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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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IMORTALIDADE 544 IMORTALIDADE<br />

<strong>de</strong>composição, mas nem por extinção. De fato,<br />

não po<strong>de</strong>ndo ela ser diminuída pouco a pouco<br />

e <strong>de</strong>pois reduzida ao nada (já que não tem<br />

partes), não <strong>de</strong>veria haver espaço <strong>de</strong> tempo<br />

entre o instante em que ela é e aquele em<br />

que ela não é mais. Kant notava a propósito<br />

que, mesmo não tendo quantida<strong>de</strong> extensiva,<br />

a alma po<strong>de</strong>ria e <strong>de</strong>veria ter, assim como a<br />

consciência, uma quantida<strong>de</strong> intensiva, ou seja,<br />

um grau (Crít. R. Pura, Confutaçâo do argumento<br />

<strong>de</strong> Men<strong>de</strong>lssohn).<br />

IV. O quarto argumento é <strong>de</strong>duzido da presença<br />

da verda<strong>de</strong> na alma (PLATÃO, Mên., 86a).<br />

S. Agostinho diz: "Se aquilo que está num sujeito<br />

(subiectum) dura para sempre, necessariamente<br />

o sujeito também dura para sempre. Ora, toda<br />

ciência (disciplina) existe na alma como em<br />

seu sujeito; conclui-se necessariamente que a<br />

alma dura para sempre, se a ciência dura para<br />

sempre. Mas a ciência é verda<strong>de</strong> e a verda<strong>de</strong><br />

dura para sempre; portanto, a alma dura para<br />

sempre também e nunca po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

morta" (Solil, II, 13). Esse argumento foi repetido<br />

por S. Tomás (Contra Gent., II, 55): "Sendo<br />

incorruptível o objeto do intelecto, o próprio<br />

intelecto será incorruptível." Foi criticado pelos<br />

alexandristas do Renascimento, particularmente<br />

por Pomponazzi. "Para o intelecto é essencial<br />

enten<strong>de</strong>r, através <strong>de</strong> imagens, como resulta<br />

claro da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alma como ato <strong>de</strong> um<br />

corpo físico-orgânico. Por isso o intelecto, em<br />

cada uma <strong>de</strong> suas funções, necessita <strong>de</strong> um<br />

órgão. Mas aquilo que assim enten<strong>de</strong> é necessariamente,<br />

inseparável do corpo. Portanto o<br />

intelecto humano é mortal" (De imm. animae,<br />

9). Argumento semelhante ao <strong>de</strong> Agostinho<br />

algumas vezes foi repetido por filósofos mo<strong>de</strong>rnos<br />

com referência à presença <strong>de</strong> valores<br />

i<strong>de</strong>ais na alma humana, ou seja, da Verda<strong>de</strong>, da<br />

Beleza e do Bem (p. ex., C. H. HOWISON, The<br />

Limits of Evolutíon, 1901, cap. 6).<br />

V. Argumento análogo a este foi <strong>de</strong>duzido<br />

por S. Anselmo da presença do amor por Deus<br />

na alma. A alma humana, como criatura racional,<br />

"foi criada para amar sem cessar a Substância<br />

Suprema. Mas não po<strong>de</strong>ria fazê-lo se não<br />

vivesse para sempre; portanto, a alma é feita<br />

para viver sempre, conquanto queira fazer<br />

sempre aquilo para que foi feita. Além disso,<br />

não estaria <strong>de</strong> acordo com a suprema bonda<strong>de</strong>,<br />

sabedoria e onipotência do Criador reduzir a<br />

nada uma criatura por ele criada para amá-lo,<br />

até que ela o ame" (Monologion, 69).<br />

VI. O sexto argumento é extraído do <strong>de</strong>sejo<br />

natural <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>. S. Tomás diz: "Qualquer<br />

um que tenha inteligência naturalmente<br />

<strong>de</strong>seja existir para sempre. Mas um <strong>de</strong>sejo natural<br />

não po<strong>de</strong> ser vão. Portanto, toda substância<br />

intelectual é incorruptível" (S. Th., I. q. 75,<br />

a. 6). Conquanto S. Tomás aduza esse argumento<br />

como simples signum da I., ele foi repetido<br />

com freqüência.<br />

VII. O sétimo argumento apresenta a I.<br />

como exigência da vida moral do homem.<br />

Esse argumento não teve muita aceitação na<br />

Antigüida<strong>de</strong>: valeu mais como motivo, freqüentemente<br />

inconfesso, para que os filósofos<br />

procurassem provas <strong>de</strong>monstrativas da<br />

imortalida<strong>de</strong>. Duns Scot negava que fossem<br />

conclusivas as razões extraídas da aspiração da<br />

alma à bem-aventurança eterna e à justiça capaz<br />

<strong>de</strong> retribuir o bem e o mal. A razão natural<br />

<strong>de</strong>veria pelo menos dar-nos a conhecer que a<br />

bem-aventurança eterna é o fim a<strong>de</strong>quado à<br />

nossa natureza, o que não acontece; quanto<br />

à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prêmio ou <strong>de</strong> castigo, po<strong>de</strong>se<br />

dizer que cada um encontra retribuição suficiente<br />

em sua própria ação boa e que o primeiro<br />

castigo do pecado é o próprio pecado (Op.<br />

Ox, IV, d. 43, q. 2, n 2 27, 32). Portanto, para<br />

Duns Scot, a I. da alma era pura verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé,<br />

não susceptível <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>monstrativo.<br />

Pomponazzi retomou esse ponto <strong>de</strong> vista em<br />

sua crítica ao argumento moral (De imm.<br />

animae, 14). Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna, contudo,<br />

esse foi o argumento que obteve maior receptivida<strong>de</strong>,<br />

o que se explica com facilida<strong>de</strong>, visto<br />

que, com o <strong>de</strong>clínio da metafísica antiga, as<br />

provas <strong>de</strong>duzidas da causalida<strong>de</strong> e da substancialida<strong>de</strong><br />

da alma per<strong>de</strong>ram valor. Na "Profissão<br />

<strong>de</strong> fé do Vigário saboiano" (Emílio, IV),<br />

Rousseau chegava a afirmar a imaterialida<strong>de</strong>,<br />

portanto a I. da alma, exatamente com base na<br />

exigência <strong>de</strong> uma justiça que nem sempre se<br />

vê realizada no mundo: "Mesmo que não houvesse<br />

outra prova da imaterialida<strong>de</strong> da alma,<br />

além do triunfo do mau e da opressão do justo<br />

neste mundo, só isso bastaria para que eu não<br />

duvidasse <strong>de</strong>la. Contradição tão manifesta, dissonância<br />

tão estri<strong>de</strong>nte na harmonia do universo,<br />

levar-me-ia a refletir que nem tudo termina<br />

para nós na vida, mas que, com a morte, tudo<br />

retorna à or<strong>de</strong>m". Nesse aspecto, Rousseau<br />

constituía a voz eloqüente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte do<br />

iluminismo e do <strong>de</strong>ísmo do séc. XVIII, ainda<br />

que outra parte <strong>de</strong>sse iluminismo pensasse,

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