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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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1<br />

DEUS 253 DEUS<br />

é homogêneo, absoluto e indivisível {Contra<br />

Cels., I, 23), sendo também superior à própria<br />

substância já que não participa <strong>de</strong>la: participase<br />

<strong>de</strong> D., mas D. não participa <strong>de</strong> nada (De<br />

Princ, VI, 64). Além disso, a unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D.,<br />

na qual os filósofos cristãos insistem tanto para<br />

opor-se ao politeísmo pagão quanto para eliminar<br />

da noção <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong> qualquer resíduo<br />

<strong>de</strong> multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong>s, leva-os a acentuar<br />

a separação entre D. e o mundo, pois se D.,<br />

<strong>de</strong> algum modo, participasse do mundo, participaria<br />

também da multiplicida<strong>de</strong> e da diversida<strong>de</strong><br />

que o constituem (GREGÓRIO DE NISSA, Or.<br />

catech., 1). Pelo mesmo motivo, é acentuada a<br />

eternida<strong>de</strong>, ou seja, a imutabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. em<br />

face da mutabilida<strong>de</strong> e da temporalida<strong>de</strong> do<br />

mundo. Para S. Agostinho, D., enquanto Ser,<br />

é o fundamento <strong>de</strong> tudo o que é, o criador<br />

<strong>de</strong> tudo.<br />

Com efeito, a mutabilida<strong>de</strong> do mundo que<br />

está ao nosso redor <strong>de</strong>monstra que ele não é o<br />

ser e que, portanto, precisou ser criado por um<br />

Ser eterno (Conf., XI, 4). Antes da criação não<br />

havia tempo e não havia nem mesmo um<br />

"antes": não tem sentido, pois, perguntar o que<br />

D. fazia "então". A eternida<strong>de</strong> está acima <strong>de</strong><br />

todo tempo e em D. o passado e o futuro nada<br />

são. O tempo foi criado juntamente com o<br />

mundo (Ibid, XI, 13). No séc. XI Anselmo resumia<br />

em Monologíon os resultados <strong>de</strong> um trabalho<br />

já secular, esclarecendo os caracteres da<br />

criação a partir do nada como "um salto do<br />

nada para alguma coisa" (Mon., 8) e insistindo<br />

na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> admitir que a matéria ou<br />

outra realida<strong>de</strong> qualquer preexistisse à obra <strong>de</strong><br />

criação divina. As coisas são tão-somente por<br />

participação no ser; isso significa que sua existência<br />

provém unicamente <strong>de</strong> D. (Ibid., 7).<br />

Anselmo admitia que na mente divina estivesse<br />

o mo<strong>de</strong>lo ou a idéia das coisas produzidas, mas<br />

este também, apesar <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>r à criação do<br />

mundo, foi criado por D. (Ibid., 11). Contrariando,<br />

porém, um dos caracteres <strong>de</strong> D. criador (a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar), a doutrina <strong>de</strong> Abelardo dizia<br />

que a criação é um ato necessário <strong>de</strong> D., ou<br />

seja, um ato que não po<strong>de</strong> não ocorrer, visto<br />

que D. não po<strong>de</strong> não querer o bem e que a<br />

criação é um bem (Theol. christ., V, P. L., 178,<br />

col. 1325).<br />

A característica fundamental da doutrina da<br />

causa criadora é que D. é o ser do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

todos os outros seres. Mas foi só através do<br />

neoplatonismo árabe que se <strong>de</strong>senvolveu o<br />

corolário implícito nessa concepção, chegando-<br />

se à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> um atributo que <strong>de</strong>pois<br />

passaria a ser o primeiro e fundamental atributo<br />

<strong>de</strong>ssa doutrina: o da necessida<strong>de</strong> do ser divino.<br />

De fato, se as coisas do mundo extraem seu ser<br />

<strong>de</strong> D., este só po<strong>de</strong> extraí-lo <strong>de</strong> si mesmo, ou<br />

seja, D. é o ser por natureza ou por essência, ao<br />

passo que as coisas têm o ser por participação<br />

ou por <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong> D. Desse modo, <strong>de</strong>termina-se<br />

uma cisão no ser: <strong>de</strong> um lado o ser <strong>de</strong> D.,<br />

do outro o das criaturas; <strong>de</strong> um lado o ser por si,<br />

do outro o ser por participação; <strong>de</strong> um lado o<br />

ser necessário, do outro o ser possível. Essa<br />

distinção foi introduzida por Al Farabi (séc. IX),<br />

e graças a Avicena (séc. XI) prevaleceu na Escolástica<br />

árabe e cristã, tornando-se um <strong>de</strong> seus<br />

princípios fundamentais. Avicena interpreta a<br />

relação entre necessida<strong>de</strong> e possibilida<strong>de</strong> nos<br />

termos da relação aristotélica entre forma e matéria.<br />

A forma, como existência em ato, é necessida<strong>de</strong>;<br />

a matéria é possibilida<strong>de</strong>. O que não<br />

é necessário por si mesmo é necessariamente<br />

composto <strong>de</strong> potência e ato, portanto não é<br />

simples. Tal é o ser das criaturas. Mas o ser que<br />

é necessário por si é absolutamente simples,<br />

<strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> matéria: é D.<br />

(Met, II, 1, 3). A distinção entre ser necessário e<br />

ser possível e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> D. como ser necessário<br />

foram introduzidas na Escolástica cristã<br />

por Guilherme <strong>de</strong> Alvérnia (De Trinitate, 7) e<br />

tornaram-se fundamento da teologia <strong>de</strong> Alberto<br />

Magno e <strong>de</strong> Tomás <strong>de</strong> Aquino. Este último exprime<br />

a necessida<strong>de</strong> do ser divino como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

entre essência e existência em D.: D. é o<br />

ser cuja essência implica existência. De fato,<br />

tudo aquilo que se acha em alguma coisa por<br />

participação <strong>de</strong>ve ser necessariamente causado<br />

por aquilo em que se acha por essência; por<br />

isso, o ser <strong>de</strong> todas as coisas é criado ou produzido<br />

por aquilo que possui o ser por essência<br />

própria, isto é, por ser necessário (S. Th., I, q. 2,<br />

a. 3; q. 44, a. 1). A necessida<strong>de</strong> é, em outros termos<br />

a <strong>de</strong>finição da própria natureza <strong>de</strong> D. Pois<br />

embora a proposição "D. existe", que expressa<br />

essa <strong>de</strong>finição, não seja <strong>de</strong> per si conhecida no<br />

que se refere a nós (que po<strong>de</strong>mos não enten<strong>de</strong>r<br />

o significado do nome D. e interpretá-lo, p. ex.,<br />

como corpo), é todavia conhecida por si,<br />

secundum se, ou seja, em si mesma necessária<br />

(Ibid., I, q. 2, a. 1).<br />

A característica <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, à qual o<br />

pensamento filosófico chegou relativamente<br />

tar<strong>de</strong>, torna-se fundamental para todas as doutrinas<br />

<strong>de</strong> D. que surgem <strong>de</strong>pois. Nicolau <strong>de</strong><br />

Cusa <strong>de</strong>fine D. como "necessida<strong>de</strong> absoluta"

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