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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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COISA 151 COISA-EM-SI<br />

significativo que tais tentativas tenham partido<br />

<strong>de</strong> dois pontos <strong>de</strong> vista in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e aparentemente<br />

contrastantes, o naturalismo instrumentalista,<br />

<strong>de</strong> um lado, e a <strong>filosofia</strong> existencialista,<br />

<strong>de</strong> outro.<br />

Mead mostrou a ligação entre a noçào <strong>de</strong> C.<br />

e o "mundo da ação". As C. se inserem numa<br />

fase bem <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong>sse mundo, isto é, na<br />

que se situa entre o início <strong>de</strong> uma ação e a sua<br />

consumação final. Em outros termos, é na fase<br />

da manipulação que comparece ou se constitui<br />

a C. física, que, no entanto, é universal no<br />

sentido <strong>de</strong> pertencer à experiência <strong>de</strong> todos<br />

(Mind, Self and Society, pp. 184-85). Dewey,<br />

por sua vez, mostrou a estreita conexão do<br />

modo <strong>de</strong> ser das C. com a investigação. "As C",<br />

disse ele, "existem como objetos para nós na<br />

medida em que tenham sido preliminarmente<br />

<strong>de</strong>terminadas como resultados <strong>de</strong> investigações.<br />

Quando são usadas na preparação <strong>de</strong> novas<br />

investigações sobre novas situações problemáticas,<br />

são conhecidas como objetos só em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> indagações anteriores que justificam<br />

a sua assertivida<strong>de</strong>. Na nova situação, os objetos<br />

são meios para alcançar o conhecimento <strong>de</strong><br />

alguma outra C." (Logic, VI; trad. it., p. 175).<br />

Dewey afirmou nitidamente o caráter instrumental<br />

das C. e, em geral, <strong>de</strong> todos os objetos<br />

<strong>de</strong> conhecimento. Tanto as "C. imediatas"<br />

quanto os objetos da ciência física "construídos<br />

por uma or<strong>de</strong>m matemático-mecânica" são<br />

"meios para garantir ou para evitar <strong>de</strong>terminados<br />

objetos imediatos" (Experience and Nature,<br />

p. 141). Essas <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> Mead e<br />

Dewey são apresentadas como resultados <strong>de</strong><br />

análises empíricas. Hei<strong>de</strong>gger apresenta suas<br />

<strong>de</strong>terminações como resultados <strong>de</strong> uma análise<br />

existencial: a noção <strong>de</strong> C. é esclarecida por ele<br />

como um elemento da existência humana<br />

enquanto "ser-no-mundo". Ser no mundo<br />

significa ocupar-se com alguma C. e a C. é<br />

sempre um instrumento (Zeug), um meio<br />

para... Enquanto tal, o modo <strong>de</strong> ser da C. é o<br />

da instrumentalida<strong>de</strong>, e "a instrumentalida<strong>de</strong> é<br />

a <strong>de</strong>terminação ontológico-categorial do ente<br />

como ele é em si'. Quer dizer: a instrumentalida<strong>de</strong><br />

não se acrescenta como uma qualida<strong>de</strong><br />

secundária ou extrínseca à realida<strong>de</strong> da C,<br />

mas a constitui, ê essa mesma realida<strong>de</strong>. O<br />

modo <strong>de</strong> ser da C. é o da instrumentalida<strong>de</strong>, do<br />

ser instrumento ou instrumento para... Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, "a natureza não po<strong>de</strong> ser entendida<br />

como simples presença, nem mesmo<br />

como força natural. A floresta é plantação, a<br />

montanha é pedreira, a corrente é força hidráulica,<br />

o vento é vento em popa. A <strong>de</strong>scoberta do<br />

mundo ambiente e a <strong>de</strong>scoberta da natureza<br />

ocorrem ao mesmo tempo". Po<strong>de</strong>-se certamente<br />

procurar ver o que é a natureza, e <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

lado a instrumentalida<strong>de</strong> das C. Mas, nesse<br />

caso, a natureza permanece incompreensível<br />

"como o que tece e acontece, o que se precipita<br />

sobre nós e nos empolga" (Sein und Zeit,<br />

§ 15). Sem dúvida, Hei<strong>de</strong>gger conseguiu <strong>de</strong>terminar,<br />

ainda melhor do que o instrumentalismo<br />

americano, o modo <strong>de</strong> ser instrumental das<br />

coisas, a categoria da instrumentalida<strong>de</strong> que o<br />

<strong>de</strong>fine. Por sua vez, Lewis pôs em evidência as<br />

implicações lógicas que semelhante conceito<br />

da C. traz em si. "Atribuir uma qualida<strong>de</strong> objetiva<br />

a uma C", disse ele, "significa implicitamente<br />

a previsão <strong>de</strong> que, se eu agir <strong>de</strong> certa maneira,<br />

ocorrerá certa experiência especifícável:<br />

se eu mor<strong>de</strong>r esta maçã, seu sabor será doce; se<br />

eu a comer, será digerida e não me envenenará,<br />

etc. Essas e outras tantas proposições hipotéticas<br />

constituem o meu conhecimento da<br />

maçã que tenho em mãos" {Mind and lhe<br />

World-Or<strong>de</strong>r, cap. V, ed. Dover, p. 140). As expressões<br />

da forma Se... então referem-se a<br />

possibilida<strong>de</strong>s que transcen<strong>de</strong>m a experiência<br />

atual e que são próprias do homem como<br />

ser ativo. "O significado cio conhecimento",<br />

disse ainda Lewis a esse propósito, "<strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do significado <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> que não é<br />

atual. Possibilida<strong>de</strong> e impossibilida<strong>de</strong>, logo necessida<strong>de</strong><br />

e contingência, compatibilida<strong>de</strong> e<br />

incompatibilida<strong>de</strong>, e várias outras noções fundamentais,<br />

exigem que <strong>de</strong>va haver proposições<br />

'Se... então', cuja verda<strong>de</strong> ou falsida<strong>de</strong> é<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da condição afirmada na oração<br />

antece<strong>de</strong>nte" (Ibid., 142 n.) (v. IMPLICAÇÃO). O<br />

horizonte lógico do conceito <strong>de</strong> C, elaborado<br />

pela <strong>filosofia</strong> contemporânea, é, portanto, o da<br />

possibilida<strong>de</strong>, expresso pelas proposições condicionais.<br />

Isso é confirmado pelos resultados<br />

das pesquisas experimentais realizadas pela<br />

psicologia transacional, que levam a ver na C.<br />

certa "classe <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s" que constitui<br />

uma prognose generalizada, com base na experiência<br />

passada, dos usos ou comportamentos<br />

possíveis <strong>de</strong> um objeto (Explorations in<br />

TransactionalPsychology, org. F. P. Kilpatrick,<br />

1961, cap. 21; trad. it., p. 495-96).<br />

COISA-EM-SI (in. Thing in itself, fr. Chose<br />

en soi; ai. Ding an sich; it. Cosa in sé). O que a<br />

C. é, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da sua relação com o<br />

homem, para o qual é um objeto <strong>de</strong> conheci-

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