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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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HOMEM 513 HOMEM<br />

l s As <strong>de</strong>finições do primeiro grupo são <strong>de</strong><br />

natureza religiosa e teológica, mas também po<strong>de</strong>m<br />

ser encontradas em doutrinas que nada<br />

têm <strong>de</strong> religioso e teológico. Qualquer <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong>sse gênero baseia-se na expressão do<br />

Gênese. "E Deus disse: façamos o H. à nossa<br />

imagem e semelhança" (Gên., I, 26). Esta expressão<br />

servia freqüentemente <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong><br />

partida para especulações sobre a alma, especialmente<br />

sobre suas divisões (v. ALMA): na realida<strong>de</strong>,<br />

ela é a <strong>de</strong>finição explícita do H. e, como<br />

tal, foi consi<strong>de</strong>rada pelos teólogos da Reforma.<br />

Por outro lado, Aristóteles, ao tratar da vida<br />

contemplativa, falou <strong>de</strong> um "elemento divino"<br />

do H., que, na mesma medida em que exce<strong>de</strong><br />

no todo que constitui o H., torna o H. virtuoso<br />

e bem-aventurado (Et. nic, X, 6, 1177b 26).<br />

Mas esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição do H. na tradição<br />

filosófica teve como inspiração constante a Bíblia.<br />

Viram o H. como imagem <strong>de</strong> Deus: CAL-<br />

VINO (Institutie, I, 15, 8) e ZWÍNGUO (Deutsche<br />

Schrifter, I, 56). Através das ricas amplificações<br />

<strong>de</strong> JACOB BOEHME (cf., p. ex., Aurora o<strong>de</strong>r die<br />

Morgenrôthe im Aufgang, VI, I), esse conceito<br />

passou para a <strong>filosofia</strong> romântica alemã. Spinoza<br />

dizia que "a essência do H. é constituída por<br />

certas modificações dos atributos <strong>de</strong> Deus" (Et.,<br />

II, 10. Corol.). Nas lições sobre a Destinação do<br />

douto, em 1794, Fichte apontava como tarefa<br />

do H. a<strong>de</strong>quar-se à unida<strong>de</strong> e à imutabilida<strong>de</strong><br />

do Eu absoluto, segundo a máxima "age <strong>de</strong><br />

tal forma que possas consi<strong>de</strong>rar a máxima da<br />

tua vonta<strong>de</strong> uma lei eterna para ti" (Über die<br />

Bestimmung <strong>de</strong>s Gelebrten, 1794, I). Mas o Eu<br />

absolu.to é o princípio ou a substância do H., e<br />

sua unida<strong>de</strong> e sua imutabilida<strong>de</strong> são apenas a<br />

unida<strong>de</strong> e a imutabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong> tal forma<br />

que a melhor maneira <strong>de</strong> expressar a doutrina<br />

<strong>de</strong> Fichte a esse respeito é que o H., em<br />

seu princípio i<strong>de</strong>al, é Deus e <strong>de</strong>ve esforçar-se<br />

por tornar-se tal. Analogamente, para Hegel o<br />

H. é essencialmente Espírito e o Espírito é<br />

Deus. Diz: "Conquanto consi<strong>de</strong>rado finito por<br />

si mesmo, o H. é também imagem <strong>de</strong> Deus e<br />

fonte da infinida<strong>de</strong> em si mesmo, pois é o fim<br />

<strong>de</strong> si mesmo e tem em si mesmo o valor infinito<br />

e a <strong>de</strong>stinação para a eternida<strong>de</strong>" (Philosophie<br />

