22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ORDEM 731 ORDEM<br />

linha contínua, ora reta, ora curva, ora <strong>de</strong> outra<br />

natureza, é possível achar uma noção, regra ou<br />

equação comum a todos os pontos <strong>de</strong>ssa linha<br />

em virtu<strong>de</strong> da qual as mudanças da linha sejam<br />

explicadas. P. ex., não há nenhum rosto cujo<br />

contorno não faça parte <strong>de</strong> uma linha geométrica<br />

e não possa ser traçado <strong>de</strong> uma só vez por<br />

meio <strong>de</strong> certo movimento regulado. Mas, quando<br />

uma regra é muito complexa, o que lhe pertence<br />

passa por irregular. Assim, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer que, qualquer que fosse o modo como<br />

Deus tivesse criado o mundo, este teria sido<br />

sempre regular e teria uma O. geral'' (Disc. <strong>de</strong><br />

mét., § 6). Neste sentido, a O. consiste simplesmente<br />

na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar com uma<br />

regra, ou seja, <strong>de</strong> maneira geral e constante,<br />

uma relação qualquer entre dois ou mais objetos<br />

quaisquer. A noção cie O., neste sentido,<br />

não se distingue da noção <strong>de</strong> relação constante.<br />

Mas este é apenas o significado genérico da<br />

noção. \o seu âmbito po<strong>de</strong>mos distinguir três<br />

noções específicas: I a O. serial; 2 a O. total: 3 a<br />

grau ou nível.<br />

I a A O. serial é própria da relação antes e<br />

<strong>de</strong>pois. Aristóteles observou que esta relação<br />

recorre on<strong>de</strong> há princípio, porque neste caso<br />

as coisas po<strong>de</strong>m estar mais ou menos próximas<br />

do princípio. Um antes ou um <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>terminado em relação ao espaço e ao tempo,<br />

ou em relação ao movimento, à potencialida<strong>de</strong>,<br />

ou à disposição. Mesmo no conhecimento<br />

alguma coisa vem antes <strong>de</strong> outra por <strong>de</strong>finição<br />

ou no sentido <strong>de</strong> que a sensação vem antes<br />

do conceito. Em geral, <strong>de</strong> duas coisas vem antes<br />

a que po<strong>de</strong> ficar sem a outra: segundo Aristóteles,<br />

essa é a expressão mais genérica <strong>de</strong>ssa<br />

forma <strong>de</strong> O. (Met., V, 1018 b 9). Aristóteles<br />

parece <strong>de</strong>ste modo privilegiar como O. serial a<br />

O. causai, em que a causa po<strong>de</strong> subsistir sem o<br />

efeito, mas o efeito não po<strong>de</strong> subsistir sem a causa,<br />

e por isso vem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la: interpretação<br />

freqüente na tradição filosófica. Agostinho dizia,<br />

p. ex.: "Ou <strong>de</strong>monstrais que alguma coisa<br />

po<strong>de</strong> acontecer sem causa, ou acreditais, como<br />

eu, que nada acontece sem certa O. <strong>de</strong> causas ",<br />

i<strong>de</strong>ntificando <strong>de</strong>ste modo a noção <strong>de</strong> O. com a<br />

<strong>de</strong> causalida<strong>de</strong> (Deord., I, 4, 11). Para Spinoza,<br />

a O. das coisas coincidia com a sua conexão<br />

causai; consi<strong>de</strong>rava sinônimas as duas expressões:<br />

"A O. <strong>de</strong> toda a natureza" e "o nexo das<br />

causas" (Et., II, 7. Fscol.). Kant não só fazia a<br />

mesma i<strong>de</strong>ntificação como consi<strong>de</strong>rava a O.<br />

causai como condição da O. temporal: "Uma<br />

coisa po<strong>de</strong> ter lugar <strong>de</strong>terminado no tempo só<br />

sob a condição <strong>de</strong> se presumir, no estado prece<strong>de</strong>nte,<br />

uma outra coisa que ela precise seguir<br />

sempre, segundo uma regra; don<strong>de</strong> resulta, em<br />

primeiro lugar, que não posso subverter a série<br />

<strong>de</strong> tal modo que o conseqüente seja anterior ao<br />

prece<strong>de</strong>nte, e em segundo lugar que, posto o<br />

estado prece<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>terminado acontecimento<br />

