22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

LUZ 1<br />

pontos cie divergência entre a corrente agostiniana<br />

e a aristotélica. Essa divergência 6 tipicamente<br />

expressa pelas posições <strong>de</strong> S. Boaventura<br />

e <strong>de</strong> S. Tomás. S. Boaventura refere-se<br />

às palavras <strong>de</strong> Agostinho, "'que, com letras claras<br />

e razões, <strong>de</strong>monstra que a mente, em seu<br />

conhecimento certo, <strong>de</strong>ve ser dirigida por regras<br />

imutáveis e eternas; não através <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong> suas disposições (habitas), mas diretamente<br />

por essas regras, que estào acima <strong>de</strong>la, na Verda<strong>de</strong><br />

eterna" (Desciencia Christi, q. 4). S. Tomás<br />

admite que "tudo aquilo que se sabe com<br />

certeza <strong>de</strong>riva da L. da razão que, por obra divina,<br />

é inata interiormente no homem" (De<br />

rer., q. 11, a. 1, a d 13)- Mas interpreta aristotelicamente<br />

essa L. como o conhecimento inato<br />

dos primeiros princípios in<strong>de</strong>monstráveis "conhecidos<br />

graças à L. do intelecto agente" (Contra<br />

Gent., III, 46). Em outros termos, o conhecimento<br />

humano da verda<strong>de</strong> não é visão em<br />

Deus, ou iluminação direta por parte <strong>de</strong> Deus:<br />

é o uso <strong>de</strong> uma "forma" que Deus comunicou<br />

à mente humana e que constitui, portanto, a "L.<br />

natural" <strong>de</strong>la (S. lh., I, q. 106, a. 1). Dessa L natural<br />

S. Tomás distingue a L. da glória (lumen<br />

gloriae), que torna a criatura racional "<strong>de</strong>iforme",<br />

capaz <strong>de</strong> ver a essência divina; nega que<br />

a L. da glória possa ser uma disposição natural<br />

do homem (Ibid., I q. 12, a. 5); diz o mesmo<br />

sobre o lunien gratiae, a graça justificante (Ibid.,<br />

I, q. 106, a. 1).<br />

O significado do conceito <strong>de</strong> L. em Agostinho,<br />

que é <strong>de</strong> iluminação contínua por parte<br />

<strong>de</strong> Deus, conserva-se nas doutrinas cie inspiração<br />

agostjjiiana no mundo mo<strong>de</strong>rno e contemporâneo.<br />

Para elas, o conhecimento é uma "visão<br />

em Deus": Malebranche (Recherche <strong>de</strong> Ia<br />

vérité, III, 2, 6), Rosmini (Nuovo saggio, § 396)<br />

e Gioberti (Introei, alio studio <strong>de</strong>lia fil, 11, p.<br />

175). Por outro lado, <strong>de</strong> acordo com a segunda<br />

interpretação, a L. natural acaba per<strong>de</strong>ndo<br />

qualquer conexão teológica. O título que Descartes<br />

<strong>de</strong>u a um diálogo inacabado, que <strong>de</strong>veria<br />

sintetizar sua <strong>filosofia</strong>, <strong>de</strong>monstra o modo<br />

como ele entendia es.sa noção: "Busca da verda<strong>de</strong><br />

com a I.. natural que, por si só, sem o auxílio<br />

da religião e da <strong>filosofia</strong>, <strong>de</strong>termina as opiniões<br />

que um homem honesto <strong>de</strong>ve ter sobre<br />

todas as coisas que possam ocupar seu pensamento,<br />

L. que penetra até os segredos das ciências<br />

mais curiosas." Assim entendida, a L. natural<br />

é o "bom senso oti razão" que, nas primeiras<br />

linhas do Discurso do método, é consi<strong>de</strong>rada<br />

"a coisa mais bem distribuída do mundo";<br />

634<br />

sobre ela se diz, em Princípios <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong><br />

(I, 30): "A faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer, que nos foi<br />

dada e que nós <strong>de</strong>nominamos L. natural, só<br />

percebe objetos verda<strong>de</strong>iros, porquanto os<br />

apercebe, ou seja, conhece-os clara e distintamente."<br />

Leibniz, por sua vez, afirma que "a L.<br />

natural supõe um conhecimento distinto"<br />

(Nour. ess., I, 1, 21) e Wolff entendia por "L. da<br />

alma" a "clareza das percepções" (Psychol.<br />

empírica, § 35). Nestes empregos, essa palavra<br />

não tem mais nada do significado tradicional,<br />

<strong>de</strong> L. que, proveniente <strong>de</strong> fora ou do alto, penetre<br />

na mente humana para guiá-la. A L. natural<br />

aqui é somente a clareza do pensamento<br />

humano. Ao falar cia máxima "É preciso seguir<br />

a alegria e evitar a tristeza", Leibniz afirma:<br />

"Trata-se <strong>de</strong> um princípio inato, mas que não<br />

faz parte cia L. natural, pois não fica sendo conhecido<br />

<strong>de</strong> maneira luminosa" (Nouv. ess., I, 2,<br />

1). O significado que a expressão "as L." assumiu<br />

no período iluminista é esclarecido por<br />

Leibniz. As L. são a clareza da crítica racional<br />

aplicada a todos os campos possíveis do saber<br />

e Lisada como critério diretivo do pensamento<br />

e da conduta do homem.<br />

LUZ 2 (lat. Lux, in. Light;h. Lumière, ai. Licht;<br />

it. Luce). Para certa tradição filosófica, cuja origem<br />

remota e provável estaria na religião persa<br />

que adorou Mitra como "Espírito da L." (cf.<br />

CUMONT, Oriental Religíons in Romein Paganism;<br />

trad. in., p. 155), a L. é uma realida<strong>de</strong> privilegiada<br />

<strong>de</strong> natureza incorpórea, via <strong>de</strong> comunicação<br />

entre as regiões superiores do mundo<br />

e do homem. As características mais evi<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong>ssa doutrina são as seguintes: \- a L. é uma<br />

realida<strong>de</strong> superior privilegiada: é Deus ou <strong>de</strong><br />

Deus; 2 a a L. é incorpórea e serve <strong>de</strong> ligação<br />

entre o mundo incorpóreo e o mundo corpóreo;<br />

3 a a L. é a forma geral (essência ou natureza)<br />

das coisas corpóreas. As primeiras duas<br />

teses são <strong>de</strong> caráter religioso e <strong>de</strong> claríssima<br />

origem oriental. A terceira é propriamente filosófica<br />

e caracteriza o agostinismo medieval.<br />

Na <strong>filosofia</strong> oci<strong>de</strong>ntal, a metafísica da L. é<br />

introduzida por Parmêni<strong>de</strong>s: "E como se diz<br />

que todas as coisas são L. e noite, e como L. e<br />

noite estào presentes nisto e naquilo, segundo<br />

suas possibilida<strong>de</strong>s, o todo é pleno <strong>de</strong> L. e ao<br />

mesmo tempo <strong>de</strong> invisível treva; L. e trevas são<br />

iguais, pois nenhuma prevalece sobre a outra"<br />

(Fr 9). A substancializaçào da L. é freqüente<br />

em Enóadas <strong>de</strong> Plotino, em que às vezes não é<br />

fácil distinguir a L. como metáfora da L. como<br />

substância (p. ex., Enn., V, 3, 9; IV, 3, 17). Apa-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!