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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ATEÍSMO ATENÇÃO<br />

absurdo perguntar <strong>de</strong>pois a causa <strong>de</strong> todo o<br />

conjunto, que já foi dada com as causas particulares.<br />

Isto quer dizer que não tem sentido<br />

perguntar a causa do mundo na sua totalida<strong>de</strong>.<br />

Valor maior tem a prova físico-teológica, mas<br />

esta po<strong>de</strong> permitir somente remontar a uma<br />

causa proporcional ao efeito; e, como o efeito,<br />

isto é, o mundo, é imperfeito e finito, a causa<br />

<strong>de</strong>veria ser igualmente imperfeita e finita. Mas<br />

se a divinda<strong>de</strong> for consi<strong>de</strong>rada imperfeita e finita,<br />

não há motivo para consi<strong>de</strong>rá-la única. Se uma<br />

cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser construída por muitos homens,<br />

por que o universo não po<strong>de</strong>ria ter sido criado<br />

por muitas divinda<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong>mônios"? {Works,<br />

II, 1827, p. 413). Por fim, a disputa entre teísmo<br />

e A. torna-se uma questão <strong>de</strong> palavras: "O teísta<br />

admite que a inteligência original é muito diferente<br />

da razão humana. O ateu admite que o<br />

princípio original da or<strong>de</strong>m tem alguma analogia<br />

remota com a própria razão. Quereis então,<br />

senhores, ficar discutindo o grau <strong>de</strong> analogia e<br />

entrar numa controvérsia que não admite significado<br />

preciso nem, portanto, qualquer conclusão?"<br />

{Ibid., 535.) Esse tipo <strong>de</strong> ceticismo,<br />

porém, não é uma forma <strong>de</strong> A. professado como<br />

muitas vezes ocorre com o materialismo: ten<strong>de</strong>,<br />

como se vê, a eliminar a dramaticida<strong>de</strong> da<br />

polêmica sobre o A. e a <strong>de</strong>monstrar que, afinal,<br />

ela é insignificante.<br />

3 e A terceira forma <strong>de</strong> A. é o panteísmo (v.).<br />

Também aqui não se trata <strong>de</strong> um A. professado,<br />

mas da acusação freqüentemente feita aos<br />

que i<strong>de</strong>ntificam Deus com o mundo. Durante<br />

muito tempo, Spinoza foi acusado <strong>de</strong> A. por ter<br />

dito Deus sive natura; na verda<strong>de</strong>, como notava<br />

Hegel, <strong>de</strong>ver-se-ia falar, com mais exatidão,<br />

<strong>de</strong> acosmismo (v.). Fichte também foi acusado<br />

<strong>de</strong> A. em conseqüência <strong>de</strong> um artigo publicado<br />

em 1798 no Jornal Filosófico <strong>de</strong>lena, "Do fundamento<br />

da nossa crença no governo divino<br />

do mundo", no qual se i<strong>de</strong>ntificava Deus com<br />

a or<strong>de</strong>m moral do mundo. Por causa da polêmica<br />

que se seguiu a esse artigo, Fichte foi<br />

obrigado a <strong>de</strong>mitir-se da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Iena.<br />

Fichte, como Spinoza, rejeitava a acusação <strong>de</strong><br />

A.; e como quer que se julgue a questão, é<br />

certo que panteísmo não é A. professado.<br />

4 S A. professado, em algumas <strong>de</strong> suas formas,<br />

é o pessimismo. A <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, o mal, a<br />

infelicida<strong>de</strong> do mundo são, segundo Schopenhauer,<br />

obstáculos insuperáveis tanto para a<br />

afirmação do Deus pessoal, como quer o teísmo,<br />

quanto para a i<strong>de</strong>ntificação do mundo com Deus,<br />

feita pelo panteísmo (Selected Essays, trad. in.<br />

Belfort-Bax, p. 71). Teísmo e panteísmo pressupõem<br />

o otimismo que não só é <strong>de</strong>smentido<br />

pelo fatos, pois vivemos no pior dos mundos<br />

possíveis, mas é também pernicioso, porque<br />

não faz mais do que atar os homens à impiedosa<br />

e cruel vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver (Die Welt, II, cap. 46).<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea, a doutrina <strong>de</strong> Sartre<br />

representa um A. pessimista atualizado pelas<br />

novas diretrizes da especulação. O fundamento<br />

<strong>de</strong>sse pessimismo não são o mal ou a dor<br />

como tais, mas a ambigüida<strong>de</strong> radical, a incerteza<br />

da existência humana lançada no mundo<br />

e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte só da sua liberda<strong>de</strong> absoluta, que<br />

a con<strong>de</strong>na ao fracasso. Segundo Sartre, não há<br />

Deus, mas há o ser que projeta ser Deus, isto é,<br />

o homem: projeto que é, ao mesmo tempo, ato<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> humana e <strong>de</strong>stino que a con<strong>de</strong>na<br />

à falência. {Lêtre et le néant, pp. 653 ss.)<br />

ATENÇÃO (in. Attention; fr. Attention; ai.<br />

Aufmerksamkeit; it. Attenzione). Noção relativamente<br />

recente (séc. XVII), com a qual se enten<strong>de</strong><br />

em geral o ato pelo qual o espírito toma<br />

posse <strong>de</strong> forma clara e vivida <strong>de</strong> um dos seus<br />

possíveis objetos, ou a apresentação clara e<br />

vivida <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sses possíveis objetos ao espírito.<br />

A noção <strong>de</strong> A. encontra-se em Descartes, que a<br />

enten<strong>de</strong> como o ato pelo qual o espírito toma<br />

em consi<strong>de</strong>ração um único objeto durante algum<br />

tempo {Pass. <strong>de</strong> 1'âme, I, § 43). Locke chama<br />

<strong>de</strong> "A." a atenção passiva com que o espírito<br />

é atraído por certas idéias, ao passo que<br />

chama <strong>de</strong> "reflexão" a A. ativa pela qual ele<br />

escolhe certas idéias como objetos privilegiados<br />

{Ensaio, II, I, § 8). Diz ele: "Quando tomamos<br />

nota das idéias que se nos apresentam por si e<br />

elas são, por assim dizer, registradas na memória,<br />

trata-se da A." {ibid., II, 19, § 1). Leibniz, no<br />

entanto, dá sentido ativo à A.: "Damos A. aos<br />

objetos que distinguimos e preferimos aos outros".<br />

E como formas da A. enumera a consi<strong>de</strong>ração,<br />

a contemplação, o estudo, a meditação<br />

{Nouv. ess., II, 19, § 1). Ela constitui a passagem<br />

das pequenas percepções à apercepção {ibid.,<br />

pref.). A A. conserva esse mesmo caráter ativo<br />

em Wolff {Psycbol. emp., § 237) e em Kant {Antr.,<br />

I, § 3), que a <strong>de</strong>fine como "o esforço <strong>de</strong> tornarse<br />

consciente das próprias representações".<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> do séc. XIX,<br />

com o surgimento da psicologia científica, a A.,<br />

consi<strong>de</strong>rada como uma das condições da vida<br />

psíquica, é incluída no âmbito <strong>de</strong>ssa ciência.<br />

Seu conceito continua sendo o mesmo que fora<br />

formulado pelos filósofos; os psicólogos distinguem<br />

a A. espontânea, passiva ou involuntária,

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