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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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TEMPO 947 TEMPO<br />

nui e consuma-se o futuro que ainda não existe?<br />

F, <strong>de</strong> que modo cresce o passado que já não<br />

é mais, senão porque na alma existem as três<br />

coisas, presente passado e futuro? A alma <strong>de</strong><br />

fato espera, presta atenção e recorda, cie tal<br />

modo que aquilo que ela espera passa, através<br />

daquilo a que ela presta atenção, para aquilo<br />

que ela recorda. Ninguém nega que o futuro<br />

ainda não exista, mas na alma já existe a espera<br />

do futuro: ninguém nega que o passado já não<br />

exista, mas na alma ainda existe a memória do<br />

passado. H ninguém nega que o presente careça<br />

<strong>de</strong> duração porque logo inci<strong>de</strong> no passado,<br />

mas dura a atenção por meio da qual aquilo<br />

que será passa, afasta-se em direção ao passado"<br />

( O» if, XI, 28, 1). A tese fundamental <strong>de</strong>ssa<br />

concepção <strong>de</strong> T. foi enunciada pelo próprio S.<br />

Agostinho: "A rigor, não existem três T., passado,<br />

presente e futuro, mas somente três<br />

presentes: o presente do passado, o presente<br />

do presente e o presente do futuro" (Ibici, XI.<br />

20, 1).<br />

Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna, Bergson reexpôs essa<br />

concepção, contrapondo-a ao conceito científico<br />

<strong>de</strong> tempo. Segundo ele, o T. da ciência é<br />

espacializado e, por isso, não tem nenhuma<br />

das características que a consciência lhe atribui.<br />

Ele é representado como Lima linha, mas "a linha<br />

é imóvel, enquanto o T. é mobilida<strong>de</strong>. A<br />

linha já está feita, ao passo que o T. é aquilo<br />

que se faz; aliás, é aquilo graças a que todas as<br />

coisas se fazem" (ha pensée et le motivam, 3 3<br />

ed., 1934, p. 9). Já em sua primeira obra, lissai<br />

sur les données immédiates <strong>de</strong> Ia cunscíence,<br />

Bergson insistira na exigência <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o<br />

T. vivido (a duração da consciência) como<br />

uma corrente fluida na qual é impossível até<br />

distinguir estados, porque cada instante <strong>de</strong>la<br />

transpõe-se no outro em continuida<strong>de</strong> ininterrupta,<br />

como acontece com as cores do arcoíris.<br />

Esse ficou sendo o conceito fundamental<br />

<strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong>. Segundo Bergson, o T. como<br />

duração possui duas características fundamentais:<br />

\- novida<strong>de</strong> absoluta a cada instante, em<br />

virtu<strong>de</strong> do que é um processo contínuo <strong>de</strong> criação;<br />

2" conservação infalível e integral <strong>de</strong> todo<br />

o passado, em virtu<strong>de</strong> do que age como uma<br />

bola <strong>de</strong> neve e continua crescendo à medida<br />

que caminha para o futuro. Não muito diferente<br />

é o conceito <strong>de</strong> Husserl sobre o "T. fenomenológico".<br />

Ele afirma: "Toda vivência efetiva<br />

é necessariamente algo que dura; e com essa<br />

duração insere-se em um infinito contínuo <strong>de</strong><br />

durações, em um contínuo pie no. Tem necessa-<br />

riamente um horizonte temporal atualmente infinito<br />

<strong>de</strong> todos os lados. Isso significa que pertence<br />

a uma corrente infinita <strong>de</strong> vivências. Cada<br />

vivência isolada, assim como po<strong>de</strong> começar,<br />

po<strong>de</strong> acabar e encerrar sua duração; é o<br />

que acontece, p. ex., com a experiência <strong>de</strong><br />

uma alegria. Mas a corrente <strong>de</strong> vivências não<br />

po<strong>de</strong> começar nem acabar" (I<strong>de</strong>en, I. § 81). Isso<br />

significa que, assim como a duração bergsoniana,<br />

a corrente <strong>de</strong> vivências tudo conserva e<br />

é uma espécie <strong>de</strong> eterno presente.<br />

3 a O terceiro conceito <strong>de</strong> T. transforma-o<br />

em estrutura da possibilida<strong>de</strong>. Esse é o conceito<br />

encontrado em Heiclegger na obra Ser e T.<br />

(1927), que já no título anuncia a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

dos dois termos. A primeira característica <strong>de</strong>ssa<br />

concepção é o primado do futuro na interpretação<br />

do tempo; as duais concepções anteriores<br />

fundam-se no primado do presente. O T. como<br />

or<strong>de</strong>m do movimento é uma totalida<strong>de</strong> presente<br />

porque toda or<strong>de</strong>m pressupõe a simultaneida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas partes, <strong>de</strong> cuja recíproca adaptação<br />

ela nasce. A concepção <strong>de</strong> T. como <strong>de</strong>vir<br />

intuído só faz interpretá-lo em função do presente,<br />

porque a intuição do <strong>de</strong>vir é sempre um<br />

agora, um instante presente. Heiclegger. ao<br />

contrário, interpretou o T. em termos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong><br />

ou <strong>de</strong> projeção: o T. é originariamente<br />

opor-rir (Zu-kunft); mais precisamente: quando<br />

o T. é autêntico (originário e próprio da<br />

existência), é "o porvir do ente para si mesmo<br />

na manutenção da possibilida<strong>de</strong> característica<br />

como tal". "Porvir não significa um agora, que,<br />

ainda não tendo se tornado atual, algum dia o<br />

será, mas o advento em que o ser-aí vem a si<br />

em seu po<strong>de</strong>r-ser mais próprio. É a antecipação<br />

que torna o ser-aí propriamente porvindouro.<br />

<strong>de</strong> sorte que a própria antecipação só é possível<br />

porque o ser-aí, enquanto ente, sempre já<br />

vem a si" (Sein und Zeít, § 65). O passado,<br />

como um ter-sido, é condicionado pelo porvir<br />

porque, assim como são possibilida<strong>de</strong>s autênticas<br />

aquelas que já foram, também já foram as<br />

possibilida<strong>de</strong>s às quais o homem po<strong>de</strong> autenticamente<br />

retornar e <strong>de</strong> que ainda po<strong>de</strong> apropriar-se<br />

(Ibid., § 65). Tanto o T. autêntico, em<br />

que o ser-aí projeta sua própria possibilida<strong>de</strong><br />

privilegiada (o que já foi, <strong>de</strong> tal modo que suas<br />

escolhas são escolhas do já escolhido, isto é,<br />

da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher), quanto o T.<br />

ínantêntico, que é o da existência banal, como<br />

sucessão infinita <strong>de</strong> instantes, ambos são o sobrevir<br />

do que a possibilida<strong>de</strong> projetada apresenta<br />

ao ser-aí (isto é, ao homem); portanto são

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