22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

HOMEM 514 HOMEM<br />

para introduzir variações que se coadunem<br />

com o sentido específico que dêem à palavra<br />

razão. P. ex., a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Rosmini, "o H. é<br />

um sujeito animal dotado da intuição do ser<br />

i<strong>de</strong>al in<strong>de</strong>terminado" (Antropologia, § 23), expressa<br />

a mesma coisa que a <strong>de</strong>finição tradicional,<br />

porque, para Rosmini, a "percepção do ser<br />

i<strong>de</strong>al in<strong>de</strong>terminado" é a razão (Nuovo saggio,<br />

§ 396). A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> De Bonald, famosa por<br />

algum tempo, "o H. é uma inteligência servida<br />

por órgãos" (ÇEuvres, 1864,1, p. 41; III, p. 149),<br />

também nada mais é que uma paráfrase da<br />

<strong>de</strong>finição tradicional, porquanto nela o "serviço<br />

dos órgãos" é equivalente a "animalida<strong>de</strong>".<br />

É ainda mais famosa a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Pascal, "o<br />

H. nada mais é que um junco, o mais frágil da<br />

natureza, mas é um junco pensante" (Pensées,<br />

347), que também po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada variante<br />

da <strong>de</strong>finição traciicional, em que a conotação<br />

da fragilida<strong>de</strong> natural do H. tomou o<br />

lugar da "animalida<strong>de</strong>". Por outro lado, Descartes<br />

dispensara a animalida<strong>de</strong> e reduzira o H. a<br />

pensamento, como consciência imediata: "Para<br />

falar com precisão, sou apenas uma coisa que<br />

pensa, um espírito, um intelecto ou uma razão"<br />

(Méd., II), Mas, na <strong>de</strong>finição tradicional, a animalida<strong>de</strong><br />

servia, por um lado, para explicar a<br />

óbvia limitação da ativida<strong>de</strong> pensante do H. e,<br />

por outro, para reconhecer no H. um ser terrestre<br />

ou mundano, que necessita <strong>de</strong> órgãos.<br />

Em sentido cartesiano, Hus.serl disse: "Se o H. é<br />

um ser racional (animal rationale), só o é na<br />

medida em que toda a sua humanida<strong>de</strong> é uma<br />

humanida<strong>de</strong> racional, na medida em que é latentementê<br />

orientado para a razão ou abertamente<br />

orientado para a enteléquia que se<br />

revelou e guia, conscientemente e por necessida<strong>de</strong><br />

essencial, o <strong>de</strong>vir humano" (Krisís, 1954,<br />

§ 6). A última e mais atualizada versão da antiga<br />

<strong>de</strong>finição diz que o H. é um animal simbólico,<br />

ou seja, um animal que fala (CASSIRER, Essayon<br />

Man, cap. II). Esta característica, na verda<strong>de</strong>, estava<br />

presente no mesmo termo grego que significa<br />

razão: logos, que é o discurso racional ou<br />

a razão que se faz discurso. Na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

essa <strong>de</strong>finição serve para expressar<br />

o po<strong>de</strong>r condicionante da linguagem, do<br />

comportamento sígnico em todas as ativida<strong>de</strong>s<br />

do homem. Esse po<strong>de</strong>r dificilmente po<strong>de</strong>ria ser<br />

exagerado, e a <strong>de</strong>finição em pauta está, com<br />

justiça, entre as mais difundidas e aceitas na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea. Contudo, não po<strong>de</strong> ser<br />

compreendida sem levar em conta a caracterís-<br />

tica da autoprojetabilida<strong>de</strong>, que o terceiro grupo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>finições atribui ao homem.<br />

Uma segunda e mais específica <strong>de</strong>terminação,<br />

que tem servido freqüentemente para <strong>de</strong>finir<br />

o H., é sua natureza política, sociável.; Já<br />

mencionada por Platão (Def, 415a), esta <strong>de</strong>terminação<br />

é estreitamente ligada por Aristóteles<br />

à natureza racional do homem. "Quem não<br />

po<strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> ou quem<br />

não precisa <strong>de</strong> nada, bastando-se a si mesmo,<br />

não é parte <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, mas é fera ou<br />

Deus" (Poi, I, 2, 1253 a 27). Obviamente, para<br />

Aristóteles, é estreita a conexão entre racionalida<strong>de</strong><br />

e política, po<strong>de</strong>ndo-se dizer o mesmo<br />

<strong>de</strong> todos aqueles que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, adotarem a<br />

mesma <strong>de</strong>finição. Hobbes, que combatia essa<br />

<strong>de</strong>finição, interpretava-a como se significasse:<br />

"O H. está apto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, a viver<br />

em socieda<strong>de</strong>"; afirmava que, nesse sentido,<br />

ela é falsa, porque o H. só se torna apto para a<br />

vida social graças à educação (De eive, I, 2, e<br />

nota). Mas o significado mais óbvio <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição<br />

é que o H. não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> viver em<br />

socieda<strong>de</strong>; nesse sentido, nem mesmo Hobbes<br />

duvida <strong>de</strong> sua fundamental exatidão. No entanto,<br />

essa <strong>de</strong>finição não fói proposta para <strong>de</strong>terminar<br />

a natureza do H. em sua totalida<strong>de</strong>.<br />

Quem tem a pretensão <strong>de</strong> expressar a totalida<strong>de</strong><br />

do H. é Bergson: "Se pudéssemos <strong>de</strong>spirnos<br />

do nosso orgulho, se, para <strong>de</strong>finir nossa<br />

espécie, nos ativéssemos estritamente àquilo<br />

que a história e a pré-história nos apresentam<br />

como característica constante do H. e da inteligência,<br />

talvez não disséssemos Homo sapiens,<br />

mas Homofaber. Em conclusão, a inteligência,<br />

consi<strong>de</strong>rada naquilo que parece ser a sua tarefa<br />

original, é a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fabricar objetos artificiais,<br />

particularmente utensílios para fazer<br />

utensílios, e <strong>de</strong> variar in<strong>de</strong>finidamente a fabricação<br />

<strong>de</strong>les" (Évol. créatr, 8 a ed., 1911, p. 151).<br />

Na realida<strong>de</strong>, porém, o próprio Bergson admite<br />

que em torno da inteligência há um "halo <strong>de</strong><br />

instinto", consi<strong>de</strong>rando possível o retorno da<br />

inteligência ao instinto, por meio da intuição:<br />

isso <strong>de</strong>veria significar que o H. não é apenas<br />

Homo faber.<br />

3 S O terceiro grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições compreen<strong>de</strong><br />

as que interpretam o homem como possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> autoprojeçàp.t Quase todas as <strong>de</strong>finições<br />

do segundo grupo, mesmo partindo <strong>de</strong><br />

uma única <strong>de</strong>terminação do H., consi<strong>de</strong>rada<br />

própria e fundamental, interpretam-na, explícita<br />

ou implicitamente, como possibilida<strong>de</strong>,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!