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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS 259 DEUS<br />

seja nas interpretações trinitárias menos felizes,<br />

que às vezes se inclinam para o politeísmo.<br />

Foi o que aconteceu, p. ex., com Gilbert <strong>de</strong> Ia<br />

Porrée (séc. XII), que tomava por base a distinção<br />

entre <strong>de</strong>ítas e Deusiv. DEIDADK). Por outro<br />

lado, toda forma <strong>de</strong> panteísmo, antigo ou mo<strong>de</strong>rno,<br />

ten<strong>de</strong> a ser politeísta, já que ten<strong>de</strong> a difundir<br />

o caráter da divinda<strong>de</strong> por certo número<br />

<strong>de</strong> entes, <strong>de</strong>bilitando ao mesmo tempo a separação<br />

entre esses entes e mantendo a distinção<br />

entre divinda<strong>de</strong> e D. Assim, para Hegel, as instituições<br />

históricas nas quais se realiza a razão<br />

autoconsciente, em primeiro lugar o Estado,<br />

são verda<strong>de</strong>iras divinda<strong>de</strong>s: "O Estado", diz Hegel,<br />

"é a vonta<strong>de</strong> divina enquanto espírito atual<br />

que se explicita coma forma reale como organização<br />

<strong>de</strong> um mundo" (Fil. do dir, § 270). São<br />

ainda mais claramente politeístas as formas do<br />

panteísmo mo<strong>de</strong>rno. Bergson, Alexandre, Whitehead<br />

(d. os trechos citados em 1 B), conferindo<br />

ao mundo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> realizar a divinda<strong>de</strong>,<br />

reconhecem explicitamente que esta, no<br />

momento da realização, concretizar-se-á numa<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seres divinos. De outro ponto<br />

<strong>de</strong> vista, Hume conferira valor positivo ao<br />

politeísmo, quer porque este, ao admitir que os<br />

<strong>de</strong>uses <strong>de</strong> outras seitas ou nações também participam<br />

da divinda<strong>de</strong>, torna as várias <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>s<br />

compatíveis e obsta à intolerância, quer porque<br />

ele é mais racional, pois consiste "apenas<br />

numa coleção <strong>de</strong> histórias que, apesar <strong>de</strong> não<br />

terem fundamento, não implicam nenhum absurdo<br />

expresso nem contradição <strong>de</strong>monstrativa"<br />

(The Natural History ofReligion, seç. XI e<br />

XII, em Essays, II, pp. 336 e 352). Renouvier<br />

<strong>de</strong>fendia explicitamente o politeísmo como único<br />

corretivo do fanatismo religioso e do absolutismo<br />

filosófico. Dizia: "O progresso da vida e da<br />

virtu<strong>de</strong> povoa o universo <strong>de</strong> pessoas divinas e<br />

estaremos sendo fiéis a um sentimento religioso<br />

antigo e espontâneo quando chamarmos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>uses aqueles que acreditarmos capazes <strong>de</strong><br />

honrar a natureza e abençoar as obras" (Psychologie<br />

rationelle, 1859, cap. XXV, ed. 1912,<br />

p. 306). Esse politeísmo não é inconciliável com<br />

a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. porque o D. uno seria, então,<br />

a primeira das pessoas super-humanas.<br />

b) Monoteísmo. Como se disse, o monoteísmo<br />

não se caracteriza pela presença <strong>de</strong> uma<br />

hierarquia <strong>de</strong> seres e por um cabeça <strong>de</strong>ssa hierarquia,<br />

mas pelo reconhecimento <strong>de</strong> que só<br />

D. possui a divinda<strong>de</strong> e que D. e divinda<strong>de</strong><br />

coinci<strong>de</strong>m. Nesse sentido, na história da <strong>filosofia</strong>,<br />

o monoteísmo comparece em Fílon <strong>de</strong><br />

Alexandria, que afirma que "D. é solitário, é<br />

um em si mesmo e nada é semelhante a D.";<br />

portanto, "ele está na or<strong>de</strong>m do uno e da<br />

mônada, ou melhor, é a mônada na or<strong>de</strong>m do<br />

D. uno, já que todo número é mais recente que<br />

o mundo, e assim o tempo, mas D. é mais<br />

velho que o mundo e seu Demiurgo" {Ali. leg.,<br />

II, 1- 3). Nas discussões trinitárias da fase patrística<br />

e da Escolástica, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. com a divinda<strong>de</strong><br />

foi o critério dirimente para reconhecer<br />

e combater as interpretações que se inclinavam<br />

para o triteísmo. Por certo, a Trinda<strong>de</strong> é<br />

constantemente apresentada como um mistério<br />

que a razão mal po<strong>de</strong> aflorar. Mas o que<br />

importa ressaltar é que a unida<strong>de</strong> divina só é<br />

consi<strong>de</strong>rada cindida quando, com a distinção<br />

entre D. e a divinda<strong>de</strong>, se admite, implícita ou<br />

explicitamente, que <strong>de</strong>la participam dois ou mais<br />

seres individualmente distintos. A melhor exposição<br />

<strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista po<strong>de</strong> ser vista em<br />

S. Tomás, que assim resume uma longa tradição<br />

(v. também, p. ex., RICARDO DE SÃO VÍTOR,<br />

De Trin., I, 17). "E evi<strong>de</strong>nte", diz S. Tomás, "que<br />

aquilo pelo que algo singular é este singular <strong>de</strong><br />

modo nenhum é comunicável a outras coisas.<br />

P. ex., aquilo pelo que Sócrates é homem po<strong>de</strong><br />

ser comunicado a muitos outros seres, mas aquilo<br />

pelo que ele é este homem po<strong>de</strong> ser comunicado<br />

a este apenas. Se, portanto, Sócrates fosse<br />

homem com fundamento naquilo pelo que é<br />

este homem, assim como não po<strong>de</strong> haver mais<br />

<strong>de</strong> um Sócrates, tampouco po<strong>de</strong>ria haver mais <strong>de</strong><br />

um homem. Mas esse é precisamente o caso <strong>de</strong><br />

D., já pois D. é a própria natureza, <strong>de</strong> tal forma<br />

que ele, sob o mesmo aspecto, é D. e esteD.; é<br />

impossível, portanto, que haja mais <strong>de</strong> um D."<br />

(5. Th., I, q. 11 a 3). Esse é o motivo pelo qual<br />

os teólogos medievais insistem na simplicida<strong>de</strong><br />

da natureza divina, que na realida<strong>de</strong> nada mais<br />

significa do que a incomunicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa natureza<br />

e, portanto, a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ela<br />

seja compartilhada por mais <strong>de</strong> um D. A partir<br />

<strong>de</strong> S. Tomás, a história da <strong>filosofia</strong> pouco acrescentou<br />

a esses conceitos. A <strong>de</strong>cadência da especulação<br />

teológica tornou, aliás, os filósofos<br />

menos sensíveis à precisão <strong>de</strong>sses conceitos,<br />

<strong>de</strong> tal modo que, com muita freqüência, as qualificações<br />

do monoteísmo e politeísmo são empregadas<br />

aleatoriamente, limitando-se o politeísmo<br />

a uma manifestação da mentalida<strong>de</strong><br />

primitiva, conquanto ele seja, como se viu, uma<br />

alternativa filosófica em cujo favor está toda a<br />

tradição clássica e muitas das tentativas mo<strong>de</strong>rnas<br />

<strong>de</strong> inovar o conceito <strong>de</strong> D.

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