<strong>de</strong>ve infalível e necessariamente seguir-se"<br />

(Crít. R. Pura, Anal. dos Princ, cap. II, seç. 3,<br />

Analogias da experiência). Analogamente, para<br />

Bergson, a O. natural é "física", "geométrica"<br />

ou "automática", e fora <strong>de</strong>la só há O. "vital" ou<br />

"<strong>de</strong>sejada", isto é, a or<strong>de</strong>m dos fins (F.vol. créatr.,<br />

8' edição, 1911. p. 251-52).<br />

No entanto, esse privilégio conferido á O.<br />

causai nem sempre obscurece o conceito formal<br />

da O. serial. S. Tomás <strong>de</strong> Aquino retomava<br />

a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Aristóteles: "Fala-se sempre <strong>de</strong><br />

O. em relação a alguns princípios. F. assim<br />

como se fala em princípio <strong>de</strong> muitas maneiras,<br />

ou seja, segundo o lugar, como quando se fala<br />

do ponto, segundo o intelecto, como quando<br />

se fala do princípio da <strong>de</strong>monstração, e segundo<br />

as causas singulares, assim também se fala<br />

<strong>de</strong> O." (S. lh., I. q.42, a.3). Nesta passagem, a<br />

O. causai é somente Lima exemplificação da O.<br />

geral. Do mesmo modo. Wolff <strong>de</strong>finia a O. como<br />

" óbvia semelhança, graças á qual as coisas são<br />

postas umas à frente das outras ou uma <strong>de</strong>pois<br />

da outra", em que a óbvia semelhança é a<br />

constância <strong>de</strong> relação (Ont., § 472). O mesmo<br />

Kant expressava claramente o conceito <strong>de</strong> O.<br />

serial ao i<strong>de</strong>ntificar O. com regularida<strong>de</strong>, como<br />

fez a propósito do conceito formal <strong>de</strong> natureza<br />

(Crít. R. Pura, § 26). C. I. Lewis observa que a<br />

O. aritmética, que se impõe aos objetos naturais,<br />

permite que "uma infinita multiplicida<strong>de</strong><br />

seja submetida a uma simplicida<strong>de</strong> finita <strong>de</strong><br />

regras" (Minei and the World-Or<strong>de</strong>r, 1929; edição<br />

1956, p. 363). Os matemáticos e os lógicos,<br />

a partir <strong>de</strong> Cantor, consi<strong>de</strong>ram como O. uma<br />

relação <strong>de</strong>limitada <strong>de</strong> certas regras. P. ex., se<br />

assumimos a relação prece<strong>de</strong>, bastam as regras<br />

seguintes para obter uma O. simples: \" nenhum<br />

termo prece<strong>de</strong>-se a si mesmo; 2 Ü se a<br />

prece<strong>de</strong> b e b prece<strong>de</strong> c, então a prece<strong>de</strong> c 3 Ü<br />

se a e b são dois termos diferentes quaisquer.<br />

a prece<strong>de</strong> bou b prece<strong>de</strong> a. Po<strong>de</strong>-se ter, enfim,<br />

aquilo que Cantor chamou <strong>de</strong> "conjunto bem<br />

or<strong>de</strong>nado" ao admitir uma quarta regra: em<br />

toda classe não vazia <strong>de</strong> termos há um primeiro<br />

termo, que prece<strong>de</strong> todos os outros da mesma<br />

classe (cf. A. CHI:RCH. Intr. toMatbematical<br />

Logic, § 55).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!