22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FATO 431 FE<br />

coisas (Sachverhalf) como objeto correspon<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> cada juízo válido e consi<strong>de</strong>rou como<br />

fato o estado <strong>de</strong> coisas em que está envolvida<br />

uma existência individual. Nesse sentido, uma<br />

coisa não é um F., mas é F. que essa coisa existe<br />

e que tem este ou aquele caráter, etc. (HUSSERL,<br />

I<strong>de</strong>en, I, § 6). A noção <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> coisas foi retomada<br />

por Wittgenstein em Tractatus logicopbilosophicus,<br />

mas com uma concepção diferente<br />

sobre a relação <strong>de</strong>ste com o fato, porque<br />

viu no "estado <strong>de</strong> coisas" o elemento simples<br />

que entra na composição do fato. O estado <strong>de</strong><br />

coisas seria, portanto, o "F. atômico", o componente<br />

elementar dos fatos ( Tractatus, 2). O que há<br />

<strong>de</strong> característico nessas concepções é a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> fato (ou dos seus componentes) como<br />

objeto do juízo ou da proposição válida. Segundo<br />

Wittgenstein, o estado <strong>de</strong> coisas ou F. atômico<br />

não é senão o objeto <strong>de</strong> uma proposição elementar<br />

(Ibid., 4, 21). Enten<strong>de</strong>-se então por que,<br />

na linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa concepção,<br />

os fatos chegaram a ser i<strong>de</strong>ntificados com proposições.<br />

A i<strong>de</strong>ntificação foi proposta por<br />

Ducasse (em "Journal of Philosophy", 1940, pp.<br />

701-11) e aceita por Carnap, no sentido <strong>de</strong> que<br />

F. seria uma proposição: l 9 verda<strong>de</strong>ira, 2 S dotada<br />

<strong>de</strong> certo grau <strong>de</strong> completitu<strong>de</strong>, ou seja, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação<br />

(Meaning and Necessity, § 6, 1). É<br />

preciso notar que, para Carnap, o termo proposição<br />

não significa expressão lingüística nem<br />

acontecimento mental ou subjetivo, mas algo <strong>de</strong><br />

objetivo que po<strong>de</strong> ou não encontrar exemplo<br />

na natureza, sendo portanto comparável a "proprieda<strong>de</strong>"<br />

(Ibid., § 6). Portanto, a "proposição<br />

verda<strong>de</strong>ira", que Carnap i<strong>de</strong>ntifica com o F., significa<br />

simplesmente "objeto válido" ou um "estado<br />

<strong>de</strong> F." real. O esclarecimento que <strong>de</strong>riva<br />

<strong>de</strong>ssas reduções lingüísticas é puramente verbal<br />

e, se chega a ter alguma utilida<strong>de</strong> num tratamento<br />

lógico, pouco ou nada diz sobre a natureza<br />

ou os caracteres do fato. Denuncia, no máximo,<br />

a tendência a reportar o F. a condições conceituais<br />

ou lingüísticas. Por outro lado, com Dewey,<br />

o pragmatismo insistiu no caráter "operacional"<br />

do F., no sentido <strong>de</strong> que os F. "são apenas<br />

resultados <strong>de</strong> operações e <strong>de</strong> observações<br />

efetuadas com a ajuda dos órgãos sensoriais e<br />

<strong>de</strong> instrumentos auxiliares produzidos pela técnica,<br />

sendo portanto escolhidos e organizados<br />

no intuito expresso <strong>de</strong> utilizá-los como dados para<br />

uma pesquisa or<strong>de</strong>nada" (Logic, VI, 5, § 4).<br />

Portanto, a análise que hoje se faz <strong>de</strong>ssa noção<br />

ignora a antítese entre fato e razão. A eliminação<br />

<strong>de</strong>ssa antítese sem dúvida também se faz<br />

sentir na elaboração do conceito <strong>de</strong> razão (v.).<br />

No que tange à noção <strong>de</strong> F. em relação à noção<br />

<strong>de</strong> razão, o F. configura-se como condição limitativa<br />

das escolhas racionais. Por exemplo,<br />

em física F. é todo objeto passível <strong>de</strong> observação,<br />

ou seja, todo estado ou situação que po<strong>de</strong><br />

ser verificada e examinada com os instrumentos<br />

<strong>de</strong> que a física dispõe. Mas os fatos físicos,<br />

nesse sentido, são os limites ou as condições<br />

da ativida<strong>de</strong> racional no campo da física, ou<br />

seja, <strong>de</strong> qualquer construção teórica ou hipótese.<br />

Do mesmo modo, no campo da lógica, as<br />

implicações analíticas ou tautológicas valem<br />

como fatos, ou seja, como condições ou limites<br />

da investigação lógica (ABBAGNANO, Possibilita<br />

e liberta, VI, 7). Em geral, po<strong>de</strong>-se dizer que,<br />

enquanto é uma "possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificação"<br />

que em cada campo assume o aspecto específico<br />

ditado pelos instrumentos <strong>de</strong> investigação<br />

disponíveis, em relação à razão o F. também<br />

é condição <strong>de</strong> outras possibilida<strong>de</strong>s, ou<br />

seja, <strong>de</strong> escolhas ou operações que, por sua<br />

vez, são <strong>de</strong>terminadas ou especificadas segundo<br />

a natureza <strong>de</strong> cada campo <strong>de</strong> indagação.<br />

FAUSTISMO (ai. Faustismus). Segundo<br />

Spengler, o caráter da cultura oci<strong>de</strong>ntal, em<br />

contraposição ao apolinismo da cultura antiga.<br />

A alma fáustíca tem como símbolo o espaço<br />

puro ilimitado. Fáusticos são, segundo Spengler,<br />

a dinâmica <strong>de</strong> Galilei, a dogmática católica<br />

e a protestante, as gran<strong>de</strong>s dinastias com sua<br />

política <strong>de</strong> gabinete, o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Lear e o i<strong>de</strong>al<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Beatriz <strong>de</strong><br />

Dante até o fim do segundo Fausto <strong>de</strong> Goethe<br />

(Untergang <strong>de</strong>sAbendlan<strong>de</strong>s, I, 3, 2, § 6). Tratase<br />

obviamente <strong>de</strong> uma caracterização arbitrária<br />

e fantasiosa.<br />

FÉ (gr. mcraç; lat. Fi<strong>de</strong>s; in. Faith; fr. Foi; ai.<br />

Glaube, it. Fe<strong>de</strong>). Crença religiosa, como confiança<br />

na palavra revelada. Enquanto a crença,<br />

em geral, é o compromisso com uma noção<br />

qualquer, a F. é o compromisso com uma noção<br />

que se consi<strong>de</strong>ra revelada ou testemunhada<br />

pela divinda<strong>de</strong>. Nesse sentido, essa palavra<br />

já era utilizada por Sexto Empírico, ao falar dos<br />

raciocínios que parecem provir "da F. e da memória",<br />

tais como o seguinte: "Se um Deus te<br />

disse que esse homem ficará rico, ele ficará<br />

rico. Mas este Deus aqui (e indico, suponhamos,<br />

Zeus) te disse que esse homem ficará<br />

rico. Logo, ficará rico." Nesses casos, nota Sexto,<br />

damos assentimento à conclusão não pela<br />

necessida<strong>de</strong> das premissas, mas porquanto temos<br />

F. na <strong>de</strong>claração da divinda<strong>de</strong> (Pirr. hyp.,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!