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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FILOSOFIA 443 FILOSOFIA<br />

das principais articulações dos significados<br />

<strong>de</strong>sse termo constituem por si mesmos a primeira<br />

<strong>de</strong>ssas articulações. Em outras palavras, é<br />

possível distinguir os significados historicamente<br />

dados <strong>de</strong>sse termo: l s com relação à natureza<br />

e valida<strong>de</strong> do conhecimento ao qual a F. se<br />

refere; 2 S com relação à natureza do alvo para<br />

o qual a F. preten<strong>de</strong> dirigir o uso <strong>de</strong>sse saber;<br />

3 S com relação à natureza do procedimento<br />

que se consi<strong>de</strong>ra próprio da <strong>filosofia</strong>.<br />

I. A <strong>filosofia</strong> e o saber— O uso do saber ao<br />

qual o homem tem acesso <strong>de</strong> algum modo é,<br />

em primeiro lugar, um juízo sobre a origem ou<br />

a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse saber. E a propósito do juízo<br />

sobre a valida<strong>de</strong> do saber surgem imediatamente<br />

duas alternativas fundamentais, que<br />

estabelecem a distinção entre dois tipos diferentes<br />

e opostos <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong>. A primeira alternativa<br />

estabelece a origem divina do saber: para<br />

o homem, ele é uma revelação ou um dom. A<br />

segunda alternativa estabelece a origem humana<br />

do saber: ele é uma conquista ou uma<br />

produção do homem. A primeira alternativa é<br />

a mais antiga e a mais freqüente no mundo,<br />

prevalecendo <strong>de</strong> há muito nas <strong>filosofia</strong>s orientais.<br />

A segunda alternativa surgiu na Grécia e<br />

foi herdada pela civilização oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Ã) De acordo com a primeira alternativa, o<br />

saber é uma revelação ou iluminação divina,<br />

com que se privilegiaram a um ou mais homens,<br />

transmitida por tradição num grupo também<br />

privilegiado <strong>de</strong> homens (casta, seita ou<br />

igreja). Portanto, não é acessível aos mortais<br />

comuns, a não ser através daqueles que são<br />

seus <strong>de</strong>positários; tampouco é possível aos<br />

mortais, comuns ou não, aumentar seu patrimônio<br />

ou julgar <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong>. Faz parte integrante<br />

<strong>de</strong>ssa interpretação da origem do saber<br />

a crença <strong>de</strong> que seu uso em benefício do homem<br />

— neste caso a "salvação" — também é<br />

ditado ou prescrito pela revelação ou iluminação<br />

divina. Portanto, esta interpretação parece<br />

eliminar ou tornar supérfluo o "trabalho" filosófico,<br />

que versa precisamente sobre esse uso.<br />

Mas na prática isso é raro. A exigência <strong>de</strong> aproximar<br />

a verda<strong>de</strong> revelada da compreensão humana<br />

comum, <strong>de</strong> adaptá-la às circunstâncias e<br />

<strong>de</strong> fazer que ela atenda aos problemas novos<br />

ou modificados que os homens se propõem,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-la <strong>de</strong> negações, <strong>de</strong>svios, incredulida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>claradas ou ocultas, faz que o trabalho<br />

filosófico encontre nesse conceito do saber um<br />

vasto campo para <strong>de</strong>senvolver-se e tarefas<br />

multiformes para enfrentar. Contudo, esse tra-<br />

balho é subalterno e ancilar: não é nem po<strong>de</strong><br />

ser <strong>de</strong>cisivo quando se trata <strong>de</strong> interpretações<br />

fundamentais e <strong>de</strong> instâncias últimas. Na revelação<br />

e na tradição, encontra limites intransponíveis<br />

que vedam qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento em direções diferentes das já<br />

<strong>de</strong>terminadas. Não po<strong>de</strong> combater e <strong>de</strong>struir as<br />

crenças estabelecidas, opor-se frontalmente à<br />

tradição, promover ou planejar transformações<br />

radicais. Sua função é conservar as crenças estabelecidas,<br />

e não renová-las ou aperfeiçoálas,<br />

portanto, sua função é subordinada e instrumental,<br />

<strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> autonomia e da dignida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> força diretiva.<br />

Já se disse que quase todas as F. orientais<br />

são <strong>de</strong>ssa natureza, o que por vezes levou a<br />

duvidar <strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>ssem ser chamadas <strong>de</strong><br />

<strong>filosofia</strong>s. Mas, na verda<strong>de</strong> mesmo o mundo<br />

oci<strong>de</strong>ntal muitas vezes oferece exemplos <strong>de</strong> F.<br />

<strong>de</strong>sse tipo, ainda que nenhuma <strong>de</strong>las apresente<br />

os caracteres ora expostos em todo o seu rigor.<br />

A partir do nome do mais importante <strong>de</strong>sses<br />

exemplos, as formas que esse tipo <strong>de</strong> F. assumiu<br />

no mundo oci<strong>de</strong>ntal po<strong>de</strong>m ser chamadas<br />

<strong>de</strong> escolãsticas. Uma escolástica, ao contrário<br />

<strong>de</strong> uma <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> puro tipo oriental; pressupõe<br />

uma F. autônoma e vale-se <strong>de</strong>la pára a <strong>de</strong>fesa<br />

e a ilustração <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong> religiosa<br />

para confirmar ou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r crenças cuja valida<strong>de</strong><br />

se julga estabelecida <strong>de</strong> antemão, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> confirmações ou <strong>de</strong>fesas. Uma<br />

escolástica, como a própria palavra diz, é essencialmente<br />

um instrumento <strong>de</strong> educação:<br />

serve para aproximar o homem, na medida do<br />

possível, <strong>de</strong> um saber consi<strong>de</strong>rado imutável<br />

em suas linhas fundamentais, portanto não susceptível<br />

<strong>de</strong> aperfeiçoamento ou renovação. Entre<br />

as tarefas — aliás, múltiplas, assim como são<br />

múltiplos os caminhos <strong>de</strong> acesso do homem à<br />

verda<strong>de</strong>, bem como os obstáculos encontrados<br />

nesse caminho — assumidas por uma F.<br />

escolástica, não está o eventual abandono das<br />

crenças <strong>de</strong> que ela é intérprete. As seitas filosófico-religiosas<br />

do séc. II a.C. (p. ex., os essênios),<br />

as doutrinas <strong>de</strong> Fílon <strong>de</strong> Alexandria<br />

(séc. I d.C.) e <strong>de</strong> muitos neoplatônicos, a F.<br />

islâmica e judaica, a Patrística e a Escolástica,<br />

bem como, no mundo mo<strong>de</strong>rno, o ocasionalismo,<br />

o imaterialismo, a direita hegeliana e<br />

boa parte do espiritualismo contemporâneo são<br />

escolásticos no sentido ora esclarecido: F. que<br />

consistem em utilizar <strong>de</strong>terminada doutrina<br />

(platonismo, aristotelismo, cartesianismo, empirismo,<br />

i<strong>de</strong>alismo, etc.) para a <strong>de</strong>fesa e a inter-

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