<strong>de</strong>r Geschichte, ed. Gloekner, p. 427). Hegel<br />

<strong>de</strong>fine cristianismo como a posição <strong>de</strong> "unida<strong>de</strong><br />

do H. e <strong>de</strong> Deus" (Ibid., p. 416). Nessas<br />

<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> H., a relação do H. com Deus é<br />

vista <strong>de</strong> forma positiva.<br />

Mas essa relação po<strong>de</strong> ser vista <strong>de</strong> modo negativo<br />

ou invertido, permanecendo substancial-<br />

mente a mesma. Feuerbach, p. ex., diz que o<br />

H. se revela e se <strong>de</strong>fine no seu conceito <strong>de</strong><br />

Deus. "O ser absoluto, o Deus do H., é o ser<br />

do H.", diz ele (Wesen <strong>de</strong>s Christentum, § í).<br />

Aquilo que o H. pensa <strong>de</strong> Deus é a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> H.: "Pensas o infinito? Então pensas e afirmas<br />

a infinida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r do pensamento. Sentes<br />

o infinito? Sentes e afirmas a infinida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r<br />

do sentimento" (Ibid). As teses <strong>de</strong> existência<br />

ou inexistência <strong>de</strong> Deus não influem nessas <strong>de</strong>finições<br />

<strong>de</strong> H., que se ancoram ao confronto<br />

entre o H. e Deus. Assim, em Nietzsche, após<br />

a proclamaçâo <strong>de</strong> que "Deus morreu", Zaratustra<br />

anuncia o Super H., como aquilo que está além<br />

do H. "A gran<strong>de</strong>za do H. está no fato <strong>de</strong> que<br />

ele é ponte e não fim: o que po<strong>de</strong> fazê-lo amar<br />

é o fato <strong>de</strong> ser ele uma passagem e um ocaso"<br />

(Also sprach Zarathustra, Prol., § 4). Em sentido<br />

análogo ao <strong>de</strong> Feuerbach e Nietzsche, mas<br />

acrescido do conceito <strong>de</strong> fracasso ao qual o H.<br />

está <strong>de</strong>stinado, Sartre disse: "Se o H. possui<br />

uma compreensão pré-ontológica do ser <strong>de</strong><br />

Deus, ela não lhe foi conferida pelos gran<strong>de</strong>s<br />

espetáculos da natureza nem pelo po<strong>de</strong>rio da<br />

socieda<strong>de</strong>: mas Deus, valor e objetivo supremo<br />

da transcendência, representa o limite permanente<br />

a partir do qual o H. se anuncia aquilo<br />

que ele é. Ser H. é ten<strong>de</strong>r para Deus; ou, se<br />

assim preferirem, o H. é fundamentalmente<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser Deus" (Vêtre et le néant, pp.<br />

653-54).<br />

.. 2- jAs <strong>de</strong>finições que exprimem uma característica<br />

ou uma capacida<strong>de</strong> atribuída ao H. são<br />

numerosas; a primeira e mais famosa é a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> H. como "animal racional". Essa<br />

<strong>de</strong>finição expressa bem o ponto <strong>de</strong> vista do<br />

Iluminismo grego e o espírito das <strong>filosofia</strong>s <strong>de</strong><br />

Platão e Aristóteles. Mas não se encontra explicitamente<br />

ern Platão, que teria dito somente<br />

que o H. é animal "capaz <strong>de</strong> ciência" (Def,<br />

415a), <strong>de</strong>terminação que Aristóteles repete,<br />

consi<strong>de</strong>rando-a como peculiarida<strong>de</strong> do H.<br />

(Top., V, 4, 133 a 20). Mas em Política Aristóteles<br />

afirma que "o H. é o único animal que possui<br />

razão", e que a razão serve para indicar-lhe<br />

o útil e o pernicioso, portanto também o justo e<br />

o injusto (Poi, I, 2, 1253a 9; cf. VII, 13, 1382b,<br />

5). Aceita pelos estóicos (SEXTO EMPÍRICO, Pirr.<br />

hyp., II, 26; J. STOBEO, Ecl, II, 132), essa <strong>de</strong>finição<br />

tornou-se clássica e a ela recorrem habitualmente<br />

os escritores medievais (cf., p. ex., S.<br />

TOMÁS, S. Th., II, 1, q. 71, a. 2; II, 2, q. 34, a. 5).<br />

É essa a única <strong>de</strong>finição que penetrou na cultura<br />

comum, e os filósofos também se referem a ela

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