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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONTEMPLATIVA, VIDA 199 CONTEXTO<br />

as mais elevadas. Sobre essa noção <strong>de</strong>veria<br />

basear-se toda a <strong>filosofia</strong> pós-aristotélica, dos<br />

epicuristas aos neoplatônicos, <strong>de</strong>stinada a exaltar<br />

a figura do "sábio", do homem cuja vida se<br />

resume ou se esgota na contemplação. A <strong>filosofia</strong><br />

medieval continua essa tradição. Se o Misticismo<br />

(v.) vê na vida C. a finalida<strong>de</strong> do homem<br />

e no caminho que leva a ela a única<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> valor, para a Escolástica, com S.<br />

Tomás (5. Th., II, 1, q. 3, a. 5), a vida C. é não<br />

só a bem-aventurança última e perfeita a ser<br />

obtida na outra vida, como também a bemaventurança<br />

menor e imperfeita que se po<strong>de</strong><br />

alcançar nesta. Uma das características do<br />

Humanismo e do Renascimento é a ruptura<br />

<strong>de</strong>ssa tradição e o reconhecimento do valor da<br />

vida prática ou ativa, do trabalho e da ativida<strong>de</strong><br />

mundana. E a Reforma, ao menos nesse ponto,<br />

coinci<strong>de</strong> com o Renascimento. Bacon afirmava,<br />

nessa linha, o caráter prático e ativo do próprio<br />

conhecimento iscire estposse, Nov. Org., I, 3),<br />

no sentido <strong>de</strong> que este visa a estabelecer o domínio<br />

humano sobre a natureza. As análises dos<br />

empiristas ingleses nos sécs. XVII e XVIII mostravam<br />

a conexão entre o conhecimento e a experiência<br />

vivida do homem e, com Hume, a<br />

subordinação da primeira à segunda. No séc.<br />

XVIII, o Iluminismo vê no conhecimento essencialmente<br />

um instrumento <strong>de</strong> ação, um<br />

meio para agir sobre o mundo e melhorá-lo: o<br />

i<strong>de</strong>al da vida C. parece abandonado. Contudo,<br />

retorna e prevalece no Romantismo, para o<br />

qual o conhecimento é o ponto final <strong>de</strong> chegada;<br />

portanto, a vida C. é ápice do processo<br />

cósmico, aquele no qual esse processo alcança<br />

a realida<strong>de</strong> última por meio da consciência,<br />

(entendida no sentido <strong>de</strong> CONSCIÊNCIA 1 [ver]).<br />

Hegel assim concluía sua Enciclopédia. "A Idéia,<br />

eterna em si e por si, atualiza-se, produz-se e<br />

compraz-se em si mesma eternamente, como<br />

Espírito Absoluto"; e acrescentava, como um<br />

selo <strong>de</strong> sua obra, o trecho <strong>de</strong> Aristóteles (Met.,<br />

XI, 7), em que se fala da vida divina como "pensamento<br />

do pensamento". Esse renascimento<br />

do espírito C, que se manifestou em todas as<br />

direções nas quais o Romantismo agiu, começou<br />

a ser duramente atacado a partir <strong>de</strong> meados<br />

do séc. XIX. Marx contrapôs à <strong>filosofia</strong> C. a<br />

não-<strong>filosofia</strong> da práxis, empenhada em transformar,<br />

mais do que em conhecer, a realida<strong>de</strong><br />

(Teses sobre Feuerbach, 1845, § 3, 11). Nietzsche<br />

insistiu no caráter <strong>de</strong> renúncia e <strong>de</strong> enfraquecimento<br />

vital da vida C. e do <strong>de</strong>sinteresse<br />

teórico (Die Froeliche Wissenschaft, § 345). As<br />

<strong>filosofia</strong>s da ação e o pragmatismo insistiram<br />

na subordinação do conhecimento à ação e às<br />

suas exigências. Por fim, o existencialismo consi<strong>de</strong>rou<br />

as situações chamadas <strong>de</strong> cognitivas<br />

como modos <strong>de</strong> ser do homem no mundo, tornando<br />

sem sentido a distinção entre vida C. e<br />

vida prática. O reconhecimento da ilegitimida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa distinção talvez seja o traço mais característico<br />

da <strong>filosofia</strong> contemporânea. Por um<br />

lado o conhecimento, em todos os seus graus e<br />

formas, implica a aplicação <strong>de</strong> métodos, técnicas<br />

ou instrumentos inerentes à situação humana<br />

no mundo, po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong><br />

natureza prática. Por outro, a própria vida C.<br />

não passa <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação dos interesses a certa<br />

esfera <strong>de</strong> problemas e não a outra; portanto é<br />

uma diretriz <strong>de</strong> vida prática, escolhida e <strong>de</strong>liberada.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a exaltação da vida<br />

C. aparece sobretudo como distorção profissional<br />

do filósofo, que privilegia sua ativida<strong>de</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>rando-a superior a todas as outras.<br />

CONTEÚDO. V. COMPREENSÃO.<br />

CONTEXTO (in. Context; fr. Contexte, ai.<br />

Kontext; it. Contesto). Conjunto dos elementos<br />

que condicionam, <strong>de</strong> um modo qualquer, o<br />

significado <strong>de</strong> um enunciado. O C. é <strong>de</strong>finido<br />

por Og<strong>de</strong>n e Richards do seguinte modo:<br />

"C. é o conjunto <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s (coisas ou<br />

eventos) correlacionadas <strong>de</strong> certo modo; cada<br />

uma <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s tem tal caráter que<br />

outros conjuntos <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ter os<br />

mesmos caracteres e estar ligados pela mesma<br />

relação; recorrem quase uniformemente" (The<br />

Meaning of theMeaning, 10- ed., 1952, p. 58).<br />

Essa <strong>de</strong>finição parece obscura, mas fica mais<br />

clara graças à explicação que se segue: "Um<br />

C. literário é um grupo <strong>de</strong> palavras, inci<strong>de</strong>ntes,<br />

idéias, etc. que em dada ocasião acompanha<br />

ou circunda aquilo que dizemos ter um<br />

C, enquanto C. <strong>de</strong>terminante é um grupo<br />

<strong>de</strong>ssa espécie que não só ocorre repetidamente,<br />

mas é tal que pelo menos um <strong>de</strong> seus<br />

membros é <strong>de</strong>terminado, quando os outros<br />

são dados" (Jbid., p. 58, n. 1). Em outros<br />

autores, é chamado <strong>de</strong> C. o conjunto <strong>de</strong> pressupostos<br />

que possibilitam apreen<strong>de</strong>r o sentido<br />

<strong>de</strong> um enunciado. Diz S. K. Langer: "O nome<br />

<strong>de</strong> uma pessoa, como todos sabem, traz à<br />

mente certo número <strong>de</strong> acontecimentos <strong>de</strong><br />

que ela tomou parte. Em outros termos, uma<br />

palavra mnemônica estabelece um C. no qual<br />

ela se nos apresenta; e nós a usamos ingenuamente,<br />

esperando que seja compreendida<br />

com seu C." (Philosophy in a New Key, ed.

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