22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

FATO 430 FATO<br />

do e memória, sendo conhecimento absoluto,<br />

como quando vemos um F. acontecer ou o<br />

lembramos; esse é o conhecimento exigido <strong>de</strong><br />

uma testemunha. A outra tem o nome <strong>de</strong> ciência<br />

e é condicional..." (Leviath., I, 9)- Assim<br />

como Hobbes, Leibniz e Hume concordam em<br />

consi<strong>de</strong>rar que essa esfera é a experiência.<br />

Segundo Leibniz, as verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> F. são contingentes,<br />

ao passo que as <strong>de</strong> razão são necessárias<br />

porque baseadas no princípio <strong>de</strong> contradição,<br />

<strong>de</strong> tal modo que seu contrário é<br />

impossível (Nouv. ess., IV, 2, 1). Para Hume, é<br />

sempre possível o contrário das verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> F.,<br />

pois nunca implica contradição, sendo concebido<br />

pelo espírito com a mesma facilida<strong>de</strong> e<br />

clareza que há na conformida<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong><br />

(Inq. Cone. Un<strong>de</strong>rst., IV, 1). Tanto Leibniz<br />

quanto Hume concordam em julgar que o fundamento<br />

da verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> F. é o princípio da causalida<strong>de</strong>.<br />

Dessa análise resulta portanto que o<br />

fato é: d) uma realida<strong>de</strong> contingente, atingida<br />

ou testemunhada pela experiência; b) uma realida<strong>de</strong><br />

fundada em certa conexão causai. Uma<br />

noção <strong>de</strong> fato assim configurada é a que hoje<br />

se chamaria <strong>de</strong> noção <strong>de</strong> acontecimento, ou<br />

seja, <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> contingente que pertence à<br />

or<strong>de</strong>m da natureza. Essa última qualificação é<br />

a que se expressa quando se julga que a verda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> F. baseia-se no princípio causai. Portanto,<br />

essa ainda não é uma noção <strong>de</strong> F. suficientemente<br />

ampla, que possa valer em toda a extensão<br />

da pesquisa científica: para ela, as verda<strong>de</strong>s matemáticas<br />

não seriam verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fato. A extensão<br />

<strong>de</strong>ssa noção foi realizada por Kant, para<br />

quem "os fatos são os objetos dos conceitos<br />

cuja realida<strong>de</strong> objetiva po<strong>de</strong> ser provada tanto<br />

pela razão quanto pela experiência: no primeiro<br />

caso, com base em dados teóricos ou práticos;<br />

em qualquer caso, por meio <strong>de</strong> uma intuição<br />

correspon<strong>de</strong>nte" (Crtt. do Juízo, § 91).<br />

Nesse sentido, segundo Kant, são fatos: as proprieda<strong>de</strong>s<br />

geométricas das gran<strong>de</strong>zas, porquanto<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstradas a priori; as coisas<br />

ou as qualida<strong>de</strong>s das coisas que possam ser<br />

provadas pela experiência ou por testemunhas;<br />

a idéia da liberda<strong>de</strong>, cuja realida<strong>de</strong>, como uma<br />

espécie particular <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser<br />

mostrada a partir da experiência moral {Ibid.,<br />

§ 91). Essa análise <strong>de</strong> Kant é importante porque:<br />

d) permite distinguir nitidamente a noção <strong>de</strong> F.<br />

da noção <strong>de</strong> acontecimento como noção mais<br />

geral, correlativa à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

qualquer instrumento <strong>de</strong> verificação; <strong>de</strong>sse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, o acontecimento é uma espécie<br />

particular <strong>de</strong> F., mais precisamente um F. natural;<br />

ti) permite reconhecer o caráter empírico<br />

do F. como algo diferente do seu confinamento<br />

à esfera da sensibilida<strong>de</strong>: a própria razão <strong>de</strong>ve<br />

tratar com fatos que não são externos a ela<br />

nem impostos do exterior, mas que encontra<br />

em si mesma, como condições do seu funcionamento.<br />

A partir daí, a noção <strong>de</strong> F. às vezes se aproxima<br />

da noção <strong>de</strong> fenômeno e outras vezes <strong>de</strong><br />

um elemento ou condição da razão. Aproximase<br />

do fenômeno quando se fala <strong>de</strong> "F. puro",<br />

"cru" ou <strong>de</strong> "simples F.", pois nesse caso alu<strong>de</strong>se<br />

ao dado imediato, à aparência simples ou<br />

grosseira, da forma como ela se apresenta à<br />

primeira vista. Mas está claro que não se po<strong>de</strong><br />

ir muito longe nessa i<strong>de</strong>ntificação. F. não é<br />

fenômeno: p. ex., o <strong>de</strong>svio da imagem <strong>de</strong> um<br />

bastão na água é um fenômeno, mas não um<br />

fato. Também é fenômeno o movimento aparente<br />

dos céus, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio a astronomia<br />

procurou, <strong>de</strong> vários modos, reduzir a<br />

"F". O F. implica uma disposição ou uma interpretação<br />

do fenômeno que provoque uma mudança<br />

capaz <strong>de</strong> tornar o fenômeno <strong>de</strong>scritível,<br />

previsível e verificável. O próprio Comte, que<br />

na maioria das vezes emprega as duas palavras<br />

indiferentemente, parece aludir a uma distinção,<br />

como no seguinte trecho: "Esse F. geral (a<br />

gravitação) nos é apresentado como simples<br />

extensão <strong>de</strong> um fenômeno eminentemente familiar,<br />

que portanto consi<strong>de</strong>ramos perfeitamente<br />

conhecido, o peso dos corpos na superfície<br />

da terra" (Phil. Pos., I, § 4). Mas no próprio âmbito<br />

do positivismo Clau<strong>de</strong> Bernard acentuou a<br />

subordinação dos fatos à razão: "Sem dúvida,<br />

admito que os fatos são as únicas realida<strong>de</strong>s<br />

que po<strong>de</strong>m dar a fórmula à idéia experimental<br />

e, ao mesmo tempo, servir para aferi-la, mas<br />

isso sob a condição <strong>de</strong> que a razão os aceite...<br />

No método experimental, como em tudo, o<br />

único critério real é a razão. Um F. não é nada<br />

por si mesmo, mas vale apenas pela idéia a ele<br />

ligada ou pela prova que fornece" (Intr. à<br />

1'étu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ia mé<strong>de</strong>cine experimental, I, 2, 7).<br />

Essa interpretação do fato pareceu confirmada<br />

quando se notou o papel prepon<strong>de</strong>rante <strong>de</strong>sempenhado<br />

pela teoria na construção do "F.<br />

científico" (P. DUHEM, La théoriephysique: son<br />

objet e sa strueture, 1906).<br />

A estreita conexão entre F. e ativida<strong>de</strong> racional,<br />

expressa <strong>de</strong> vários modos, em geral é reconhecida<br />

pela <strong>filosofia</strong> contemporânea. A fenomenologia<br />

elaborou a noção <strong>de</strong> estado <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!