22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

FILOSOFIA 455 FILOSOFIA<br />

1026 a 30). Mas a ciência do ser enquanto ser<br />

é teologia porque é a ciência da causa ou razão<br />

<strong>de</strong> ser a esta causa ou razão <strong>de</strong> ser é Deus.<br />

Por isso, a F. aristotélica possui caráter<br />

<strong>de</strong>claradamente sintético e, aliás, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

o primeiro e clássico exemplo do procedimento<br />

sintético. Obviamente, não é sintética<br />

só porque tem Deus como objeto <strong>de</strong> sua<br />

investigação, mas também porque se consi<strong>de</strong>ra<br />

coinci<strong>de</strong>nte com o conhecimento que Deus<br />

tem <strong>de</strong> si. E por essa característica po<strong>de</strong>-se reconhecer<br />

facilmente uma F. sintética.<br />

b) O procedimento analítico da F. reconhece-se<br />

negativamente pela ausência <strong>de</strong> pretensão<br />

<strong>de</strong> valer como conhecimento divino do<br />

mundo e, positivamente, pelo reconhecimento<br />

<strong>de</strong> limites para suas possibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> verificação<br />

<strong>de</strong> seus resultados. O procedimento analítico<br />

não é, por conseguinte, a construção ex<br />

novo do seu objeto, mas a resolução <strong>de</strong>le nos<br />

elementos que permitem sua compreensão, ou<br />

seja, em suas condições. Nestes termos, a <strong>de</strong>terminação<br />

do procedimento filosófico por<br />

Kant foi feita primeiramente num texto <strong>de</strong><br />

1764, Sobre a distinção dos princípios da teologia<br />

natural e da moral, e <strong>de</strong>pois na segunda<br />

parte principal da Crítica da Razão Pura. No<br />

primeiro texto, Kant contrapunha o método<br />

analítico da F. ao método sintético da matemática:<br />

"Aos conceitos gerais po<strong>de</strong>-se chegar por<br />

dois caminhos: pela ligação arbitrária dos conceitos<br />

ou isolando os conhecimentos que foram<br />

esclarecidos por subdivisão. A matemática<br />

sempre chega às <strong>de</strong>finições seguindo o primeiro<br />

caminho... As <strong>de</strong>finições filosóficas, ao contrário,<br />

são completamente diferentes. Nelas,<br />

o conceito das coisas já foi dado, mas <strong>de</strong> maneira<br />

confusa e não suficientemente <strong>de</strong>terminada. É<br />

preciso subdividi-lo, comparar nos vários casos<br />

as notas que foram separadas com o conceito<br />

dado, para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>terminar e levar a termo a<br />

idéia abstrata" (Untersuchung über die Deutlichkeit<br />

<strong>de</strong>r Grundsãtze <strong>de</strong>r natürlichen Theologie<br />

und <strong>de</strong>r Moral, I, I, § 1). Na Crítica da Razão<br />

Pura, Kant distinguiu o conhecimento<br />

filosófico, como conhecimento por conceitos,<br />

do conhecimento matemático, que consiste na<br />

construção <strong>de</strong> conceitos. Kant diz que a matemática<br />

po<strong>de</strong> construir conceitos porque dispõe<br />

<strong>de</strong> uma intuição pura que é a do espaço-tempo.<br />

A F., porém, não dispõe <strong>de</strong> uma intuição<br />

pura, mas somente <strong>de</strong> uma intuição sensível:<br />

os objetos da F. <strong>de</strong>vem, pois, ser dados<br />

e por isso só po<strong>de</strong>m ser analisados, e não<br />

construídos, pelo procedimento filosófico (Crít.<br />

R. Pura, Doutrina do método, cap. I, seç. 1).<br />

Kant, portanto, acautela os filósofos contra a<br />

pretensão <strong>de</strong> querer organizar sua ciência segundo<br />

o mo<strong>de</strong>lo matemático. Em F., não há<br />

propriamente <strong>de</strong>finições (que sejam construções<br />

<strong>de</strong> conceitos), nem axiomas, que são verda<strong>de</strong>s<br />

evi<strong>de</strong>ntes, nem <strong>de</strong>monstrações, que são provas<br />

apodíticas. Em relação a estas últimas Kant<br />

diz: "A experiência nos ensina o que existe,<br />

mas não que isso não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> outra maneira.<br />

Princípios empíricos <strong>de</strong> prova não po<strong>de</strong>m<br />

dar-nos nenhuma prova apodítica. De conceitos<br />

a priori (no conhecimento discursivo)<br />

nunca po<strong>de</strong> nascer uma certeza intuitiva, uma<br />

evidência, mesmo que o juízo possa ser apoditicamente<br />

certo" (Jbid., Doutrina do método,<br />

cap. 1, seç. 1). Deste ponto <strong>de</strong> vista, o procedimento<br />

da F. está bem longe da possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> dar ao homem um conhecimento comparável<br />

ao possuído por Deus. "A <strong>de</strong>terminação<br />

dos limites <strong>de</strong> nossa razão só po<strong>de</strong> ser feita<br />

segundo princípios apriori, mas a limitação da<br />

razão, que vem a ser o conhecimento, mesmo<br />

que in<strong>de</strong>terminado, da ignorância que nunca<br />

po<strong>de</strong> ser completamente eliminada, também<br />

po<strong>de</strong> ser conhecida aposteriori; vale dizer que,<br />

em todo conhecer, sempre nos resta o que<br />

conhecer" (Jbid., Da impossibilida<strong>de</strong> da satisfação<br />

cética). A F. nunca é uma ciência perfeita,<br />

que se possa ensinar ou apren<strong>de</strong>r. "Po<strong>de</strong>se<br />

apenas apren<strong>de</strong>r a filosofar, a exercitar o<br />

talento da razão na aplicação dos seus princípios<br />

universais a <strong>de</strong>terminadas investigações, mas<br />

sempre com a ressalva <strong>de</strong> que é direito da razão<br />

investigar esses princípios em suas fontes,<br />

para confirmá-los ou recusá-los" (Ibid., Doutrina<br />

do método, cap. III).<br />

Essas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Kant constituem um<br />

conceito relativamente acabado ou maduro do<br />

procedimento analítico em <strong>filosofia</strong>. Seu prece<strong>de</strong>nte<br />

imediato é Locke, que disse: "Não nos<br />

cabe neste mundo conhecer todas as coisas,<br />

mas sim as que concernem à nossa conduta <strong>de</strong><br />

vida. Se pu<strong>de</strong>rmos então achar as normas graças<br />

às quais um ser racional como o homem,<br />

consi<strong>de</strong>rado no estado em que se encontra<br />

neste mundo, possa e <strong>de</strong>va conduzir suas opiniões<br />

e as ações que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pendam, se pu<strong>de</strong>rmos<br />

chegar a tanto, não <strong>de</strong>vemos ficar aflitos<br />

se outras coisas escapam ao nosso conhecimento"<br />

(Ensaio, Intr., § 6). O conceito <strong>de</strong> F.<br />

como procedimento analítico, com vistas a <strong>de</strong>terminar<br />

as condições e, assim, os limites das

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!