22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SUBLIME 923 SUBLIME<br />

palavra começou a ser usada com tal sentido<br />

no sée. I a.C, tendo sido analisada no pequeno<br />

tratado Sobre o S. do Pseudo Logino: "O S. é a<br />

ressonância da nobreza da alma, tanto que<br />

admiramos às vezes um pensamento singelo,<br />

sem voz, por si, pela superiorida<strong>de</strong> do sentimento.<br />

O silêncio <strong>de</strong> Ajax em Nekyia é maior<br />

e mais nobre que qualquer discurso" (Desubi,<br />

IX). No mesmo significado, essa palavra foi<br />

usada pelos autores latinos, principalmente por<br />

Quintiliano (Inst. ar, VIII, 3, 18; VIII, 3, 74; XI, I,<br />

3; XI, 3, 153, etc). Este é também o significado<br />

com que essa palavra costuma ser usada; refere-se<br />

não só a expressões lingüísticas ou literárias,<br />

mas também a ações ou atitu<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas<br />

nobres ou elevadas. Foi nesse mesmo<br />

sentido que Croce enten<strong>de</strong>u o S., <strong>de</strong>finindo-o<br />

como "afirmação subitânea <strong>de</strong> uma força moral<br />

po<strong>de</strong>rosíssima", para expungi-lo da arte (Estética,<br />

¥ ed.. 1912, p. 107).<br />

2. Em sentido próprio e estrito, o S. é o<br />

prazer que provém da imitação (ou da contemplação)<br />

<strong>de</strong> uma situação dolorosa. Com esse sentido,<br />

essa noção vem diretamente do conceito<br />

aristotélico <strong>de</strong> tragédia: que <strong>de</strong>ve provocar<br />

"pieda<strong>de</strong> e terror"; por isso, como diz Aristóteles,<br />

o poeta trágico "<strong>de</strong>ve propiciar o prazer<br />

que nasce da pieda<strong>de</strong> e do terror por meio da<br />

imitação" (Poet. 14, 1453 b 10). No século XVIII,<br />

essa noção <strong>de</strong> tragédia <strong>de</strong>u origem a um problema<br />

que foi examinado por Hume num dos<br />

seus Ensaios morais epolíticos (1741): "Parece<br />

inexplicável o prazer que os espectador <strong>de</strong> uma<br />

tragédia bem escrita aufere cia dor, do terror, da<br />

angústia e <strong>de</strong> outras paixões que, em si mesmas,<br />

são <strong>de</strong>sagradáveis e penosas" (é assim<br />

que Hume inicia o ensaio intitulado Of Traf>edy);<br />

sua análise serviu <strong>de</strong> fundamento para a<br />

obra <strong>de</strong> Burke, que em Inquiry ou the Origin<br />

of our I<strong>de</strong>as of Sublime and Beautiful (1756)<br />

distinguiu claramente o S. do Belo: "O Belo e o<br />

S. são idéias <strong>de</strong> natureza diferente: um tem<br />

fundamento na dor e o outro no prazer; embora<br />

possam <strong>de</strong>pois afastar-se cia verda<strong>de</strong>ira natureza<br />

<strong>de</strong> suas causas, estas continuarão sendo<br />

diferentes uma da outra, e essa diferença nunca<br />

<strong>de</strong>verá ser esquecida por quem se propuser<br />

suscitar paixões" (Inquiry ou the Origin q/ our<br />

I<strong>de</strong>as of Sublime and Beautiful 1756, III, 27).<br />

O terror, a dor em geral, as situações <strong>de</strong> perigo<br />

são causas do S. (Ibid., IV, 5). O modo como<br />

essa causa po<strong>de</strong> produzir prazer (porque o S. é<br />

um prazer) é um problema que Burke resolve<br />

da mesma maneira que Hume; este, por sua<br />

vez, inspirara-se em Fontenelle Uiâ/lexions sur<br />

Ia poétique. 36): o prazer provém cio exercício,<br />

ou seja, do movimento que a dor e o terror<br />

provocam no espírito quando isentos do real<br />

perigo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. Nesse caso — como diz<br />

Burke — o que nasce não é exatamente o prazer,<br />

mas "uma espécie <strong>de</strong> horror <strong>de</strong>leitável, <strong>de</strong><br />

tranqüilida<strong>de</strong> matizada <strong>de</strong> terror; este, porém,<br />

quando provém do instinto <strong>de</strong> conservação, é<br />

uma das paixões mais fortes. Isso é o S." (Ibid.,<br />

IV, 7). Nas Observações sobre o sentimento do<br />

belo e do S. (1764), Kant repeliu substancialmente<br />

os mesmos conceitos, robustecendo-os<br />

com vasta exemplificação, <strong>de</strong> valor bastante<br />

duvidoso, pois continha entre outras coisas a<br />

caracterização dos diferentes povos, com base<br />

em suas atitu<strong>de</strong>s em relação ao S. e ao belo<br />

(Beobacbtungen iiber das Gefühl <strong>de</strong>s Schônoi<br />

und Erhabenen, IV). Mas em Crítica do juízo.<br />

as idéias <strong>de</strong> Hume e Burke toram expressas<br />

com maior rigor conceituai, ganhando forma<br />

clássica. Segundo Kant, o sentimento do S. tem<br />

dois componentes: 1" apreensão <strong>de</strong> uma dimensão<br />

<strong>de</strong>sproporcional ás faculda<strong>de</strong>s sensíveis<br />

do homem (S. matemático), ou <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r<br />

terrificante para essas mesmas faculda<strong>de</strong>s<br />

(S. dinâmico); I- o sentimento <strong>de</strong> conseguir<br />

reconhecer essa <strong>de</strong>sproporção ou ameaça, e,<br />

por isso, <strong>de</strong> ser superior a ambas. Kant diz: "A<br />

qualida<strong>de</strong> do sentimento do sublime é ser ele,<br />

em relação a algum objeto, um sentimento <strong>de</strong><br />

pa<strong>de</strong>cimento, representado ao mesmo tempo<br />

como final; isso é possível porque nossa impotência<br />

revela a consciência <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r ilimitado<br />

do mesmo sujeito, e o sentimento só po<strong>de</strong><br />

julgar esteticamente este último através da primeira"<br />

(Crít. do Juízo, § 27). Por isso, Kant <strong>de</strong>fine<br />

o S. como "o que agrada imediatamente<br />

pela sua oposição ao interesse dos sentidos"<br />

(Ibid., § 29. Obs. geral); com isso enten<strong>de</strong><br />

que, ao advertir a <strong>de</strong>sproporção ou o perigo<br />

que o S. representa para a sua natureza sensível,<br />

o homem se dá conta <strong>de</strong> que, justamente<br />

por adverti-la, não é escravo <strong>de</strong>ssa natureza,<br />

mas livre perante ela. Friedrich Schiller só fez<br />

expor e esclarecer as idéias <strong>de</strong> Kant ao afirmar<br />

que "se chama <strong>de</strong> S. o objeto para cuja representação<br />

nossa natureza física sente seus próprios<br />

limites, ao mesmo tempo em que nossa<br />

natureza racional percebe sua própria superiorida<strong>de</strong>,<br />

seu caráter ilimitado: um objeto diante<br />

do qual somos fisicamente fracos mas moralmente<br />

superiores, graças às idéias" ( Vom Erhabenen,<br />

1793). Schiller distinguiu o S. teórico.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!