22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PESSOA 762 PESSOA<br />

cialida<strong>de</strong> da relação in divinis. "Não há distinção<br />

em Deus, a não ser em virtu<strong>de</strong> das relações<br />

<strong>de</strong> origem. Contudo, em Deus a relação não é<br />

como um aci<strong>de</strong>nte inerente ao sujeito, mas é a<br />

própria essência divina, <strong>de</strong> tai modo que subsiste<br />

do mesmo modo como subsiste a essência<br />

divina. Assim como a divinda<strong>de</strong> é Deus, a paternida<strong>de</strong><br />

divina 6 Deus Pai, que é P. divina:<br />

portanto, a P. divina significa a relação enquanto<br />

subsistente, isto 6, significa a relação na forma<br />

da substância, que é a hipóstase subsistente<br />

na natureza divina, embora aquilo que subsiste<br />

na natureza divina outra coisa não seja senão<br />

a natureza divina" (S. Tb.. I, q. 29, a. 4). Deste<br />

modo, ao lado do caráter substancial ou hipostático<br />

da P., era energicamente ressaltado o seu<br />

significado <strong>de</strong> relação. Isto no que se refere às<br />

P. divinas. No que concerne à P. em geral, S.<br />

Tomás <strong>de</strong> Aquino afirmava que, à diferença do<br />

indivíduo, que por si é indistinto, "a P., numa<br />

natureza qualquer, significa o que é distinto<br />

nessa natureza, assim como na natureza humana<br />

significa a carne, os ossos e a alma que são<br />

os princípios que individualizam o homem"<br />

(Ihid., I, q. 29, a. 4). Portanto, segundo S. Tomás<br />

<strong>de</strong> Aquino, mesmo no sentido comum a P.<br />

é distinção e relação.<br />

2- A partir <strong>de</strong> Descartes, ao mesmo tempo<br />

em que se enlraquece ou diminui o reconhecimento<br />

do caráter substancial da P., acentua-se<br />

a sua natureza <strong>de</strong> relação, especialmente <strong>de</strong><br />

cmlo-relciçào ou relação do homem consigo<br />

mesmo. O conceito <strong>de</strong> P. neste sentido i<strong>de</strong>ntifica-se<br />

com o <strong>de</strong> Eu como consciência, e 6 analisado<br />

sobretudo no que se refere àquilo que se<br />

chama <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal, ou seja. unida<strong>de</strong><br />

e continuida<strong>de</strong> da vida consciente do Eu. Locke<br />

afirma que a P. "é um ser inteligente e<br />

pensante que possui razão e reflexão, po<strong>de</strong>ndo<br />

observar-se (ou seja, consi<strong>de</strong>rar a própria<br />

coisa pensante que ele é) em diversos tempos<br />

e lugares; e isso ele faz somente por meio da<br />

consciência, que ê inseparável do pensar e essencial<br />

a ele" (Ensaio, II, 27. 11). A P. é aqui<br />

i<strong>de</strong>ntificada com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pessoal, com a<br />

relação que o homem tem eonsigo mesmo, e<br />

esta última com a consciência. Leibniz está <strong>de</strong><br />

acordo com Locke nesse aspecto, mas insiste<br />

também na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> física ou real como<br />

outro componente da P., além da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

moral ou da consciência (Noiw. ess., II, 27, 9). A<br />

relação consciente do liomem consigo mesmo<br />

torna-se, a partir <strong>de</strong> então, característica fundamental<br />

da pessoa. Wolff diz: "A P. é o ente que<br />

conserva a memória <strong>de</strong> si mesmo, ou seja, lembra-se<br />

que é o mesmo que foi antes, neste ou<br />

naquele estado" (Psycbol. rationalis, § 741). F.<br />

Kant analogamente afirma: "O fato <strong>de</strong> o homem<br />

po<strong>de</strong>r representar seu próprio eu eleva-o<br />

infinitamente acima <strong>de</strong> todos os seres vivos da<br />

terra. Por isso, ele é uma P., e por causa da<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência persistente através <strong>de</strong><br />

todas as alterações que po<strong>de</strong>m atingi-lo, é uma<br />

só e mesma P." (Antr., § 1). Hegel entendia por<br />

P. o sujeito autoconsciente enquanto "simples<br />

reíerência a si mesmo na própria individualida<strong>de</strong>"<br />

(Fil. cio dir., § 35). Lotze diz: "A essência da<br />

P. não se reporta a uma oposição passada ou<br />

presente do eu ao não eu, mas consiste no<br />

imediato ser por si" {Mikrokosmns, I, 1856, p.<br />

575). E Renouvier diz: "A consciência toma o<br />

nome <strong>de</strong> P. quando é levada ao grau superior<br />

<strong>de</strong> distinção e extensão no qual atinge o conhecimento<br />

<strong>de</strong> si mesma e do universal, bem<br />

como o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> formar conceitos e aplicar as<br />

leis fundamentais cio espírito, que são as categorias"<br />

(Noinvlle monadologie, 1899, p. 110.<br />

Visto que a P. é. neste sentido, simplesmente a<br />

relação do homem consigo mesmo (o que é a<br />

<strong>de</strong>finição da consciência) i<strong>de</strong>ntifica-se com a<br />

consciência, e essa i<strong>de</strong>ntificação é o único<br />

dado conceptual que se po<strong>de</strong> achar na exaltação<br />

retórica da P. que caracteriza algumas formas<br />

contemporâneas <strong>de</strong> personalismo (v.).<br />

3 a Contra a interpretação acima <strong>de</strong> P. estào<br />

obviamente as posições filosóficas que se recusam<br />

a reduzir o ser cio homem â consciência e<br />

fazem polêmica contra a forma mais radical<br />

<strong>de</strong>ssa interpretação, que é o hegelianismo.<br />

Neste sentido, a antropologia da esquerda hegeliana<br />

e do marxismo, apesar <strong>de</strong> não se ter<br />

preocupado, abertamente, em esclarecer o<br />

conceito <strong>de</strong> P., constitui o início <strong>de</strong> uma renovação<br />

<strong>de</strong>sse conceito ou a evi<strong>de</strong>nciaçào <strong>de</strong> um<br />

aspecto sobre o qual a tradição filosófica se calara:<br />

a P. humana é constituída ou condicionada<br />

essencialmente pelas "relações <strong>de</strong> produção<br />

e <strong>de</strong> trabalhem", <strong>de</strong> que o homem participa com<br />

j natureza e com os outros homens para satisfazer<br />

às suas necessida<strong>de</strong>s (cf. MARX, Deutsche<br />

I<strong>de</strong>ologie. I). Por outro lado, a doutrina moral<br />

kantiana já caracterizara o conceito <strong>de</strong> P. em<br />

termos <strong>de</strong> heterorrelaçào, ou seja, relação<br />

com os outros. Quando Kant dizia que "os seres<br />

racionais sào chamados <strong>de</strong> pessoas porque<br />

a natureza <strong>de</strong>les os indica já como fins em si<br />

mesmos, como algo que não po<strong>de</strong> ser empregado<br />

unicamente como meio" (Grundlegung

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!