22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ABSOLUTO ABSOLUTO<br />

Absoluto que chega à sua consciência e se manifesta.<br />

ABSOLUTO (in. Absolute; fr. Absolu; ai.<br />

Absoluto; it. Assoluto). O termo latino absolutas<br />

(<strong>de</strong>sligado <strong>de</strong>, <strong>de</strong>stacado <strong>de</strong>, isto é, livre <strong>de</strong><br />

toda relação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) provavelmente<br />

correspon<strong>de</strong> ao significado do termo grego<br />

kath' auto (ou por si) a propósito do qual diz<br />

Aristóteles: "Por si mesmo e enquanto ele mesmo<br />

ésignificam a mesma coisa; p. ex.: o ponto<br />

e a noção <strong>de</strong> reta pertencem à linha por si porque<br />

pertencem à linha enquanto linha" (An.<br />

post., I, 4, 73 b 30 ss.). Nesse sentido, essa<br />

palavra qualificaria uma <strong>de</strong>terminação que pertence<br />

a uma coisa pela própria substância ou<br />

essência da coisa, portanto, intrinsecamente.<br />

Esse é um dos dois significados da palavra distinguidos<br />

por Kant, o que ele consi<strong>de</strong>ra mais<br />

difundido, mas menos preciso. Nesse sentido,<br />

"absolutamente possível" significa possível "em<br />

si mesmo" ou "intrinsecamente" possível. Desse<br />

significado Kant distingue o outro, que consi<strong>de</strong>ra<br />

preferível, segundo o qual essa palavra<br />

significaria "sob qualquer relação"; nesse caso,<br />

"absolutamente possível" significaria possível<br />

sob todos os aspectos ou sob todas as relações<br />

(Crít. R. Pura, Dial. transe, Conceitos da razão<br />

pura, seç. II).<br />

Esses dois significados se mantêm ainda no<br />

uso genérico <strong>de</strong>ssa palavra, mas o segundo<br />

prevalece, talvez por ser menos dogmático e<br />

não fazer apelo ao misterioso em si ou à natureza<br />

intrínseca das coisas. P. ex., dizer "Isto é<br />

absolutamente verda<strong>de</strong>iro" po<strong>de</strong> eqüivaler a<br />

dizer "Esta proposição contém em si mesma<br />

uma garantia <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>"; rna.s po<strong>de</strong> também<br />

querer dizer "Esta proposição foi amplamente<br />

verificada e nada há ainda que possa provar<br />

que ela é falsa"; este segundo significado é<br />

menos dogmático do que o primeiro. Assim,<br />

respon<strong>de</strong>r "Absolutamente não" a uma pergunta<br />

ou a um pedido significa simplesmente avisar<br />

que este "não" está solidamente apoiado por<br />

boas razões e será mantido. Esses usos comuns<br />

do termo correspon<strong>de</strong>m ao uso filosófico que,<br />

genericamente, é o <strong>de</strong> "sem limites", "sem restrições",<br />

e portanto "ilimitado" ou "infinito".<br />

Muito provavelmente a difusão <strong>de</strong>ssa palavra,<br />

que tem início no séc. XVIII (embora tenha<br />

sido Nicolau <strong>de</strong> Cusa que <strong>de</strong>finiu Deus como o<br />

A., De docta ignor, II, 9), é <strong>de</strong>vida à linguagem<br />

política e a expressões como "po<strong>de</strong>r A.",<br />

"monarquia A.", etc, nas quais a palavra significa<br />

claramente "sem restrições" ou "ilimitado".<br />

A gran<strong>de</strong> voga filosófica <strong>de</strong>sse termo <strong>de</strong>vese<br />

ao Romantismo. Fichte fala <strong>de</strong> uma "<strong>de</strong>dução<br />

A.", <strong>de</strong> "ativida<strong>de</strong> A.", <strong>de</strong> "saber A.", <strong>de</strong> "reflexão<br />

A.", <strong>de</strong> "Eu A.", para indicar, com esta<br />

última expressão, o Eu infinito, criador do<br />

mundo. E na segunda fase <strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong>,<br />

quando procura interpretar o Eu como Deus,<br />

usa a palavra <strong>de</strong> modo tão abusivo que beira o<br />

ridículo: "O A. é absolutamente aquilo que é,<br />

repousa sobre si e em si mesmo absolutamente",<br />

"Ele é o que é absolutamente porque é por<br />

si mesmo... porque junto ao A. não permanece<br />

nada <strong>de</strong> estranho, mas esvai-se tudo o que não<br />

é o A." (Wissenschaftslehre, 1801, §§ 5 e 8;<br />

Werke, II, pp. 12, 16). A mesma exageração<br />

<strong>de</strong>ssa palavra acha-se em Schelling, que, assim<br />

como Fichte da segunda maneira, emprega,<br />

além disso, o substantivo "A." para <strong>de</strong>signar o<br />

princípio infinito da realida<strong>de</strong>, isto é, Deus. O<br />

mesmo uso da palavra reaparece em Hegel,<br />

para quem, como para Fichte e Schelling, o A.<br />

é, ao mesmo tempo, o objeto e o sujeito da<br />

<strong>filosofia</strong> e, embora <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> várias formas,<br />

permanece caracterizado pela sua infinida<strong>de</strong><br />

positiva no sentido <strong>de</strong> estar além <strong>de</strong> toda<br />

realida<strong>de</strong> finita e <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r em si<br />

toda realida<strong>de</strong> finita. O princípio formulado na<br />

Fenomenologia (Pref.) <strong>de</strong> que "o A. é essencialmente<br />

o resultado" e <strong>de</strong> que "só no fim está<br />

o que é em verda<strong>de</strong>" leva Hegel a chamar <strong>de</strong><br />

Espírito A. os graus últimos da realida<strong>de</strong>, aqueles<br />

em que ela se revela a si mesma como<br />

Princípio autoconsciente infinito na religião, na<br />

arte e na <strong>filosofia</strong>. O Romantismo fixou assim o<br />

uso <strong>de</strong>ssa palavra tanto como adjetivo quanto<br />

como substantivo. Segundo esse uso, a palavra<br />

significa "sem restrições", "sem limitações",<br />

"sem condições"; e como substantivo significa<br />

a Realida<strong>de</strong> que é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> limites ou<br />

condições, a Realida<strong>de</strong> Suprema, o "Espírito"<br />

ou "Deus". Já Leibniz dissera: "O verda<strong>de</strong>iro infinito,<br />

a rigor, nada mais é que o A." (Nouv. ess.,<br />

II, 17, § 1). E na realida<strong>de</strong> esse termo po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado sinônimo <strong>de</strong> "Infinito" (v.). Em vista<br />

da posição central que a noção <strong>de</strong> infinito<br />

ocupa no Romantismo (v.), enten<strong>de</strong>-se por que<br />

esse sinônimo foi acolhido e muito utilizado no<br />

período romântico. Na França, essa palavra foi<br />

importada por Cousin, cujos vínculos com o<br />

Romantismo alemão são conhecidos. Na Inglaterra,<br />

foi introduzida por William Hamilton,<br />

cujo primeiro livro foi um estudo sobre a Filosofia<br />

<strong>de</strong> Cousin (1829); e essa noção tornou-se<br />

a base das discussões sobre a cognoscibilida-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!