22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

EMPIRISMO 327 EMPIRISMO<br />

é e, portanto, não po<strong>de</strong> sofrer <strong>de</strong>smentidos e<br />

não exige confirmações. A tese do E. é <strong>de</strong> que<br />

essa necessida<strong>de</strong> não existe e que, portanto,<br />

toda e qualquer "concatenaçào <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s"<br />

<strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser posta à prova, controlada e<br />

eventualmente modificada ou abandonada.<br />

A essa característica fundamental do E. e<br />

com base nela acrescentam-se outras, com<br />

as quais ele foi associado em cada fase <strong>de</strong><br />

sua história:<br />

l g Negação <strong>de</strong> qualqiier_conhecimento ou<br />

princípiQ Jnato, que 3evjrsernecessã~ríãmente<br />

reconhecido como válido, sem qualquer atestaçào<br />

ou verificação. Essa característica, estabelecida<br />

por Locke no primeiro livro <strong>de</strong> Ensaio,<br />

foi das que mais sobressaíram no séc. XVIII e<br />

às vezes serviu para <strong>de</strong>finir o E., embora não<br />

passe <strong>de</strong> conseqüência <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>le.<br />

2 a Negação do "supra-sensível", entendido como<br />

qualquer realida<strong>de</strong> não passível <strong>de</strong> verificação<br />

e controle <strong>de</strong> qualquer tipo. Ora, os melhores e<br />

mais diretos instrumentos <strong>de</strong> que o homem dispõe<br />

para a verificação <strong>de</strong> si mesmo e das realida<strong>de</strong>s<br />

em que está mais diretamente interessado<br />

são os órgãos dos sentidos; <strong>de</strong>sse modo, o E.<br />

apresenta-se na maioria das vezes como o recurso<br />

à evidência sensível enquanto método para<br />

<strong>de</strong>cidir o que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado real. Essa<br />

característica foi quase sempre usada para <strong>de</strong>finir<br />

a natureza do E., sendo consi<strong>de</strong>rada fundamental.<br />

Na verda<strong>de</strong>, por mais importante que<br />

seja, não é fundamental, mas secundária e <strong>de</strong>rivada<br />

<strong>de</strong> outra, segundo a qual o E. é a exigência<br />

<strong>de</strong> que qualquer verda<strong>de</strong> só seja aceita se pu<strong>de</strong>r<br />

ser <strong>de</strong>vidamente verificada e confirmada.<br />

3 a Ênfase naJnipQaância.da realida<strong>de</strong>Mual<br />

ou imediatamente presente aos órgãos <strong>de</strong> verificação<br />

e comprovação, ou seja, no fato: essa<br />

ênfase é conseqüência do recurso à evidência<br />

sensível. Essa é a característica que Hegel reconhecia<br />

como mérito do E.: o princípio <strong>de</strong> que<br />

"o que é verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve estar na realida<strong>de</strong> e<br />

estar lá para a percepção", e portanto "aquilo<br />

que o homem quiser admitir em seu saber <strong>de</strong>verá<br />

ir ver pessoalmente, confirmar pessoalmente<br />

sua presença" (Ene, § 38). Desse ponto<br />

<strong>de</strong> vista, a atitu<strong>de</strong> empírica consiste em ressaltar<br />

a importância dos fatos, dos dados, das condiçõesque<br />

tornam possível a verificação <strong>de</strong> uma<br />

verda<strong>de</strong> qualquer, pois a verda<strong>de</strong> só é verda<strong>de</strong><br />

quando verificada como tal, e o único meio <strong>de</strong><br />

verificá-la, se ela se refere a coisas reais, é<br />

confrontá-la com os fatos nos quais essas coisas se<br />

apresentam, por assim dizer, em pessoa.<br />

Ar Reconhecimento do caráter bumanolimitado,<br />

parcial ou imperfeito dos instrumentos <strong>de</strong><br />

que o homem dispõe para verificar e comprovar<br />

a verda<strong>de</strong>, além da aplicação e do uso <strong>de</strong>sses<br />

instrumentos em todos os campos <strong>de</strong> pesquisa<br />

acessíveis ao homem e só neles. Essa é a<br />

característica limitativa ou crítica do E., que é<br />

tradicionalmente associado ao reconhecimento<br />

da limitação das possibilida<strong>de</strong>s humanas, e,<br />

portanto, da restrição da investigação aos limites<br />

impostos por essas possibilida<strong>de</strong>s, ao mesmo<br />

tempo em que é associado à <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

prosseguir as investigações até on<strong>de</strong> tais possibilida<strong>de</strong>s<br />

o permitam e em qualquer campo<br />

que o permitam. Sob esse aspecto, o E. é substancialmente<br />

uma instância cética, que <strong>de</strong> dúvida<br />

geral transformou-se em dúvida organizada e<br />

metódica para experimentar, em todos os<br />

campos, o alcance da verda<strong>de</strong> que o homem<br />

po<strong>de</strong> obter. O E. alija da <strong>filosofia</strong>, e <strong>de</strong> qualquer<br />

pesquisa legítima, os problemas referentes<br />

a coisas que não sejam acessíveis aos<br />

instrumentos <strong>de</strong> que o homem dispõe. Hume<br />

entendia o E. nesse sentido. Don<strong>de</strong> a constante<br />

polêmica do E. mo<strong>de</strong>rno contra a "metafísica",<br />

que é precisamente o campo <strong>de</strong>sses problemas<br />

ou ao menos é assim consi<strong>de</strong>rada pelas correntes<br />

empíricas. Mas no próprio domínio das realida<strong>de</strong>s<br />

acessíveis ao homem, o E. freqüentemente<br />

encontra limites que lhe parecem<br />

intransponíveis, como p. ex. a "substância" <strong>de</strong><br />

que fala Locke ou a "coisa em si" <strong>de</strong> que falam<br />

os empiristas do séc. XVIII e o próprio Kant.<br />

Essas características são típicas do E. mo<strong>de</strong>rno<br />

que se inicia com Locke. Não incluem, como<br />

se vê, nenhuma renúncia ao uso <strong>de</strong> instrumentos<br />

racionais ou lógicos, se a<strong>de</strong>quados às<br />

possibilida<strong>de</strong>s humanas. Não incluem sequer a<br />

renúncia a qualquer tipo <strong>de</strong> generalização, hipótese<br />

ou teorizaçào, em qualquer escala ou<br />

grau, implicando só a exigência <strong>de</strong> que qualquer<br />

generalização, hipótese ou teorizaçào<br />

possa ser posta à prova e, portanto, confirmada<br />

ou refutada. A mais recente forma <strong>de</strong> E., qual<br />

seja, o E. lógico do Círculo <strong>de</strong> Viena (v.) e <strong>de</strong><br />

algumas correntes inglesas e americanas, ajusta-se<br />

às características acima expostas. Com<br />

efeito, "a exigência fundamental do E. lógico é<br />

que qualquer enunciado, para ter sentido, <strong>de</strong>ve<br />

ser <strong>de</strong> certo modo verificado, confirmado ou<br />

submetido à prova" (CARNAP, Testabilíty and<br />

Meaning, em Phil. of Science, 1953, p. 73), e<br />

esse princípio leva a restringir a investigação<br />

apenas ao domínio dos significados lingüísticos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!