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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONHECIMENTO 175 CONHECIMENTO<br />

com a terra, a água com a água, etc. (Fr. 105,<br />

Diels). Po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas variantes <strong>de</strong>sse<br />

princípio tanto a afirmação <strong>de</strong> Heráclito, "o que<br />

se move conhece o que se move" (ARISTÓTE-<br />

LES, De an., I, 2, 405 a 27), quanto a <strong>de</strong> Anaxágoras,<br />

segundo a qual "a alma conhece o<br />

contrário com o contrário" (TEOFR., De sens.,<br />

27). Esta última na realida<strong>de</strong> parece aludir mais<br />

a uma condição do C. — que pressupõe a diversida<strong>de</strong><br />

como dirá Aristóteles (De an., II, J,<br />

417 a 16) — do que ao próprio ato cognitivo,<br />

como indica a justificação que lhe é dada: "o<br />

semelhante, com efeito, não po<strong>de</strong> sofrer a ação<br />

do semelhante". Mas foram Platão e Aristóteles<br />

que estabeleceram em bases sólidas essa interpretação<br />

do conhecimento. O encontro do semelhante<br />

com o semelhante, a homogeneida<strong>de</strong>,<br />

são os conceitos que Platão utiliza para<br />

explicar os processos cognitivos (Tím., 45 c,<br />

90 c-d): conhecer significa tornar o pensante<br />

semelhante ao pensado. Conseqüentemente,<br />

os graus <strong>de</strong> C. mo<strong>de</strong>lam-se segundo os graus<br />

do ser: nào se po<strong>de</strong> conhecer com certeza, isto<br />

é, com "firmeza" o que não é firme, porque o<br />

C. só faz reproduzir o objeto; por isso "o que é<br />

absolutamente é absolutamente cognoscível, enquanto<br />

o que não é <strong>de</strong> nenhum modo <strong>de</strong> nenhum<br />

modo é cognoscível" (Rep., Al a). Dessa<br />

maneira, Platão estabeleceu a correspondência<br />

entre ser e ciência, que é o C. verda<strong>de</strong>iro;<br />

entre não ser e ignorância; entre <strong>de</strong>vir, que<br />

está entre o ser e o não ser, e opinião, que está<br />

entre o C. e a ignorância. E distinguiu os seguintes<br />

graus do C: l e suposição ou conjectura,<br />

que tem por objeto sombras e imagens das<br />

coisas sensíveis; 2 a a opinião acreditada, mas<br />

não verificada, que tem por objeto as coisas<br />

naturais, os seres vivos e, em geral, o mundo<br />

sensível; 3° razão científica, que proce<strong>de</strong> por<br />

via <strong>de</strong> hipóteses e tem por objeto os entes matemáticos;<br />

4 e inteligência filosófica, que proce<strong>de</strong><br />

dialeticamente e tem por objeto o mundo<br />

do ser (Ibid., VI, 509-10). Cada um <strong>de</strong>sses graus<br />

<strong>de</strong> C. é a cópia exata do seu respectivo objeto:<br />

<strong>de</strong> modo que não há dúvida <strong>de</strong> que, para Platão,<br />

conhecer é estabelecer uma relação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

com o objeto em cada caso, ou uma relação<br />

que se aproxime o máximo possível da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. De forma ainda mais rigorosa esse<br />

ponto <strong>de</strong> vista era realizado por Aristóteles.<br />

Segundo ele, o C. em ato é idêntico ao objeto,<br />

se se tratar <strong>de</strong> C. sensível; é a própria forma<br />

inteligível (ou substância) do objeto, se se tratar<br />

<strong>de</strong> C. intelegível (De an., II, 5, 417 a). En-<br />

ten<strong>de</strong>-se que a faculda<strong>de</strong> sensível e o intelecto<br />

potencial são simples possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conhecer,<br />

mas quando essas possibilida<strong>de</strong>s se realizam,<br />

a primeira pela ação das coisas externas,<br />

a segunda pela ação do intelecto ativo, i<strong>de</strong>ntificam-se<br />

com os respectivos objetos; p. ex.,<br />

ouvir um som (sensação em ato) i<strong>de</strong>ntifica-se<br />

com o próprio som, assim como enten<strong>de</strong>r uma<br />

substância i<strong>de</strong>ntifica-se com a própria substância.<br />

Portanto, Aristóteles po<strong>de</strong> afirmar, em geral,<br />

que "a ciência em ato é idêntica ao seu<br />

objeto" (Dean., III, 7, 431 a 1).<br />

Essa doutrina aristotélica po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

a forma típica da interpretação do C.<br />

como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com o objeto. Com exceção<br />

dos estóicos, tal interpretação domina o curso<br />

ulterior da <strong>filosofia</strong> grega. Para Epicuro, o fluxo<br />

dos simulacros (eidolã) que se <strong>de</strong>stacam das<br />

coisas e se imprimem na alma serve precisamente<br />

para garantir a semelhança das imagens<br />

com as coisas (Ep. aHerod., 51). E Plotino utiliza<br />

o mesmo conceito para esclarecer a natureza<br />

do conhecimento. Tem-se C. quando a parte<br />

da alma com que se conhece unifica-se com o<br />

objeto conhecido e forma um todo com ele. Se<br />

a alma e esse objeto permanecem dois, o objeto<br />

permanece exterior à própria alma e o conhecimento<br />

<strong>de</strong>le permanece inoperante. Só a<br />

unida<strong>de</strong> dos dois termos constitui o conhecimento<br />

verda<strong>de</strong>iro (Enn., III, 8, 6). Na <strong>filosofia</strong><br />

cristã, permanece a mesma interpretação, que,<br />

aliás, serve <strong>de</strong> fundamento para as mais características<br />

especulações teológicas e antropológicas.<br />

Segundo S. Agostinho, o homem po<strong>de</strong><br />

conhecer Deus porquanto ele mesmo é a imagem<br />

<strong>de</strong> Deus. Memória, inteligência e vonta<strong>de</strong>,<br />

em sua unida<strong>de</strong> e distinção recípocra, reproduzem<br />

no homem a trinda<strong>de</strong> divina <strong>de</strong> Ser, Verda<strong>de</strong><br />

e Amor (De Trin., X, 18). Essa noção, com<br />

algumas variações secundárias, dominou toda a<br />

teologia medieval e também foi o fundamento<br />

da antropologia. Mas <strong>de</strong>la <strong>de</strong>rivava uma conseqüência<br />

importante pelo C. que o homem tem<br />

das coisas inferiores a Deus. O reconhecimento<br />

da origem divina dos po<strong>de</strong>res humanos<br />

(enquanto imagens dos po<strong>de</strong>res divinos) torna<br />

os po<strong>de</strong>res humanos relativamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

dos outros objetos cognoscíveis e<br />

acentua a importância do sujeito cognoscente.<br />

Para Aristóteles, a faculda<strong>de</strong> sensível e o intelecto<br />

potencial nada mais são que seus<br />

próprios objetos "em potência": não têm nenhuma<br />

in<strong>de</strong>pendência em face <strong>de</strong>sse objetos.<br />

Mas S. Agostinho afirma, ao contrário, que "todo<br />

C. (notitia) <strong>de</strong>riva, ao mesmo tempo, do cog-

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