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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESPAÇO 350 ESPAÇO<br />

celeste, <strong>de</strong>terminado pela sua posição em relação<br />

à terra. O E. absoluto e o relativo são idênticos<br />

em forma e gran<strong>de</strong>za, mas não permanecem<br />

sempre numericamente os mesmos.<br />

Porque, p. ex., se a terra se move, um E. do<br />

nosso ar, que, relativamente à terra, continua<br />

o mesmo, em certo momento fará parte do<br />

E. absoluto que o ar atravessa e, em um outro,<br />

será uma outra parte do mesmo E." (Philosophiae<br />

naturalis principia mathematica,<br />

1687, I, <strong>de</strong>f. 8 scol.). A polêmica <strong>de</strong> Leibniz<br />

contra essa doutrina não conseguiu impedir<br />

seu êxito. Quase um século <strong>de</strong>pois, Euler dizia:<br />

"Suponhamos que todos os corpos que se<br />

acham agora no meu quarto, inclusive o ar,<br />

sejam aniquilados pela onipotência divina. Obteremos<br />

então um E. que, apesar <strong>de</strong> ter o mesmo<br />

comprimento, a mesma largura e a mesma<br />

profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antes, já não contém nenhum<br />

corpo. Portanto, aí está, no mínimo, a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma extensão que não é um corpo.<br />

Semelhante E. sem corpo é <strong>de</strong>nominado vácuo;<br />

o vácuo, portanto, é uma extensão sem<br />

corpo" (Lettres à une princesse d'Allemagne,<br />

69, <strong>de</strong> 21-X-1760; trad. it., p. 228). Já se viu que<br />

a noção newtoniana <strong>de</strong> E. acabou prevalecendo<br />

(talvez por influência do próprio Euler) na<br />

doutrina <strong>de</strong> Kant. Também prevaleceu em toda<br />

a física do séc. XIX, apesar das freqüentes críticas<br />

à parte referente ao E. absoluto. Clerk<br />

Maxwell afirmava que "todo o nosso conhecimento<br />

tanto do tempo quanto do E. é essencialmente<br />

relativo" {Matter and Motion, Dover<br />

publ., p. 12). Mach falava da "monstruosida<strong>de</strong><br />

conceituai do E. absoluto" (Die Mechanik in<br />

ihrer Entwicklung, 1883; T ed., 1921, p. X).<br />

Essa teoria do E. foi, porém, assumida ou pressuposta<br />

pela física até Einstein.<br />

c) A terceira concepção fundamental do E. é<br />

a <strong>de</strong> Einstein, que prevalece na física contemporânea.<br />

À primeira vista, principalmente ao se<br />

consi<strong>de</strong>rar só a relativida<strong>de</strong> restrita, a concepção<br />

<strong>de</strong> Einstein constitui um retorno à teoria<br />

clássica do E. como posição ou lugar. Diz Einstein<br />

a respeito: "Nosso E. físico, do modo como<br />

o concebemos por meio dos objetos e <strong>de</strong> seu<br />

movimento, tem três dimensões e as posições<br />

são caracterizadas por três números. O instante<br />

em que se verifica o evento é o quarto número.<br />

A cada evento correspon<strong>de</strong>m quatro números<br />

<strong>de</strong>terminados e um grupo <strong>de</strong> quatro números<br />

correspon<strong>de</strong> a um evento <strong>de</strong>terminado.<br />

Portanto, o mundo dos eventos constitui um<br />

contínuo quadridimensionar (EINSTEIN-INFELD,<br />

The Evolution of Physics, III; trad. it., p. 217).<br />

Nesse conceito <strong>de</strong> E., a novida<strong>de</strong> parece ser constituída<br />

exclusivamente pelo acréscimo da coor<strong>de</strong>nada<br />

temporal às coor<strong>de</strong>nadas com que Descartes<br />

<strong>de</strong>finia o E. Mas na relativida<strong>de</strong> geral, o<br />

afastamento dos conceitos tradicionais é mais<br />

radical. Aí não tem mais sentido falar <strong>de</strong> E.<br />

sem consi<strong>de</strong>rar o campo, que é usado para<br />

representar os fenômenos físicos. Tanto os<br />

fenômenos inerciais quanto os gravitacionais<br />

são explicados por mudanças na estrutura<br />

métrica do campo: "Em vez <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

referência rígido e fixo (observou-se com justeza),<br />

agora se tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constatar<br />

as variações na curvatura do E. ou, o que<br />

dá no mesmo, o uso <strong>de</strong> critérios não euclidianos<br />

<strong>de</strong> medida e <strong>de</strong> cálculo em diferentes partes<br />

do campo como um todo, segundo as variações<br />

na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da matéria e da energia.<br />

Portanto, sem levar em conta o campo, não há<br />

nada e, contrariando até mesmo a relativida<strong>de</strong><br />

restrita, nem sequer o E. vazio. Nesse sentido,<br />

o campo, segundo Einstein, substitui como<br />

concepção unitária tanto a matéria (pon<strong>de</strong>rável<br />

ou impon<strong>de</strong>rável) quanto o E." (M. K. MUNITZ,<br />

Space, Time and Creation, 1957, VII, I; trad. it.,<br />

pp. 112-13). Paradoxalmente, portanto, a concepção<br />

mais atualizada do E. não é senão a<br />

renúncia implícita ao conceito <strong>de</strong> E. e o encaminhamento<br />

para o uso <strong>de</strong> outros conceitos,<br />

menos vinculados a abstrações tradicionais<br />

e mais capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver os resultados<br />

da observação.<br />

2 Q O problema da realida<strong>de</strong> do E. <strong>de</strong>u lugar<br />

a três diferentes teses: a) da realida<strong>de</strong> física ou<br />

teológica do E.; b) da subjetivida<strong>de</strong> do E.; c) <strong>de</strong><br />

que o E. é indiferente ao problema da realida<strong>de</strong><br />

ou irrealida<strong>de</strong>.<br />

á) A tese da realida<strong>de</strong> física ou teológica do<br />

E. é típica da <strong>filosofia</strong> antiga. Concebendo o E.<br />

como lugar ou posição ou como recipiente, os<br />

antigos acreditavam na realida<strong>de</strong> do E. e consi<strong>de</strong>ravam-no<br />

um elemento ou uma condição do<br />

mundo ou mesmo um atributo <strong>de</strong> Deus. Enquanto<br />

para Platão, para Aristóteles e para os<br />

epicuristas o E. é constituinte do mundo, para<br />

os neoplatônicos é Deus. Essa concepção é<br />

atribuída por Sexto Empírico aos peripatéticos:<br />

"Parece que, para os peripatéticos, o primeiro<br />

Deus é o lugar <strong>de</strong> todas as coisas. De fato, segundo<br />

Aristóteles, o primeiro Deus é o limite<br />

dos céus... E uma vez que o limite dos céus é<br />

o lugar <strong>de</strong> todas as coisas <strong>de</strong>ntro dos céus, Deus<br />

será o lugar <strong>de</strong> todas as coisas" (Adv. math.,

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