, em sua tese <strong>de</strong> que "a vonta<strong>de</strong> é<br />

maior que o intelecto, po<strong>de</strong>ndo, pois, dar assentimento<br />

ao que não tem clareza e distinção<br />

suficientes para o intelecto. A vonta<strong>de</strong>", diz<br />

Descartes, "po<strong>de</strong> parecer <strong>de</strong> certo modo infinita<br />

porque nada percebemos que possa ser o<br />

objeto <strong>de</strong> outra vonta<strong>de</strong>, nem mesmo da vonta<strong>de</strong><br />

imensa <strong>de</strong> Deus, até a qual a nossa não<br />

po<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r-se. Essa é a causa <strong>de</strong> ordinariamente<br />

levarmos a vonta<strong>de</strong> além daquilo que<br />

conhecemos clara e distintamente; e quando<br />

assim abusamos <strong>de</strong>la não é <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r que<br />

aconteça enganar-nos" (Princ. phil, I, 35). De<br />

modo análogo, Locke dizia que "o E. não é<br />

uma falha do nosso conhecimento, mas um engano<br />

do nosso juízo, que dá assentimento ao<br />

que não é verda<strong>de</strong>iro". E enunciava quatro razões<br />

do assentimento errado: l s falta <strong>de</strong> provas;<br />

2 S falta <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usá-las; 3 a falta <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vê-las; 4 Q cálculo errado <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s<br />

(Ensaio, IV, 20, § 1). Rosmini também<br />

atribui o E. à vonta<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-o <strong>de</strong>corrente<br />

da ausência do elemento i<strong>de</strong>al (Idéia do<br />

ser) ou do elemento real (sentimento ou sensação)<br />

da percepção intelectiva (Novo ensaio,<br />

§§ 1356-59). Mas, dada a formulação geral da<br />

teoria <strong>de</strong> Rosmini, que i<strong>de</strong>ntifica a idéia do ser<br />

com a "forma da razão", a primeira espécie <strong>de</strong><br />

E. pareceria implicar o po<strong>de</strong>r da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

dissociar a razão da "forma". Finalmente, o próprio<br />

Croce aceitou essa teoria do E.: "Quem<br />

comete um erro não tem nenhum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

distorcer, <strong>de</strong>svirtuar ou macular a verda<strong>de</strong>,<br />

que é seu próprio pensamento, o pensamento<br />

que opera nele como em todos; aliás, assim<br />

que toca o pensamento, é tocado por ele:<br />

pensa e não erra. Tem apenas o po<strong>de</strong>r pratico<br />

<strong>de</strong> passar do pensamento ao fazer; e o fazer, e<br />

não o pensar, é abrir a boca e emitir sons aos<br />

quais não corresponda o pensamento, ou, o que<br />

dá no mesmo, um pensamento que tenha valor,<br />

precisão, coerência, verda<strong>de</strong>" (Lógica, 4ed.,<br />

1920, pp. 254-55).<br />

B) A outra alternativa <strong>de</strong>ssa solução é que o<br />

E. se <strong>de</strong>ve à sensibilida<strong>de</strong> ou, pelo menos, à<br />

ação da sensibilida<strong>de</strong> do intelecto. Essa é a<br />

doutrina <strong>de</strong> Kant a respeito. Um juízo errôneo<br />

— e o E., assim como a verda<strong>de</strong>, só po<strong>de</strong> existir<br />

no juízo — é o que confun<strong>de</strong> a aparência<br />

da verda<strong>de</strong> com a verda<strong>de</strong>. Essa confusão<br />

não seria possível se o homem não tivesse<br />

outra faculda<strong>de</strong> além do intelecto. Mas como o<br />

homem, além do intelecto, tem sensibilida<strong>de</strong>,<br />

não po<strong>de</strong> evitar a influência oculta da sensibilida<strong>de</strong><br />

sobre o intelecto, e <strong>de</strong>ssa influência nasce<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confundir o subjetivo com o<br />

objetivo, ou seja, a aparência da realida<strong>de</strong> com<br />

a própria realida<strong>de</strong> (Logik, Einleitung, VII). Essa<br />

teoria kantiana retorna em alguns filósofos contemporâneos.<br />

P. ex., para C. I. Lewis o E. é<br />

<strong>de</strong>vido à combinação dos dados mediados<br />

pela experiência com as suas interpretações<br />

ou integrações habituais, <strong>de</strong> natureza intelectual<br />

(Analysis ofKnowledge and Valuation,<br />

p. 26).<br />

Em geral, a teoria do E. não é alvo <strong>de</strong> muita<br />

atenção por parte da <strong>filosofia</strong> contemporânea.<br />

Algumas correntes não elaboram uma teoria

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